|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CELSO PINTO
Como crescer em 99?
O Produto Interno Bruto, a
soma das riquezas produzidas
pelo país, poderá sofrer uma
queda, no último trimestre de
98, que, anualizada e dessazonalizada, pode chegar de menos 6% a menos 10%. Na pior
hipótese, o produto industrial
regridiria aos níveis do primeiro semestre de 95, depois
da crise mexicana.
Os cálculos são do economista Affonso Celso Pastore, ex-
presidente do Banco Central. É
bom lembrar que qualquer
queda do PIB no último trimestre fará com que a economia brasileira entre, tecnicamente, em recessão em 98. Os
economistas definem recessão
como a queda do PIB em dois
trimestres consecutivos, e o
PIB já caiu no terceiro trimestre.
O valor da produção industrial é conhecido até outubro.
No cenário mais otimista, Pastore imagina que não tenha
havido queda adicional em
novembro e dezembro. No
mais pessimista, supõe que a
queda persistiu, em menor escala.
Considerando a relação que
tem havido entre o crescimento do setor industrial e dos outros setores econômicos, o resultado final é bastante ruim.
Descontando o impacto sazonal e anualizando o resultado
do PIB trimestral, a queda vai
de menos 6% a menos 10%.
O desemprego também preocupa. A taxa deve cair de 8,5%
em agosto para 7,5% em dezembro, na previsão do banco
CSFB-Garantia, mas essa é
uma péssima notícia. Pastore
lembra que o número do desemprego em dezembro tende
a ser 25% menor do que a média do ano, enquanto o de
maio tende a ficar 12% acima.
Se ficar em 7,5% em dezembro, portanto, o desemprego
estará apontando para um
número, dessazonalizado,
bem acima de 9%. De fato, o
CSFB-Garantia prevê que, em
janeiro, o desemprego deva estar batendo no nível recorde
de 10%.
²
Sem milagres
Na discussão sobre qual deverá ser o comportamento da
economia em 99, é muito difícil ver de onde poderia vir a
sustentação para manter o
PIB no azul. O CSFB-Garantia, que prevê uma queda de
1,9% do PIB em 99, levanta alguns argumentos interessantes na discussão.
Como a economia, infelizmente, não cresce por geração
expontânea, se há crescimento, ele tem que vir de algum lugar. A demanda agregada da
economia é formada pelo consumo privado (61% do total),
investimentos (20,5%), consumo do setor público (18%) e
pelo setor externo (0,5%). A
demanda para sustentar crescimento tem que vir de um ou
vários desses fatores.
Um grande impulsionador
do PIB, nos últimos anos, foi o
consumo. Em 98, contudo, pela primeira vez desde o início
do Plano Real, a massa salarial real, medida em 12 meses,
está caindo.
O desemprego está em alta, o
poder de compra dos salários
está deprimido, o crédito está
restrito e com custos altíssimos, a inadimplência está em
níveis recordes e a confiança
do consumidor está em baixa.
Além disso, o ajuste fiscal, ao
elevar a carta tributária, vai
reduzir a renda disponível.
Com tantos fatores negativos,
é difícil imaginar uma recuperação do crescimento econômico puxada pelo consumo.
O segundo maior fator de demanda agregada é o investimento. Nesse caso, existem algumas boas notícias, envolvendo setores com obrigação
de investir, como telecomunicações. Em outros setores que
planejavam investir pesado,
como automobilístico, contudo, alguns investimentos previstos já foram adiados.
De forma geral, com os juros
altíssimos previstos para 99, é
difícil supor uma corrida por
investimentos privados que seja capaz de compensar a queda em outros lados da demanda. O governo e o banco imaginam que a recuperação, quando ocorrer, será liderada pelos
investimentos privados. Isso só
deverá começar a acontecer,
contudo, a partir do segundo
semestre de 99.
O consumo do setor público,
o terceiro fator de demanda
agregada, por definição estará
em retração em 99 se o governo cumprir o programa de
ajuste fiscal, reduzindo despesas de custeio e de capital. Finalmente o setor externo pode
até funcionar a favor, mas ele
pesa muito pouco na demanda
agregada (0,5%) para fazer
grande diferença.
A conclusão é que não há
qualquer indicação de que 99
poderá surpreender favoravelmente, pelo menos nos seus
primeiros meses. É claro que,
se o mercado internacional
melhorasse rapidamente, o
Brasil talvez pudesse reduzir
as taxas de juros de forma
mais agressiva. Não há, contudo, indicações de que isso vá
acontecer no horizonte visível.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|