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São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2003

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27ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP

"Anti-Herói Americano" e "Rio de Jano" apostam em visões particulares de artistas de quadrinhos sobre a paisagem cotidiana

"Anônimos" saltam dos gibis para o cinema

Divulgação
Ao fundo, o ator Paul Giamatti, como Harvey Pekar, em "Anti-Herói Americano', exibido hoje


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Referir-se a "Anti-Herói Americano" e "Rio de Jano" como "os dois filmes de HQ" que vieram à 27ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é por demais simplista, secundário até.
"Anti-Herói Americano" teve o mérito de, sem muito esforço de divulgação e sem se apoiar em um personagem rentável da Marvel Comics, por exemplo, haver recebido o grande prêmio do júri do último Festival de Sundance.
Isso apoiando-se no mote "a vida de um sujeito comum é algo bastante complexo".
"Rio de Jano" não foge muito a essa mesma linha. Escolhe acompanhar de perto a passagem do cartunista underground francês Jano pelo Rio de Janeiro, em 2000.
Familiar, talvez, para alguns poucos colecionadores de gibis da década de 80, Jano passeia despercebido pelas ruas do Rio, tirando fotos e fazendo anotações -os únicos que reconhecem o cartunista são um turista iraniano radicado na Suíça e uma senhora do morro de São Carlos que havia assistido a uma reportagem do "Fantástico" sobre Jano.
Mais do que quadrinhos propriamente ditos, portanto, "Rio de Jano" reproduz o olhar curioso do artista sobre o povo e o modo de vida dos cariocas, da cervejinha na mesa de bar ao assédio das prostitutas na praia de Copacabana, da urbanização irregular dos famosos arcos da Lapa a um Pão de Açúcar poluído e nem tão "maravilhoso" quanto o fizeram crer tantos gringos que por aqui passaram em séculos anteriores.
Um olhar sincero, bem-humorado e, como sempre nos trabalhos do cartunista, animizado.
"Anti-Herói Americano" -tradução duvidosa do original "American Splendor"- também é um mergulho no cotidiano. Não no de uma cidade, mas na vida de Harvey Pekar, arquivista de um hospital de Cleveland, EUA, que resolveu transformar a sua própria história, banal, em um roteiro de HQs. Para tanto, teve a ajuda inicial do ídolo e vizinho Robert Crumb, expoente do underground americano e criador do célebre "Fritz, the Cat".
Sucesso absoluto, o gibi "American Splendor" tornou-se a própria vida do excêntrico Pekar e registrou não só os sucessos, como o casamento com uma fã, mas também a descoberta de um câncer, a adoção de uma filha e a incorporação pela mídia americana do "fenômeno Harvey Pekar", que virou peça de teatro e convidado vip de David Letterman.
Misturando atores, animações e os próprios "originais" de "American Splendor", como Pekar, que narra toda a história, "Anti-Herói Americano" não é HQ, documentário ou ficção. É a vida de todos nós passando nas telas do cinema.


Anti-Herói Americano   
Produção: EUA, 2002
Direção: Shari Springer Berman e Robert Pulcini
Quando: hoje, às 22h, na Sala UOL

Rio de Jano   
Produção: Brasil, 2003
Direção: Anna Azevedo, Eduardo Souza Lima e Renata Baldi
Quando: hoje, às 16h20, na Sala UOL



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