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ELIO GASPARI
Deram os dedos para
preservar os anéis
Quando o líder do PSDB
na Câmara, deputado Jutahy Magalhães, disse que "se é
para punir caixa dois, tem que
punir todo mundo", associou o
tucanato ao que há de pior no
mandarinato petista. Essa conta os doutores José Serra ou Geraldo Alckmin vão carregar durante a campanha eleitoral. Numa variante, ela soa assim: "Se é
para falar de caixa dois, tem
que falar de todo mundo, inclusive de nós".
Trata-se de um truque pobre.
Como o delito não foi cometido
só pelo delinqüente flagrado na
malfeitoria e como não podemos (ou não queremos) punir
todos os outros, deixem-no em
paz. É a lógica de quem manda.
Sempre que a lei chega ao andar
de cima, cessa seu efeito e os poderes da República devem ser
usados para preservar o malfeitor. A generalização destina-se
a resolver o problema do delinqüente, nada mais.
Na pizza-companheira, Lula
(que não sabia de nada), pode
entrar com a farinha e a mussarela, mas os tucanos decidiram
ficar com o orégano e o tomate.
Não haverá pizza sem um ou
sem o outro. Sem o PSDB, Lula
prepara, no máximo, um miserável sanduíche de queijo.
Caixa dois é crime tributário.
Centenas de milhares de brasileiros vivem na informalidade,
azucrinados por fiscais achacadores e meganhas corruptos,
porque vendem melancias, prestam pequenos serviços ou oferecem badulaques nas ruas. Esses
trabalhadores não pagam impostos, mas gastam o seu ganho
em Pindorama. São o caixa dois
da senzala. Nada tem a ver com
as contas da casa-grande e dos
grão-marqueteiros de contas caribenhas. Numa só campanha,
esses espertalhões superfaturam
e sonegam mais impostos do
que todos os camelôs do Rio, de
São Paulo e de Salvador num
ano. Se é para punir caixa dois
tem que punir todo mundo? Então parem de punir a caixa do
andar de baixo. Afinal, como
bem sabem os candidatos, camelô vende barato. Quem cobra
caro é marqueteiro.
O Brasil tem um presidente
que nunca soube de nada. Nem
mesmo que alguns companheiros e um compadre transferiram-no da casa onde morava
para uma cobertura boca-livre.
Um dia, tchan, chegou a São
Bernardo e descobriu-se reassentado. Em relação a isso, pouco há a fazer, mas Pindorama
não é habitada por néscios. Ao
se acumpliciar com a pizza petista para anistiar um naco de
seu caixa dois, cimentando uma
aliança com o PFL, o PSDB toma o caminho da cumplicidade
premiada. Em vez de colaborar
com a Promotoria, decide proteger os réus.
Daqui até outubro pouco poderá acontecer de ruim ao PT e
ao seu candidato a presidente.
Três CPIs e um ano de pelourinho não estabeleceram a verdade, mas deram aos companheiros o direito de desafiar: "Cadê
as provas?" O telhado de vidro
espatifou-se, mas as pedras foram guardadas. Com o PSDB e
seu candidato, ocorrerá o contrário: daqui até outubro muitas coisas ruins acontecerão.
O PT dizia que era diferente
dos outros partidos. Veio a oposição e mostrou as delúbias maracutaias dos companheiros.
Lula defendeu seu governo dizendo que nada se fez de novo
no universo da corrupção eleitoral. As roubalheiras não eram
apenas um produto das campanhas eleitorais, mas a oposição
acreditou que poderia sangrar o
PT sem sofrer um só arranhão.
Preservou seus malfeitores e tornou-se um caso raro de madame que, para salvar os anéis, entrega os dedos.
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