São Paulo, terça-feira, 07 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO

A inseminação e o peso econômico da sanidade animal

DONÁRIO LOPES DE ALMEIDA

O CAUDALOSO noticiário sobre os problemas relativos à sanidade animal nos países do Mercosul e na Europa- sobretudo quanto à febre aftosa e, antes, quanto ao mal da vaca louca- no continente europeu revelou ao público leigo o que na intimidade do setor sempre se soube: a importância econômica da pecuária.
O assunto abriu espaço em toda a mídia. Diários prestigiosos, como "Financial Times" e "The Times", estamparam o assunto em suas primeiras páginas.
O sacrifício de rebanhos inteiros causou comoção nacional. No Brasil, o fenômeno se repetiu, também não por acaso. Em tempos de balança comercial ainda cambaleante, o país tem potencial para atingir US$ 1 bilhão em exportações de carne.
Sem esquecer o expressivo mercado nacional que tem potencial para um crescimento gigantesco na meta de continuar embarcando carne para consumidores cada vez mais preocupados com segurança alimentar, a inseminação artificial tem uma grande contribuição a oferecer.
A produção de doses de sêmen em centrais habilitadas tecnicamente, com reconhecimento dos órgãos oficiais responsáveis pela fiscalização sanitária, previne a transmissão não só da febre aftosa e do mal da vaca louca mas também de outras doenças que causam terríveis prejuízos.
Muitas vezes os touros em monta natural servem como vetores de doenças como a leptospirose, a brucelose, a tuberculose, a tricomonose e outras zoonoses.
O benefício da inseminação artificial não se esgota por aí na contenção de doenças consideradas de primeira ou segunda linha, mas que, independentemente da classificação, representam riscos ao consumidor e ao próprio desenvolvimento da pecuária.
Agregada à produção sanitária controlada, a inseminação artificial oferece melhoramento do rebanho geral pelo uso da genética de touros superiores. Esse melhoramento, por sua vez, reverte em mais carne por hectare e em mais leite por vaca em ordenha.
Essa dupla vantagem- controle sanitário e aumento de produção proveniente de genética superior- deve expandir a utilização das técnicas artificiais de reprodução.
Tanto no gado de corte como nos rebanhos leiteiros, os melhoradores de ponta é que estão sendo utilizados, e não o chamado "boi de bola", que vai padrear rebanhos afastados de programas consistentes de seleção e aprimoramento. A questão é tornar acessível ao pecuarista a opção de animais mais apropriados.
Na monta natural, em geral não são computados custos relativos a despesas com pessoal, acidentes com reprodutores, conserto e manutenção de cercas, perdas de bezerras e novilhas por dificuldade no parto, além da já mencionada contaminação por doença da reprodução e riscos de redução de produção em decorrência do uso de reprodutores não-selecionados, sem prova genética.
Com a inseminação artificial, por sua vez, há a eliminação de mortes no parto e de acidentes com touros e a possibilidade de maximizar o acasalamento genético, utilizando o touro certo para cada fêmea ou grupo de fêmeas, tanto de corte quanto de leite.
Embora seja difícil mensurar os custos dos dois métodos de reprodução em virtude das peculiaridades de cada fazenda em relação ao estágio tecnológico, a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) realizou uma comparação entre os custos efetivos da inseminação artificial em relação à monta natural.
O estudo constatou que o uso de reprodutores num rebanho demanda investimento inicial ligeiramente menor do que o necessário para implantar a inseminação artificial. Ocorre que o melhoramento genético proporcionado pela utilização da técnica causa impacto tão favorável nas contas da fazenda que, levando em conta o período de um ano, o custo por prenhez obtida por técnicas artificiais fica abaixo do registrado na monta natural. Com o tempo, essa vantagem se acentua devido à necessidade de reposição de touros. No ano passado o comércio de sêmen de empresas certificadas pelo Ministério da Agricultura atingiu 5,769 milhões de doses.


Donário Lopes de Almeida é presidente da (Asbia) Associação Brasileira de Inseminação Artificial e diretor da ABS Pecplan



Texto Anterior: Carne: Dia de campo vai avaliar criação de javali no Brasil
Próximo Texto: Radar: Estiagem se agrava em São Paulo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.