São Paulo, quarta-feira, 01 de janeiro de 2003

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TODOS OS PRIMOS DO PRESIDENTE

Escoltados pela polícia, parentes de Lula, que não foram recebidos pelo presidente eleito, fizeram visita ao Congresso

Em Brasília, os "Silva" são tratados como "autoridades"

GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O futuro presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, não recebeu os parentes que enfrentaram uma viagem de 40 horas de ônibus de Caetés, agreste pernambucano, a Brasília para assistir a sua posse. No entanto montou um esquema digno de autoridade para recepcioná-los.
O ônibus que trouxe 17 parentes de Lula do sítio Várzea Comprida (zona rural de Caetés) chegou à cidade às 2h30 da madrugada de ontem. No posto policial da entrada do Distrito Federal havia uma viatura da Companhia de Polícia Rodoviária para escoltar o veículo até a Granja do Torto, onde Lula está morando.
Ontem, durante o "city tour" na capital, o ônibus continuou escoltado para evitar que os parentes se perdessem, segundo a explicação dos próprios soldados. A escolta deve ser mantida até amanhã, quando o grupo volta a Pernambuco.
Um membro da PM foi destacado para ser guia turístico. O cerimonial do Congresso também escalou guias da Casa para mostrar o local à família de Lula. Ontem, o Congresso estava fechado à visitação, e os únicos turistas autorizados a entrar lá foram os primos do presidente eleito.
A chegada dos parentes ao Torto foi marcada por uma queima de fogos de artifício de aproximadamente cinco minutos, organizada pela Prefeitura de Caetés. A intenção era acordar Lula para que ele fosse até a entrada da Granja, mas isso não ocorreu.
Os parentes deram os presentes da chamada "Caravana da Esperança" a seguranças: chocolate feito em Garanhuns, uma Bíblia e um cartão de boa sorte.
Ontem de manhã, o ônibus estava sendo esperado por dezenas de turistas e jornalistas em frente à Catedral de Brasília, o primeiro ponto turístico visitado pelos Silva. Mal desceu do ônibus, Antônio Ferreira, um dos primos de primeiro grau, foi assediado por camelôs vendendo broches do PT. Comprou dois. "Lá em Caetés isso é a coisa mais difícil de achar", afirmou Ferreira.
No plenário do Congresso, Cícero Cardoso da Silva, 76, fundador do PT em Caetés, não se conteve: sentou em uma das poltronas e chorou muito. "Essas lágrimas não são uma vergonha para mim. Só um "cabra" de raça como Lula permitiria que, nós, operários, fôssemos recebidos no Congresso", disse ele.
Para Antônio e Gilberto Ferreira, os primos mais próximos, foi "muita emoção" pisar no tapete vermelho por onde Lula entrará hoje, durante a posse, no Congresso. Mas, para eles, o momento mais esperado da viagem ainda não ocorreu: "queremos dar um abraço no primo".
Os parentes de Lula fizeram ainda fazer uma festa de comemoração no Restaurante do Paulão, um restaurante popular da cidade. Festejaram a chegada a Brasília comendo bife de fígado, pernil, tomando cerveja e rum. Ainda estouraram um champanhe quando chegaram os dois irmãos de Lula vindos de São Paulo: Genival Inácio da Silva, o Vavá, e Jayme Inácio da Silva.
Os dois, mais cunhados e sobrinhos de Lula -11 pessoas ao todo- que vivem em São Paulo embarcaram ontem para Brasília. A família comemoraria o Ano Novo na Granja do Torto.
O cerimonial da posse decidiu ontem abrir espaço para mais cinco pessoas assistirem a cerimônia no congresso. Três delas seriam os primos de Lula Manoel, Gilberto e Antônio Ferreira. A decisão os pegou de surpresa. "Agora temos de sair para arrumar um terno. Não viemos preparados para isso. É muita emoção", disse Gilberto.


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