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"TORMENTO"
Caouette usa vídeo digital para unir cinema e cotidiano
Divulgação
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Cena de "Tormento", filme de Jonathan Caouette, que faz montagem de momentos de sua vida |
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
O que se chama de "revolução digital" é muitas vezes
confundido com aquela idéia propalada pela turma do Dogma 95:
para ser cineasta basta ter uma
pequena câmera de vídeo na mão
e uma boa idéia na cabeça. O cinema, finalmente, não depende do
grande orçamento ou da técnica
perfeita! O que não era, convenhamos, novidade.
A "revolução digital" é um conjunto complexo de fatores, com
conseqüências variadas, mas talvez a mais importante delas seja
uma apontada por Jean-Luc Godard. Com o digital, a imagem
não é mais definida pelo seu negativo. Já não há, portanto, "revelação". Com duplo sentido, por favor. O digital, portanto, se oferece
ao fluxo, ao imediatismo e a uma
exposição que não é ligada a uma
verdade que precisa vir à tona.
É bem possível que "Tormento"
não seja um grande filme, principalmente se você tiver na cabeça o
"cinema" à moda antiga, como
ferramenta de investigação da
verdade do mundo. Mas ele é um
filme que percebe essa nova possibilidade de estabelecer um traço
de união definitivo entre cinema e
vida -e por isso é grande.
A imagem sempre fez parte da
vida de Jonathan Caouette. Ele começou a fazer vídeos caseiros
quando tinha 11 anos. Brincadeira
que acabou acumulando um
amontoado de imagens captadas
em VHS, miniDV, Digital 8 e também em super-8, centradas nele
próprio ou em sua família (principalmente em sua mãe, Renée LeBlanc). Adulto, ele montou essas
imagens somadas ainda a fotografias ou apenas a sons, como
gravações de secretárias eletrônicas, e fez um filme, o filme da sua
vida. Algo assim: possível, acessível, alternando uma melancolia
devastadora (acentuada pela trilha, em que se destaca Nick Drake) a uma alegria transbordante.
"Tormento" não é apenas uma
exposição corajosa, até porque a
exposição é um elemento banal
da "civilização das imagens", disponível em qualquer "reality
show". Também não é um filme
de montagem -mas de edição,
feita diretamente sobre a tela do
computador, o que obedece a
uma lógica completamente diferente. É um filme da era digital.
Tormento
Tarnation
Produção: EUA, 2003
Direção: Jonathan Caouette
Com: Jonathan Caouette, Renée Leblanc
Quando: hoje, às 15h50 (Directv 1); 2/
11, às 17h (Cinesesc)
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