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OPINIÃO
O que devemos saber sobre o escargot
PEDRO PACHECO
MARIA DE FÁTIMA MARTINS
A pesquisa com escargot na
USP (Universidade de São Paulo)
começou em 1994, com a criação
do Heliciário Experimental, no
então Departamento de Produção
Animal da FMVZ (Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia), situado no campus de Pirassununga, interior paulista.
O objetivo do Heliciário Experimental é desenvolver pesquisa em
nutrição, manejo, reprodução, seleção de matrizes altamente produtivas e produtos para uso farmacológico.
A escolha de uma espécie africana, a achatina fulica, foi em função
da rusticidade, da prolificidade e
da precocidade para o clima tropical do país.
Ele pode ser abatido entre 70 e 90
dias. Quando abatido jovem, sua
carne pode muitas vezes apresentar características superiores às espécies européias, como constatado por pesquisadores ingleses.
As pesquisas desenvolvidas na
USP propiciaram a obtenção de
formulações que geram elevado
ganho de peso. Para cada quilo de
ração consumido temos um quilo
de escargot.
Outra descoberta importante: a
densidade de animais é, depois da
alimentação, um dos fatores mais
relevantes para o ganho de peso.
Igualmente importante é o emprego de terra no piso dos criatórios,
que pode propiciar ganho de peso
até 30% superior aqueles sem terra, além de antecipar o período reprodutivo.
Outra espécie se encontra em estudo. É a achatina monocromática, cuja concha e a carne são totalmente brancas.
A França possui legislação para o
abate de achatina fulica desde
1957. Temos informações de que
na década de 80 a carne dessa espécie representava 26% do mercado
francês de carne de escargot.
Na Europa e na Ásia, a espécie é
alimento dos camponeses. Em Gana, na África, é a proteína mais
consumida pela população. Na Indonésia, é empregada na ração de
frangos de corte, em substituição à
farinha de peixe.
A Itália possui 6.600 fazendas
profissionais de escargot, mantidas em parques ao ar livre.
Países como a Grécia, a Polônia e
a Turquia coletam toneladas de escargot para exportação.
Os países africanos recebem
apoio da FAO (Organização das
Nações Unidas para a Agricultura
e Alimentação) para o desenvolvimento de criações em parques
com piso de terra.
Na França, a criação de escargot
é dividida em diferentes etapas.
Somente na fase de reprodução os
animais ficam em piso limpo. Isso
facilita a coleta de ovos. Durante o
resto de suas vidas, os escargots
são criados em parques com piso
de terra.
Ficamos estarrecidos com a afirmação divulgada pela imprensa de
que "o escargot criado com minhocas e solo pode propiciar a
contaminação por botulismo".
O professor de microbiologia da
USP Rogério Lacaz comentou que
"desconhece qualquer relato da
comunidade científica que relacione criação de escargot com botulismo".
Ele aproveitou a oportunidade
para ressaltar que precisamos buscar respaldo nas pesquisas e nos
fatos, antes de comentá-los nos
grandes meios de comunicação.
Dessa forma, diz o professor,
evitaríamos os prejuízos por parte
daqueles que buscam trabalhar seriamente e com competência.
Não menos surpresos ficamos
com afirmações a respeito de um
"novo método de criação em caixas plásticas sem terra".
As pessoas que fazem tais afirmações estão desinformadas, pois
criações em caixas não são viáveis
para grandes produções, muito
menos em piso sem terra, pois demandam muita mão-de-obra.
Caixas plásticas se prestam somente para pesquisas de curto período de tempo.
O método não funciona para
criações comerciais, que têm por
objetivo grandes produções.
Também temos conhecimento
de "invenções" de instalações totalmente absurdas, que não levam
em consideração a biologia dos
animais ou fatores econômicos.
Existem ainda os pseudocriadores que orientam outros na construção de parques azulejados, ou
de caixas de fibra de vidro com
controle de temperatura.
Além de absurdo, é desnecessário, pois eleva os custos das instalações e do produto final.
O mercado mundial para a carne
de escargot se mostra extremamente promissor.
Acreditamos que o principal
concorrente para o Brasil sejam os
franceses, que são os maiores consumidores, compradores e vendedores de escargot.
O produto para o mercado externo deve ser enlatado, pois congelado conseguiria um valor menor.
Além disso, os valores de frete
aéreo são elevados, o que inviabilizaria a criação.
Pedro Pacheco, 40, engenheiro florestal, é pesquisador da FMVZ da USP de Pirassununga (SP).
Maria de Fátima Martins, 38, veterinária, pesquisadora da FMVZ da USP de Pirassununga.
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