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Percussionista escocesa surda faz solo brasileiro
DA REPORTAGEM LOCAL
A percussionista escocesa
Evelyn Glennie, 39, surda desde
os 12 anos, apresenta-se hoje e sábado com a Osesp (Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo)
como solista de "Radiância", peça
contemporânea do compositor
brasileiro Paulo Chagas, e "Veni,
Veni, Emmanuel", do também
contemporâneo escocês James
MacMillan.
As duas récitas, sob a regência
de John Neschling, também trarão "O Beijo da Fada", música para balé em quatro cenas, escrita
em 1928 por Igor Stravinski.
Glennie é uma personalidade de
perfil raro entre os grandes nomes mundiais da música erudita.
Sua forte presença em cena e
sua agitada agenda pessoal -em
média uma apresentação a cada
três dias e mais atividades filantrópicas e didáticas- deram a ela
uma projeção que normalmente
beneficia apenas violinistas, pianistas ou intérpretes de instrumentos com capacidade de harmonização mais reconhecida pelo
grande público.
Na peça de Paulo Chagas seus
instrumentos são sinos tubulares,
tam-tans, pratos, caixas, tamborins, agogôs, triângulo, bongôs,
bateria e bombo.
Na de MacMillan, interpreta
tam-tans, vibrafone, caixas, congas, tom-tons, gongos, sinos de
templo, blocos de madeira, sinos
de vaca, sinos tubulares, marimba, pratos e tambor com pedal.
Vibrações sonoras
A deficiência auditiva da solista
é um "simples detalhe" que implica algumas providências insólitas.
Ela se apresenta descalça para
captar as vibrações do chão e,
muitas vezes, justapõe o instrumento ao ventre para senti-lo de
forma mais íntima. E precisa, para concentrar-se de modo excepcional nas indicações de andamento dadas pelo regente.
Apesar de carreira relativamente recente, iniciada em meados
dos anos 80, Evelyn Glennie traz
um currículo com episódios de
invejável intensidade.
Interpreta cerca de 60 instrumentos de percussão. Já gravou 18
CDs, dois deles premiados com o
Grammy, e já se apresentou em 42
países. Publicou aos 30 anos uma
autobiografia, "Good Vibrations", consumida pelo mercado
como uma espécie de guia para o
exercício da força de vontade de
uma deficiente auditiva.
Compositores dedicaram-lhe
129 peças para o repertório de
percussão. Sua biblioteca pessoal
tem 2.600 partituras para os múltiplos instrumentos que domina.
Há alguns meses, uma entrevista que deu à BBC World mostrou
dela um perfil extrovertido e fascinante. Seu sonho infantil era ser
cabeleireira.
Ela gosta de andar de motocicleta e de brincar de videogame. Entre seus hobbies está colecionar
instrumentos (diz ter 1.800 em casa) e ler. As livrarias são os locais
que ela afirma mais gostar de freqüentar.
Já se apresentou como solista de
praticamente todas as grandes orquestras mundiais -entre as exceções, a Filarmônica de Berlim e
de São Petesburgo. Foi regida por
maestros como Georg Solti, Vladimir Ashkenazy, Luciano Berio e
Christoph von Dohnanyi.
Possui, por fim, 13 títulos honorários dados por importantes universidades européias.
Se currículo do principal intérprete é um indício de grandes espetáculos, a Osesp está diante de
duas récitas verdadeiramente excepcionais.
(JBN)
ORQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO
DE SÃO PAULO. Com John Neschling
(regente) e Evelyn Glennie
(percussionista). Onde: Sala São Paulo
(pça. Júlio Prestes, s/nš, região central,
tel. 3337-5414). Quando: hoje, às 21h, e
sáb., às 16h30. Quanto: de R$ 22 a R$ 70.
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