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INTERVENÇÃO URBANA
Evento nas indústrias Matarazzo, no Moinho Central e na estação da Luz termina amanhã
Arte/Cidade encerra laboratório urbano
MARA GAMA
Gerente-geral de criação do Universo Online
Amanhã, depois que se fecharem
os portões que dão acesso ao Arte/Cidade 3, grande parte das
obras vai se integrar às ruínas (ou
se desintegrar com elas). Pelo menos uma delas vai emigrar -o Farol, de Regina Meyer, deve ser inserido próximo à Luz. Mas talvez
nenhuma das intervenções tenha
se comprometido tanto com o local como a de Nelson Felix.
As lajes recortadas e penduradas
por cabos de aço nos intervalos
dos andares do Moinho Central
são praticamente intocáveis. Não
podem ser agregadas de novo aos
andares de onde foram destacadas
e nem depositadas nos andares
mais baixos, sob risco de abalo das
estruturas. "Essa é a prova de que
o Arte/Cidade serviu mais para
criar tensão do que para aplacar, o
que me parece bem interessante",
diz o curador do evento, o filósofo
Nelson Brissac Peixoto.
O intervalo hiperexposto da obra
de Felix espelha a situação do próprio Moinho. Diferente das indústrias Matarazzo, cujo terreno vai
abrigar prédios de escritórios, a
área do Moinho é terra devoluta,
administrada pela rede ferroviária.
O acesso só se dá por via férrea. Para ser reaproveitado ou restaurado, ele exige soluções urbanas que
extrapolam seu tamanho.
"Poderia ser um abrigo popular,
ou um conjunto de ateliês, muitas
coisas. Mas o Moinho também está
suspenso. Ninguém sabe o que vai
acontecer", diz Brissac.
Essa "suspensão" de que fala o
curador e que se materializa na
obra de Felix permeou a maior
parte dos trabalhos de arquitetos e
artistas que exploraram as ruínas
do ponto de vista urbano, fazendo
do evento um grande laboratório.
"Acho que esta edição do Arte/Cidade é uma espécie de brecha no
tempo. É um testemunho do processo de transformação de uma cidade industrial para uma cidade
terciária, de serviços", diz a arquiteta Regina Meyer.
"Aterramos e demos nova forma a 2 mil metros cúbicos de terra
e com isso criamos um espaço que
não é nada, mas proporciona a visão desta área da cidade. É uma
área em suspensão", diz o arquiteto Fernando de Melo Franco, 33.
"O que o trabalho mostra é a necessidade de criar uma nova geografia em São Paulo. Uma nova
paisagem, que não será nem monumental e nem naturalista. Será
resultado de uma infra-estrutura
urbana", afirma Milton Braga, 34,
parceiro de Melo Franco no aterro
que fica nas indústrias Matarazzo.
"Os trilhos dos trens são instrumentos de estruturação de uma cidade e, portanto, uma arquitetura
também. Com o elevador que ergui, quis chamar a atenção para a
rede de circulação vertical urbana
e fazer pensar sobre a cidade contemporânea", diz o arquiteto
Paulo Mendes da Rocha.
Foi também para fazer pensar
sobre a cidade, por meio da experiência das ruínas, que a equipe de
arquitetos e engenheiros chefiados
pela arquiteta Marta Bogéa trabalhou nas obras de adequação dos
espaços do Arte/Cidade 3. Com
elementos discretos, criando uma
segunda pele que garantisse segurança sobre escombros, o projeto
desvendou o ambiente hostil sem
domesticá-lo, sem travesti-lo de
museu ou galeria.
"Muita gente me pergunta qual
é o resultado do Arte/Cidade. Digo
que é criar um momento de reflexão crítica sobre a transformação
da cidade", diz Regina Meyer.
Evento: Arte/Cidade 3
Onde: estação da Luz, Moinho Central e
indústrias Matarazzo (av. Francisco
Matarazzo, 1.096, São Paulo)
Quando: das 12h às 21h; até amanhã
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