São Paulo, Terça-feira, 25 de Maio de 1999
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BIOTECNOLOGIA
Empresa gera desconfiança ao dar prêmio à soja convencional
Agricultor dos EUA já tem dúvida sobre transgênicos

MARCELO LEITE
enviado especial a Londrina (PR)

Seria exagero dizer que o primeiro Congresso Brasileiro de Soja, encerrado quinta-feira em Londrina, ficou dividido entre vantagens e desvantagens das variedades transgênicas. Agricultores e agrônomos em geral estão a favor.
Isso não impede que tenham dúvidas, em particular sobre o comportamento do mercado. Nos EUA, por exemplo, já surgem alguns problemas e desconfiança, como alertou Emerson Nafziger, 48, professor de produção agrícola da Universidade de Illinois.
Há duas semanas, conta Nafziger, a processadora ADM divulgou a adoção de um prêmio (sobrepreço) pela soja convencional. Pagaria 4% a mais por produtos de variedades que não tenham recebido genes de outras espécies (para criar resistência a herbicidas e insetos, por exemplo).
"A inconveniência foi pequena, mas representou um sinal para os agricultores. Eles haviam comprado suas sementes de boa-fé", disse. "Agora eles estão vendo que há gente que não quer comprar."
O professor considera isso positivo, porque diminui a aura espetacular da soja transgênica. Ela já ocupa 70% da área plantada na Argentina e mais de 50% nos EUA.
"Pesando benefícios e riscos, a relação é muito favorável aos transgênicos. As pessoas exageram (os benefícios), mas certamente eles abrem a porta para algumas coisas maravilhosas", afirmou o norte-americano.
Com ele concorda o compatriota Eric Johnson, 42, fitopatologista e gerente do setor de negócios mundiais de soja na Monsanto dos EUA. "Não houve ruptura alguma no mercado", disse.
Para ele, é uma "evolução normal" que as empresas tentem criar canais alternativos de fornecimento para mercados como o europeu e japonês, mais refratários aos transgênicos.
Johnson disse que a Monsanto está mais preocupada com os efeitos da reação européia sobre outras culturas, como o milho. Nos últimos meses, nenhuma variedade foi aprovada.
"As pessoas não têm confiança nas agências reguladoras, na Europa. Essa é a diferença com os Estados Unidos", afirmou. "Mas é também uma questão de cultura. Os europeus têm uma relação mais pessoal com sua comida."
Johnson acha que a opinião pública só passará a aceitar os transgênicos quando houver benefício perceptível para ela.
Nas variedades de hoje, as vantagens vão todas para o produtor (e para empresas como a Monsanto, claro).


O jornalista Marcelo Leite viajou a Londrina a convite da Embrapa

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