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27ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP
"Anti-Herói Americano" e "Rio de Jano" apostam em visões particulares de artistas de quadrinhos sobre a paisagem cotidiana
"Anônimos" saltam dos gibis para o cinema
Divulgação
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Ao fundo, o ator Paul Giamatti, como Harvey Pekar, em "Anti-Herói Americano', exibido hoje |
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Referir-se a "Anti-Herói
Americano" e "Rio de Jano"
como "os dois filmes de HQ" que
vieram à 27ª Mostra Internacional
de Cinema de São Paulo é por demais simplista, secundário até.
"Anti-Herói Americano" teve o
mérito de, sem muito esforço de
divulgação e sem se apoiar em um
personagem rentável da Marvel
Comics, por exemplo, haver recebido o grande prêmio do júri do
último Festival de Sundance.
Isso apoiando-se no mote "a vida de um sujeito comum é algo
bastante complexo".
"Rio de Jano" não foge muito a
essa mesma linha. Escolhe acompanhar de perto a passagem do
cartunista underground francês
Jano pelo Rio de Janeiro, em 2000.
Familiar, talvez, para alguns
poucos colecionadores de gibis da
década de 80, Jano passeia despercebido pelas ruas do Rio, tirando fotos e fazendo anotações
-os únicos que reconhecem o
cartunista são um turista iraniano
radicado na Suíça e uma senhora
do morro de São Carlos que havia
assistido a uma reportagem do
"Fantástico" sobre Jano.
Mais do que quadrinhos propriamente ditos, portanto, "Rio
de Jano" reproduz o olhar curioso
do artista sobre o povo e o modo
de vida dos cariocas, da cervejinha na mesa de bar ao assédio das
prostitutas na praia de Copacabana, da urbanização irregular dos
famosos arcos da Lapa a um Pão
de Açúcar poluído e nem tão
"maravilhoso" quanto o fizeram
crer tantos gringos que por aqui
passaram em séculos anteriores.
Um olhar sincero, bem-humorado e, como sempre nos trabalhos do cartunista, animizado.
"Anti-Herói Americano" -tradução duvidosa do original
"American Splendor"- também
é um mergulho no cotidiano. Não
no de uma cidade, mas na vida de
Harvey Pekar, arquivista de um
hospital de Cleveland, EUA, que
resolveu transformar a sua própria história, banal, em um roteiro de HQs. Para tanto, teve a ajuda
inicial do ídolo e vizinho Robert
Crumb, expoente do underground americano e criador do
célebre "Fritz, the Cat".
Sucesso absoluto, o gibi "American Splendor" tornou-se a própria vida do excêntrico Pekar e registrou não só os sucessos, como
o casamento com uma fã, mas
também a descoberta de um câncer, a adoção de uma filha e a incorporação pela mídia americana
do "fenômeno Harvey Pekar",
que virou peça de teatro e convidado vip de David Letterman.
Misturando atores, animações e
os próprios "originais" de "American Splendor", como Pekar, que
narra toda a história, "Anti-Herói
Americano" não é HQ, documentário ou ficção. É a vida de todos
nós passando nas telas do cinema.
Anti-Herói Americano
Produção: EUA, 2002
Direção: Shari Springer Berman e Robert Pulcini
Quando: hoje, às 22h, na Sala UOL
Rio de Jano
Produção: Brasil, 2003
Direção: Anna Azevedo, Eduardo Souza
Lima e Renata Baldi
Quando: hoje, às 16h20, na Sala UOL
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