São Paulo, sexta, 1 de janeiro de 1999

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ESTADOS
Tucano, que se recupera de cirurgia, não vai à posse na Assembléia
Queda de arrecadação e a segurança desafiam Covas

PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local

O tucano Mário Covas terminou o seu primeiro mandato como governador de São Paulo com a fama de quem conseguiu arrumar as finanças do Estado. Com o caixa em ordem, Covas planejava dar uma feição mais social à sua segunda administração. A crise econômica que tomou conta do país, entretanto, pode atrapalhar os planos do governador.
Covas só deverá reassumir nos próximos dez dias por estar convalescendo da cirurgia que lhe retirou um câncer da bexiga. O vice, Geraldo Alckmin, assumirá hoje na Assembléia Legislativa.
O tucano vai enfrentar uma combinação de fatores negativos: recessão, desemprego e queda da arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Em um cenário de crise e de aperto nas finanças públicas, a capacidade de investir do Estado ficará reduzida, sobrando menos dinheiro para aplicar em ações sociais.
Os efeitos da recessão já bateram na porta de São Paulo em 1998. A receita de ICMS teve uma queda de 3,5% em relação a 1997. Isso significa, em termos absolutos, que o Estado arrecadou cerca de R$ 650 milhões a menos do que em 1997.
"Se as taxas de juros permanecerem altas, será difícil aumentar o consumo. Consequentemente, a arrecadação não aumentará. O cenário de 1999 vai depender da política econômica do governo federal", diz o coordenador da Administração Tributária de São Paulo, Clóvis Panzarini.
O desemprego também foi um dos maiores problemas do Estado em 1998 e, ao que tudo indica, continuará sendo um fantasma. Segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a taxa média de desemprego na Grande São Paulo em 1998 deve ficar em torno de 18% da PEA (População Economicamente Ativa), o que representa 1,6 milhão de desempregados na região metropolitana.
Esse índice é a maior média anual desde o início da série histórica do Dieese, em 1985. Durante a campanha, Covas prometeu gerar 3,6 milhões de novos postos de trabalho em seu segundo mandato.
"Covas deve dar continuidade a algumas ações sociais do primeiro mandato, como a construção de casas populares e a melhoria da qualidade do ensino público. Mas tudo vai depender do grau da crise econômica", diz o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), líder do governo na Câmara e um dos tucanos mais próximos de Covas.
"É lógico que haverá dificuldades econômicas, mas o governador tentará impor um ritmo mais acelerado às realizações nas áreas sociais", afirma o deputado estadual Walter Feldman (PSDB).
Um dos mais importantes desafios de Covas na sua segunda gestão será, sem dúvida, resolver o problema da segurança pública.
Durante seu primeiro governo, os índices de criminalidade aumentaram ano a ano. A segurança passou, então, a ser o principal alvo das críticas dos adversários covistas. Na campanha, o governador prometeu reduzir pela metade a criminalidade em São Paulo.
A violência na Grande São Paulo em 1998 deve bater recordes históricos. De janeiro a outubro de 98, os casos de homicídios dolosos (intencionais) chegaram a 6.985, marca 10,4% superior à registrada no mesmo período de 1997.
O número de assaltos, entre janeiro e outubro de 1998, foi de 106.292, quantidade 25,8% maior que a contabilizada na mesma etapa de 1997. Os números de 1998 são os maiores registrados desde que a Secretaria de Segurança Pública começou a fazer esse tipo de levantamento, em 1984.
"O foco do segundo mandato de Covas deverá ser o binômio segurança-emprego. Com o agravamento da crise social, haverá aumento da criminalidade. O governo terá de agir, implantando políticas complementares, como a de renda mínima. Não adianta só prender mais gente, é como enxugar gelo", afirma o deputado estadual Paulo Teixeira (PT).
"O Estado vai ter de impulsionar os investimentos nos setores de serviços e de transportes de massa. Se iniciativas como essas forem multiplicadas, mais empregos serão gerados e, é óbvio, diminuirá a criminalidade", avalia o deputado José Anibal (SP), tucano ligado a Covas.



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