São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Com Chinaglia, PT-SP tenta voltar ao poder

Vitória na Câmara significa retorno do núcleo paulista da sigla para o centro do debate político sobre rumos do 2º governo Lula

No 1º mandato, diretório de SP se enfraqueceu com acusação de envolvimento no mensalão de José Dirceu, cassado, e João Paulo Cunha


FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os três candidatos inscritos até ontem para disputar a presidência da Câmara carregam significados políticos distintos em suas candidaturas. Por ter sido considerado o favorito até a última hora, o petista Arlindo Chinaglia é o mais emblemático dos três: uma eventual vitória sua marcará a volta do PT tradicional paulista a cargos de destaque dentro da estrutura de poder federal.
Aldo Rebelo (PC do B-SP) já é o presidente da Câmara. Gustavo Fruet (PSDB-PR) entrou tarde na disputa. Mas mesmo que venha a ganhar, ninguém no seu partido o imagina como candidato a presidente em 2010 nem grandes alterações na nau tucana.
Já com Arlindo Chinaglia, o simbolismo é outro. Na prática, a eleição de hoje é a derradeira chance de os petistas do Estado de São Paulo voltarem a ter algum protagonismo durante o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Estrelas petistas paulistas próximas de Lula durante a campanha vitoriosa de 2002 caíram em desgraça. O então deputado José Dirceu foi cassado na esteira do mensalão. João Paulo Cunha, presidente da Câmara em 2003 e 2004, foi acusado de receber dinheiro do mensalão e acabou absolvido, mas passou apenas a atuar nos bastidores.
Outros que amargam um quase ostracismo são Antonio Palocci (ex-todo poderoso ministro da Fazenda), Luiz Gushiken (ex-ministro da Secretaria de Comunicação), o senador Aloizio Mercadante (ex-líder do governo) e o deputado eleito José Genoino (ex-presidente nacional da sigla).

PT de raiz
A partir do ano passado, ficaram ao lado de Lula petistas nunca muito aceitos pelo núcleo paulista da agremiação. O chamado "PT de raiz" transformou-se em coadjuvante. A estrela atual, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), nem tem sua origem no PT -ela foi filiada ao PDT no Rio Grande do Sul. O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) foi sempre tido por José Dirceu quase como um adversário.
Por essa razão o PT se jogou com tanto entusiasmo na campanha de Chinaglia para presidir a Câmara, apesar de o candidato nunca ter sido, no passado, uma pessoa ligada à trinca Dirceu-Palocci-Gushiken.
Mesmo assim, já está acertado que Chinaglia, se eleito, não apresentará óbices de nenhuma espécie quando José Dirceu apresentar o projeto de iniciativa popular para receber uma anistia do Congresso.
Chinaglia também sabe o tanto que os petistas paulistas o estão ajudando. Em público não se toca no assunto, mas está claro que o petista na presidência da Câmara será o vocalizador dos desejos do PT dentro do Palácio do Planalto.
De uma forma bem clara, de todos os petistas ilustres que fizeram carreira em São Paulo, Chinaglia, se eleito, será o único a ter liberdade para telefonar para Lula a qualquer hora.

Sucessão de Lula
Há também nesta eleição de hoje para presidente da Câmara um componente clássico revestido de maior relevância: o fato de ser o terceiro cargo na hierarquia da República.
Na falta do presidente e do vice, quem assume o Palácio do Planalto é o presidente da Câmara dos Deputados. Não é segredo que o atual vice-presidente, José Alencar, está com a saúde debilitada em decorrência de um câncer na região do abdome.
Alencar continua em tratamento e tem mantido uma rotina quase normal. Mas não é improvável que possa não ter condições momentâneas de assumir o Planalto numa das diversas viagens de Lula ao exterior. Nesse caso, assume o presidente da Câmara.
Outro aspecto a ser considerado é o poder formal do presidente da Câmara, que administra um orçamento anual que gira em torno de R$ 3 bilhões, com um quadro de pessoal de mais de 15 mil funcionários.
Com um regime presidencialista, o comandante da Câmara pode oferecer gentilezas para dezenas de deputados, dos mais variados partidos e regiões do país. As mesuras variam desde reformas em apartamentos funcionais bem como indicações para viagens internacionais. No ambiente do Congresso, esse tipo de agrado acaba valendo mais do que preferências partidárias.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Foco: Deputados novatos levam familiares para conhecer Congresso e ministérios
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.