TEREZA NOVAES
DO GUIA DA FOLHA

As lajes de concreto projetadas por Paulo Mendes da Rocha para o Museu Brasileiro de Escultura são o ponto de partida das pintu­ ras que Marco Giannotti, 37, exibe a partir de hoje na galeria Virgílio.
A influência da arquitetura no trabalho de Giannotti não é re­ cente, sua primeira grande expo­ sição, "Fachadas", em 93 no Masp, já tratava do tema. "De cer­ ta forma, desde as cavernas a ar­ quitetura e a pintura estiveram li­ gadas. Procuro resgatar a idéia de lugar, de espaço feito pela cor."
São dez telas, seis de grandes di­ mensões, nas quais o artista cria perspectivas explorando relações cromáticas criadas pela opacida­ de da têmpera e pela transparên­ cia da tinta a óleo.
Nessas obras, percebe-se ainda a presença da luz, em tênues fai­ xas de cor. São frestas que, nas pinturas, se transformam em "rasgos amarelos".
Como contraponto, ele apre­ senta dez desenhos de tamanho menor em têmpera sobre papel. "Os trabalhos pequenos me fa­ zem pensar em escala e possibili­ tam uma luminosidade diferen­ te", diz.
O artista identifica ainda um resgate da tradição pictórica bra­ sileira em seu trabalho. E há evi­ dências da presença de Volpi, dos becos de Goeldi, da luz que salta das telas de Iberê Camargo e da composição geométrica de Mil­ ton Dacosta. "A tradição era um peso, mas agora não mais. É um diálogo sem nostalgia. São as ana­ logias, o rebatimento no trabalho dos outros", reflete o artista.
O térreo da galeria está ocupado pelo paraense Marcone Moreira, que participa do Panorama, em cartaz no MAM. São assemblages realizadas com madeira retirada de barcos, caminhões e casas.