São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2010

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Vik Muniz recria o verso de telas clássicas em SP

Artista reproduz parte de trás do "Abaporu", de Tarsila, e outros quadros

Exposição em galeria mostra um "realismo vivo, esquisito" e que traduz um pouco da intimidade do criador

Divulgação
Réplica do verso de "São Paulo", de Tarsila do Amaral, com nome da artista escrito errado

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Vik Muniz conheceu arte pelo lado de trás. Na primeira vez que pisou num museu, o Masp ainda tinha os cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi, e ele passou mais tempo olhando para o verso dos quadros do que para as telas.
Já em Nova York, pintava batalhas navais sob pseudônimo afrancesado para vender numa loja de decoração. Também esticava as telas de artistas desconhecidos nas molduras encomendadas.
Ele fez fama e fortuna nos últimos 20 anos com um processo inverso, longe da pintura, construindo e fotografando imagens clássicas plasmadas pelos grandes mestres com tinta sobre tela a partir de entulho, diamantes, chocolate, confetes e açúcar.
Na série que mostra agora na Fortes Vilaça, Muniz volta às origens. Não fotografa nada. Recria, em formato de escultura, o verso de grandes quadros da história da arte. São telas que, pelo nome, já evocam sua imagem mental.
"Mexer com o mecanismo, o suporte da imagem, já era uma coisa que eu fazia em fotografia", diz Muniz. "Nesse caso, é algo doido, um "trompe l'oeil" tridimensional."
Ou seja, algo que engana a vista por ser real demais. Se na obra do artista a fotografia virou ferramenta de ilusão total, sua abolição representa nessa série um retorno à realidade, indícios copiados à perfeição, desprendidos de seu referente fotográfico.
"Na parte de trás do quadro, tem um pouco da intimidade do artista, uma coisa quente", resume Muniz. "É um realismo esquisito, vivo, com esse lado físico do suor."
E também das lágrimas e do fetiche. Ele conta que a restauradora de um museu chorou ao ver a réplica do verso de uma tela de tão exata que era sua reprodução.
É uma visão dos bastidores das grandes obras. A parte de trás do "Abaporu" mostra quem foram seus donos e tem a indicação de uma falha no canto direito. No verso de "São Paulo", o moldureiro errou ao grafar seu nome -ali um estranho "Tarcila".
É nesse ponto que o "trompe l'oeil" de Vik Muniz traz à tona a mais imperfeita e bela das realidades possíveis.

VIK MUNIZ
QUANDO abre hoje, às 19h; ter. a sex., 10h às 19h; sáb., 10h às 17h
ONDE Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066)
QUANTO grátis


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