CARLOS CALADO
especial para a Folha

Uma verdadeira lenda viva da música popular brasileira desembarca em São Paulo. Dom Um Romão, 72, comanda um workshop essencial para qualquer profissional ou estudante de bateria.
"Fazer workshops na Europa é legal, mas aqui acho que vou ficar nervoso", confessa o baterista carioca, que deixou o Brasil em 1965. Atualmente, mora na Suíça.
Quem conhece a bossa sabe que as baquetas de Dom Um Romão marcaram esse movimento musical antes mesmo de seu nascimento oficial, no final dos anos 50.
Ele participou até do pioneiro álbum "Canção de Amor Demais", de Elizeth Cardoso, que preconizou a bossa nova, em 58.
No entanto, sete anos depois ele deixou o país. "A música aqui já não estava me agradando mais e eu queria ficar famoso. No Brasil, eu não teria essa chance", admite.
Além do álbum que Jobim e Sinatra fizeram juntos, sua extensa discografia inclui gravações ao lado de feras do jazz.
Sem falar nos quatro discos que gravou nos anos 70, com a banda de jazz-rock Weather Report, um dos trabalhos de que mais gosta.
"Mysterious Traveller", faixa-título de um desses álbuns, fará parte do CD que Dom Um está gravando no Rio, uma panorâmica de sua carreira. "A gente quer aproveitar a acolhida do mercado de acid jazz para a minha música."
Apesar de ter gravado uma faixa que mistura "jungle" com ritmos de samba -"Jungle Carnival"-, Dom Um demonstra não ser exatamente um fã do gênero. "Não gosto de música pop toda programada. Esse negócio de bate-estaca é horrível para dançar."
O neo-pagode e a axé music também não agradam a ele. "Levei um susto com a porcariada que toca nas rádios. Dizem que é pagode, mas para mim pagode é outra coisa. Dizem que é música baiana, mas para mim é reggae. Não estou entendendo nada."
Quanto ao roteiro do workshop de hoje, o mestre é lacônico. "Quero mostrar a evolução da maneira de tocar samba na bateria. O resto vou criar na hora."

Workshop: Dom Um Romão Onde: teatro da Cultura Inglesa (r. Dep. Lacerda Franco, 333, tel. 3039-0553) Quando: hoje, às 14h


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