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CANCRO CÍTRICO
Incidência nos primeiros 45 dias de 99 é recorde; 1,1 milhão de pés é erradicado e prejuízo é de US$ 300 mi
Citricultor descuida e doença se alastra
ROBERTO DE OLIVEIRA
da Reportagem Local
Pela primeira vez, o cancro cítrico, que hoje está sendo considerado a pior doença da laranja, atinge
todo o parque citrícola paulista e
ameaça tirar o Brasil da liderança
na produção mundial da fruta.
Ao contrário do amarelinho, outra doença grave, mas passível de
convivência, a árvore contaminada pelo cancro cítrico tem de ser
erradicada juntamente com outras
plantas, num raio de 30 metros.
Na área antes ocupada pelos pés
de laranja não se pode replantar a
fruta durante um período mínimo
de dois anos.
Mas muitos citricultores não estão seguindo essa determinação de
controle. Acabam não comunicando aos órgãos responsáveis pela erradicação o aparecimento do cancro em suas propriedades.
Nos primeiros 45 dias deste ano,
foi registrado 1,5 caso diariamente
de cancro cítrico em pomares do
interior paulista, incidência recorde desde 1992, quando passou a ser
feita estatística sobre a doença.
Daquela época até a primeira
quinzena do mês passado, 1,1 milhão de pés de laranja tiveram de
ser erradicados em todo o parque
citrícola paulista.
Até agora o prejuízo com o cancro cítrico chega a US$ 300 milhões, dinheiro suficiente para
comprar, por exemplo, 12 mil tratores 785 Valtra Valmet.
"Quanto mais o produtor demorar para erradicar as plantas contaminadas, pior para o setor", alerta
Cicero Augusto Massari, gerente
técnico do Fundecitrus (Fundo
Paulista de Defesa da Citricultura).
A Folha apurou que muitos agricultores não destroem as plantas
contaminadas pelo cancro cítrico
para evitar a erradicação de outros
pés no raio de 30 metros, como estabelece a medida fitossanitária.
"O citricultor que não arrancar e
queimar os pés está cavando a sua
própria cova e a do vizinho", diz o
presidente da Abecitrus (Associação Brasileira dos Exportadores de
Cítricos), Ademerval Garcia.
Depois de o produtor noticiar ao
Fundecitrus a ocorrência do problema, técnicos da Secretaria da
Agricultura vão ao local para retirar as plantas contaminadas.
O citricultor não tem nenhum custo com a operação, que é de responsabilidade do Estado.
Na opinião de Valdir Vertuan, presidente da Associtrus
(Associação Brasileira dos
Produtores de Citros), este é
o pior momento da citricultura brasileira para ocorrer a
disseminação da doença.
As condições climáticas (temperaturas elevadas, clima úmido,
com chuvas e vento) nos dois primeiros meses deste ano também
colaboraram para a proliferação
do cancro cítrico.
Agora, intensifica-se a brotação
do pé de laranja, que é suscetível à
contaminação. Como se não bastasse, há ainda a ação da larva minadora do citros, praga que entrou
clandestina no Brasil, em 96. Ela
abre caminhos por onde passa, facilitando a ação da bactéria.
A larva, que se alimenta principalmente de folhas de laranjeiras,
já é encontrada em pomares de todo o parque citrícola paulista.
No início do próximo mês de
maio, a Abecitrus deverá informar
a previsão da próxima safra de laranja, temporada 99/2000.
Por enquanto, a entidade não
acredita que o cancro cítrico irá
surtir efeito na redução dessa colheita, mas, sim, na próxima.
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