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DANÇA
Autor da técnica de improvisação de contato, bailarino se apresenta hoje e amanhã no Sesc Pompéia
Steve Paxton traz o pós-moderno a SP
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Steve Paxton, artista que ajudou
a construir a história da dança
moderna e que desde os anos 60
vem sendo cultuado nos circuitos
nobres das artes, está no Brasil pela primeira vez.
Os dois espetáculos que realiza
hoje e amanhã, no Sesc Pompéia,
junto com Lisa Nelson, igualmente importante, podem desde já ser
considerados um dos principais
acontecimentos artísticos de
2000.
Um dos mentores do movimento pós-modernista que eclodiu
em Nova York nos anos 60, Paxton é autor de uma técnica -a
improvisação de contato (ou
"contact improvisation")- que
entrou definitivamente no repertório dos coreógrafos e bailarinos
contemporâneos.
Apesar de sua expressividade
cênica, Paxton preferiu concentrar sua carreira no ensino e na
pesquisa, atividade que ele parece
assumir como uma natureza
complementar. Por essa razão,
expandiu a técnica de improvisação de contato para horizontes
bem mais amplos.
Exemplo dessa evolução é a
"spine technique" (ou técnica da
coluna vertebral), sobre a qual ele
vai discorre na próxima semana,
em workshops promovidos pelo
Estúdio Nova Dança.
Uma breve introdução sobre a
improvisação de contato está nos
trechos da entrevista de Paxton à
Folha, iniciada por e-mail e finalizada pessoalmente em São Paulo,
na tarde de anteontem. Aos 60
anos, Paxton tem a aparência física de um jovem de 30, somada a
uma simplicidade e uma placidez
que parecem conter uma sabedoria milenar.
Folha - O que o estimulou a
criar a técnica de improvisação
de contato?
Steve Paxton - Nos anos 60 havia um ambiente favorável. Meus
colegas inventavam novas formas
de dança. Eu, particularmente,
concentrava meus estudos em
técnicas de dança e também nas
artes marciais do Japão e China,
aikido e tai chi chuan. Também
me influenciou o fato de viver em
Nova York. Era preciso reagir
contra essa cidade monstro, que
obriga seus cidadãos a se adaptar
a uma vida antinatural, que insulta as possibilidades do corpo.
Folha - Que influências tiveram a ginástica, o aikido e a meditação no desenvolvimento da
improvisação de contato?
Paxton - Em todas essas técnicas é importante saber lidar com a
segurança. Meditação envolve o
corpo em quietude. Aikido e ginástica envolvem o corpo em movimento, mas em diferentes estilos de movimento.
Ao desenvolver a improvisação
de contato, foi necessário ensinar
os alunos a explorar a improvisação como resultado da comunicação por meio do toque. O aspecto
mais óbvio da improvisação é que
é voltada para o interior de cada
pessoa, seus reflexos, gosto, mente e temperamento.
As pessoas precisam explorar
muitos aspectos de si mesmas.
Despertar fisicamente não significa apenas usar o corpo. Significa
aprender a estudar o corpo durante a dança, os esportes ou mesmo quando se está em pé ou caminhando. É preciso aprender a
concentrar a mente, para reter as
sensações do corpo enquanto o
usamos e fazer dele uma fronteira
a ser explorada. Trata-se de um
processo surpreendente. É infinitamente interessante estudar a inter-relação entre o corpo e a mente que estuda o corpo.
Ginástica, aikido e meditação,
junto com dança clássica e moderna, deram-me informações
para criar uma maneira de conduzir a improvisação de contato
no sentido do que poderia se fazer
com segurança e o que deveria ser
evitado.
Folha - Qual a atitude que o
dançarino deve ter com relação
a seu corpo quando pratica a
improvisação de contato?
Paxton - Deve ter uma concentração forte, clara e consistente
sobre as sensações físicas de seu
próprio corpo e aquelas que capta
de seu parceiro, por meio da comunicação do toque e do peso.
Folha - Você pode explicar as
bases técnicas da improvisação
de contato?
Paxton - Durante a prática, é
natural descobrir e desenvolver
mais habilidades. Os exercícios
que ensinamos para iniciantes
são exemplos que muitas vezes
surgem no ato da improvisação,
quando se toca o parceiro. Para
desenvolver a mais completa concentração física, as "meditações"
envolvem respiração, permanência em pé e vários modelos físicos
sobre partes do corpo.
Talvez seja importante dizer
quais são as bases técnicas que
não devem ser usadas. O aluno
não deve tentar copiar o professor
ou lutar com o exercício sugerido
e ver o que acontece. Nem tentar
conseguir possibilidades muito
ativas ou difíceis até estarem
prontos para fazê-las. Isso exige
que cada aluno estude seu próprio corpo, não somente os corpos de seu professor ou dos outros estudantes. Desenvolver força e flexibilidade exige tempo e
prática. Em resumo, improvisação de contato não é uma técnica
a ser adquirida, mas um processo
de descoberta de um potencial
ainda não utilizado.
Por exemplo: quando um bebê
começa a emitir sons, percebe-se
que ele tem a possibilidade de
produzir todos os sons humanos.
Quando ele começa a falar, alguns
sons não são necessários para sua
nova linguagem, e então ele deixa
de usá-los. Linguagem, então, torna-se um limite da mente, em culturas particulares que usam som
para comunicação.
Com o movimento é a mesma
coisa. Cada cultura tem "regras"
de movimento. Em culturas com
forte interação com o ambiente
natural, o corpo aprende a se limitar até o estágio em que se torna
totalmente dependente da cultura
para sobreviver. Quando isso
acontece, o corpo deixa escapar a
habilidade de sobreviver na natureza. Com isso, eu não quero dizer
que poderíamos sobreviver se repentinamente fôssemos deslocados para um deserto, por exemplo. Na verdade, coloco questões
mais simples, como: você tem
uma relação saudável com a gravidade? A natureza começa no
corpo.
Espetáculos: Some English Suites, Dodo
e PA RT
Com: Steve Paxton e Lisa Nelson
Quando: hoje, às 21 h, e amanhã, às 18h
Onde: teatro do Sesc Pompéia (r. Clélia,
93, tel. 3871-7700)
Quanto: R$ 10 e R$ 5
Workshops: Material para a Coluna,
com Steve Paxton; Composição,
Improvisação e o Sentido da Imaginação,
com Lisa Nelson
Quando: de 31/01 a 4/02; às 10h (Steve
Paxton) e às 16h (Lisa Nelson)
Onde: Estúdio Nova Dança (r. Treze de
Maio, 240, 2º andar, tel. 259-7580)
Quanto: R$ 300 e R$ 180
O quê: Fórum de Debates e Performance
Quando: 5/02, às 15h e 21h
Onde: Estúdio Nova Dança
Quanto: R$ 5 e R$ 10
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