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ESTADOS
Tucano, que se recupera de cirurgia, não vai à posse na Assembléia
Queda de arrecadação e a segurança desafiam Covas
PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local
O tucano Mário Covas terminou
o seu primeiro mandato como governador de São Paulo com a fama
de quem conseguiu arrumar as finanças do Estado. Com o caixa em
ordem, Covas planejava dar uma
feição mais social à sua segunda
administração. A crise econômica
que tomou conta do país, entretanto, pode atrapalhar os planos do
governador.
Covas só deverá reassumir nos
próximos dez dias por estar convalescendo da cirurgia que lhe retirou um câncer da bexiga. O vice,
Geraldo Alckmin, assumirá hoje
na Assembléia Legislativa.
O tucano vai enfrentar uma combinação de fatores negativos: recessão, desemprego e queda da arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços).
Em um cenário de crise e de aperto nas finanças públicas, a capacidade de investir do Estado ficará
reduzida, sobrando menos dinheiro para aplicar em ações sociais.
Os efeitos da recessão já bateram
na porta de São Paulo em 1998. A
receita de ICMS teve uma queda de
3,5% em relação a 1997. Isso significa, em termos absolutos, que o
Estado arrecadou cerca de R$ 650
milhões a menos do que em 1997.
"Se as taxas de juros permanecerem altas, será difícil aumentar o
consumo. Consequentemente, a
arrecadação não aumentará. O cenário de 1999 vai depender da política econômica do governo federal", diz o coordenador da Administração Tributária de São Paulo,
Clóvis Panzarini.
O desemprego também foi um
dos maiores problemas do Estado
em 1998 e, ao que tudo indica, continuará sendo um fantasma. Segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos), a taxa
média de desemprego na Grande
São Paulo em 1998 deve ficar em
torno de 18% da PEA (População
Economicamente Ativa), o que representa 1,6 milhão de desempregados na região metropolitana.
Esse índice é a maior média anual
desde o início da série histórica do
Dieese, em 1985. Durante a campanha, Covas prometeu gerar 3,6 milhões de novos postos de trabalho
em seu segundo mandato.
"Covas deve dar continuidade a
algumas ações sociais do primeiro
mandato, como a construção de
casas populares e a melhoria da
qualidade do ensino público. Mas
tudo vai depender do grau da crise
econômica", diz o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), líder do
governo na Câmara e um dos tucanos mais próximos de Covas.
"É lógico que haverá dificuldades
econômicas, mas o governador
tentará impor um ritmo mais acelerado às realizações nas áreas sociais", afirma o deputado estadual
Walter Feldman (PSDB).
Um dos mais importantes desafios de Covas na sua segunda gestão será, sem dúvida, resolver o
problema da segurança pública.
Durante seu primeiro governo,
os índices de criminalidade aumentaram ano a ano. A segurança
passou, então, a ser o principal alvo das críticas dos adversários covistas. Na campanha, o governador prometeu reduzir pela metade
a criminalidade em São Paulo.
A violência na Grande São Paulo
em 1998 deve bater recordes históricos. De janeiro a outubro de 98,
os casos de homicídios dolosos
(intencionais) chegaram a 6.985,
marca 10,4% superior à registrada
no mesmo período de 1997.
O número de assaltos, entre janeiro e outubro de 1998, foi de
106.292, quantidade 25,8% maior
que a contabilizada na mesma etapa de 1997. Os números de 1998 são
os maiores registrados desde que a
Secretaria de Segurança Pública
começou a fazer esse tipo de levantamento, em 1984.
"O foco do segundo mandato de
Covas deverá ser o binômio segurança-emprego. Com o agravamento da crise social, haverá aumento da criminalidade. O governo terá de agir, implantando políticas complementares, como a de
renda mínima. Não adianta só
prender mais gente, é como enxugar gelo", afirma o deputado estadual Paulo Teixeira (PT).
"O Estado vai ter de impulsionar
os investimentos nos setores de
serviços e de transportes de massa.
Se iniciativas como essas forem
multiplicadas, mais empregos serão gerados e, é óbvio, diminuirá a
criminalidade", avalia o deputado
José Anibal (SP), tucano ligado a
Covas.
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