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"A VOLTA DO FILHO PRÓDIGO/OS HUMILHADOS"
Casal filma humilhações da história
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE DOMINGO
A música de Varèse troveja
nas caixas acústicas da sala
de cinema enquanto a tela exibe
um branco total. É um prenúncio.
Está chegando um tempo de
guerra. A modernidade vai explodir a utopia. É o início de "A Volta
do Filho Pródigo", espécie de segundo ato de "Operários, Camponeses", o filme anterior de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet.
Um "terceiro ato" ainda terá lugar. Trata-se de "Os Humilhados", clímax e epílogo da trilogia.
"A Volta do Filho Pródigo/Os
Humilhados" são exibidos um
depois do outro e estão relacionados a "Operários, Camponeses"
-todos eles baseados no livro
"As Mulheres de Messina", de
Elio Vittorini (1908-1966).
"Operários, Camponeses" mostrava a formação de uma comunidade de camponeses na Itália,
num vilarejo, em 1944. Em "A
Volta...", os personagens retornam para falar de sua relação com
a terra e atualizar a experiência
comunitária para o espectador.
Em "Os Humilhados", recebem a
visita de partisans armados, que
vão tentar convencê-los a abandonar o local e tomar lugar na Itália que se reconstrói e se moderniza no final da Segunda Guerra.
Em "Os Humilhados", o cinema
materialista e dialético dos Straub
atinge sua excelência. As falas ricocheteiam umas nas outras, os
camponeses defendendo sua autonomia, os partisans os convocando em nome do progresso, todos estáticos, num bosque indiferente à luta entre mito e história.
A cena final mostrará a resignação dos camponeses (humilhados) e a perseverança de sua resistência. O plano único dura menos
de um minuto, mas levou um dia
para ser filmado. É um réquiem
minimalista, súmula maravilhosa
da poesia política dos Straub.
A Volta do Filho Pródigo/Os Humilhados
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