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ARTES PLÁSTICAS
Artista usa técnica japonesa para jogo entre eterno e efêmero
Mitsunashi carboniza o mundo
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Nabuo Mitsunashi chega ao Instituto Tomie Ohtake com a roupa
cheia de manchas pretas e as
mãos sujas de carvão. Não fala inglês nem português, mas, sorridente, apresenta os novos elementos que acaba de trazer para a
montagem de "Hanazumi", exposição que inaugura hoje.
Desde que aterrizou no Brasil há
50 dias, o artista japonês tem trabalhado incessantemente, usando
o forno de uma amiga ceramista
para produzir seus inusitados
"objetos" -flores, frutas e vegetais, carbonizados através da centenária técnica japonesa que dá
nome à exposição (o hanazumi
surgiu como modo de carbonizar
flores para serem apreciadas na
cerimônia do chá).
Apenas pelo cheiro e cor da fumaça, o artista sabe a hora de
abrir o forno e tirar os objetos antes de que virem cinzas. Da defumação (sem entrada de oxigênio)
a 400 ºC, os alimentos saem sem
água, com tamanho reduzido e
muito leves. O resultado deixa os
espectadores confusos e fascinados: os frutos ali apresentados já
não estão vivos, mas a forma está
tão intacta e a cor preta lhes confere tanta beleza (uma beleza fúnebre), que é impossível dizer que
estão propriamente mortos. Moram numa espécie de estágio intermediário de nossa imaginação.
Como foi "produzida" no Brasil, a exposição exibe alimentos familiares como a pimenta dedo-de-moça ou uma suntuosa jaca.
Sim, todos estão empretecidos
pelo processo, mas aparecem ordenados com tamanha precaução
estética e delicadeza que fazem
lembrar os arranjos dos jardins
japoneses. Algumas das folhas
carbonizadas foram arrancadas
(com autorização) diretamente
do jardim da artista Tomie Ohtake, de quem Mitsunashi é amigo
há anos.
Mar de rosas
Mas sem dúvida o momento
mais impactante da exibição é a
entrada na "sala das rosas". Ali,
8.000 flores negras estão pregadas
à parede, arranjadas de modo a
deixar extremamente incomodados e/ou deslumbrados os espectadores. Como se não bastasse, o
espanto cresce ao descobrir que
tudo que está ali exposto será
"destruído" (a exposição foi produzida no Brasil e por aqui fica): o
artista parte para o Japão, mas
deixa instruções para que os objetos sejam enterrados em jardins
da redondeza. "A matéria assim,
retorna à terra", diz Mitsunashi,
"é a noção de ciclo". Construção/
destruição, eterno/efêmero, vida/
morte são, portanto, antagonismos postos em xeque pela mostra, que é a quarta individual do artista no Brasil.
Hanazumi - Nabuo Mitsunashi
Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a
dom., das 11h às 20h; até 9/10
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria
Lima, 201, Pinheiros, tel. 2245-1900)
Quanto: entrada franca
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