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BIOTECNOLOGIA
Empresa gera desconfiança ao dar prêmio à soja convencional
Agricultor dos EUA já tem dúvida sobre transgênicos
MARCELO LEITE
enviado especial a Londrina (PR)
Seria exagero dizer que o primeiro Congresso Brasileiro de Soja,
encerrado quinta-feira em Londrina, ficou dividido entre vantagens
e desvantagens das variedades
transgênicas. Agricultores e agrônomos em geral estão a favor.
Isso não impede que tenham dúvidas, em particular sobre o comportamento do mercado. Nos
EUA, por exemplo, já surgem alguns problemas e desconfiança,
como alertou Emerson Nafziger,
48, professor de produção agrícola
da Universidade de Illinois.
Há duas semanas, conta Nafziger, a processadora ADM divulgou
a adoção de um prêmio (sobrepreço) pela soja convencional. Pagaria
4% a mais por produtos de variedades que não tenham recebido
genes de outras espécies (para
criar resistência a herbicidas e insetos, por exemplo).
"A inconveniência foi pequena,
mas representou um sinal para os
agricultores. Eles haviam comprado suas sementes de boa-fé", disse.
"Agora eles estão vendo que há
gente que não quer comprar."
O professor considera isso positivo, porque diminui a aura espetacular da soja transgênica. Ela já
ocupa 70% da área plantada na Argentina e mais de 50% nos EUA.
"Pesando benefícios e riscos, a
relação é muito favorável aos
transgênicos. As pessoas exageram
(os benefícios), mas certamente
eles abrem a porta para algumas
coisas maravilhosas", afirmou o
norte-americano.
Com ele concorda o compatriota
Eric Johnson, 42, fitopatologista e
gerente do setor de negócios mundiais de soja na Monsanto dos
EUA. "Não houve ruptura alguma
no mercado", disse.
Para ele, é uma "evolução normal" que as empresas tentem criar
canais alternativos de fornecimento para mercados como o europeu
e japonês, mais refratários aos
transgênicos.
Johnson disse que a Monsanto
está mais preocupada com os efeitos da reação européia sobre outras culturas, como o milho. Nos
últimos meses, nenhuma variedade foi aprovada.
"As pessoas não têm confiança
nas agências reguladoras, na Europa. Essa é a diferença com os Estados Unidos", afirmou. "Mas é também uma questão de cultura. Os
europeus têm uma relação mais
pessoal com sua comida."
Johnson acha que a opinião pública só passará a aceitar os transgênicos quando houver benefício
perceptível para ela.
Nas variedades de hoje, as vantagens vão todas para o produtor (e
para empresas como a Monsanto,
claro).
O jornalista Marcelo Leite viajou a Londrina a convite da Embrapa
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