São Paulo, Terça-feira, 02 de Março de 1999
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CANCRO CÍTRICO
Incidência nos primeiros 45 dias de 99 é recorde; 1,1 milhão de pés é erradicado e prejuízo é de US$ 300 mi
Citricultor descuida e doença se alastra

ROBERTO DE OLIVEIRA
da Reportagem Local

Pela primeira vez, o cancro cítrico, que hoje está sendo considerado a pior doença da laranja, atinge todo o parque citrícola paulista e ameaça tirar o Brasil da liderança na produção mundial da fruta.
Ao contrário do amarelinho, outra doença grave, mas passível de convivência, a árvore contaminada pelo cancro cítrico tem de ser erradicada juntamente com outras plantas, num raio de 30 metros.
Na área antes ocupada pelos pés de laranja não se pode replantar a fruta durante um período mínimo de dois anos.
Mas muitos citricultores não estão seguindo essa determinação de controle. Acabam não comunicando aos órgãos responsáveis pela erradicação o aparecimento do cancro em suas propriedades.
Nos primeiros 45 dias deste ano, foi registrado 1,5 caso diariamente de cancro cítrico em pomares do interior paulista, incidência recorde desde 1992, quando passou a ser feita estatística sobre a doença.
Daquela época até a primeira quinzena do mês passado, 1,1 milhão de pés de laranja tiveram de ser erradicados em todo o parque citrícola paulista.
Até agora o prejuízo com o cancro cítrico chega a US$ 300 milhões, dinheiro suficiente para comprar, por exemplo, 12 mil tratores 785 Valtra Valmet.
"Quanto mais o produtor demorar para erradicar as plantas contaminadas, pior para o setor", alerta Cicero Augusto Massari, gerente técnico do Fundecitrus (Fundo Paulista de Defesa da Citricultura).
A Folha apurou que muitos agricultores não destroem as plantas contaminadas pelo cancro cítrico para evitar a erradicação de outros pés no raio de 30 metros, como estabelece a medida fitossanitária.
"O citricultor que não arrancar e queimar os pés está cavando a sua própria cova e a do vizinho", diz o presidente da Abecitrus (Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos), Ademerval Garcia.
Depois de o produtor noticiar ao Fundecitrus a ocorrência do problema, técnicos da Secretaria da Agricultura vão ao local para retirar as plantas contaminadas.
O citricultor não tem nenhum custo com a operação, que é de responsabilidade do Estado.
Na opinião de Valdir Vertuan, presidente da Associtrus (Associação Brasileira dos Produtores de Citros), este é o pior momento da citricultura brasileira para ocorrer a disseminação da doença.
As condições climáticas (temperaturas elevadas, clima úmido, com chuvas e vento) nos dois primeiros meses deste ano também colaboraram para a proliferação do cancro cítrico.
Agora, intensifica-se a brotação do pé de laranja, que é suscetível à contaminação. Como se não bastasse, há ainda a ação da larva minadora do citros, praga que entrou clandestina no Brasil, em 96. Ela abre caminhos por onde passa, facilitando a ação da bactéria.
A larva, que se alimenta principalmente de folhas de laranjeiras, já é encontrada em pomares de todo o parque citrícola paulista.
No início do próximo mês de maio, a Abecitrus deverá informar a previsão da próxima safra de laranja, temporada 99/2000.
Por enquanto, a entidade não acredita que o cancro cítrico irá surtir efeito na redução dessa colheita, mas, sim, na próxima.


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