São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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PMDB se cacifa para reaver hegemonia no Legislativo

Sarney e Temer entram na disputa amanhã como favoritos para comandar as duas Casas

Última vez em que a sigla chefiou Senado e Câmara ao mesmo tempo foi no biênio 1991-1992, com Mauro Benevides e Ibsen Pinheiro

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se a taxa de traição no Congresso não ultrapassar todos os limites possíveis, o PMDB está prestes a voltar a ser hegemônico no Poder Legislativo depois de 16 anos. A legenda entra amanhã na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado como a favorita para ficar com o comando das duas Casas.
O senador José Sarney (PMDB-AP) e o deputado federal Michel Temer (PMDB-SP) divulgaram listas de apoios na sexta-feira que, pelo menos no papel, garantem aos dois os postos no Congresso.
A última vez que o PMDB comandou o Senado e a Câmara ao mesmo tempo foi no biênio 1991-1992, com o senador Mauro Benevides (CE) e o deputado Ibsen Pinheiro (RS). Benevides hoje é deputado federal. Ibsen foi cassado em 1994 na esteira da CPI do Orçamento. Hoje ele voltou a ser deputado.
O PMDB alega ter mais de 50 votos para Sarney e, pelo menos, 340 para Temer. Nas duas eleições são necessários no mínimo 50% mais um dos apoios para ser eleito. No Senado, com 81 cadeiras, consuma-se a vitória com 41 votos. Na Câmara, que tem 513 deputados, são precisos 257 votos. Segundo a Secretaria Geral da Câmara, a maioria deve ser calculada em relação ao número de congressistas presentes no plenário.
"O nosso piso de 340 votos a favor do Michel Temer é sólido, mais do que concreto. É de ferro. Temos 15 partidos nos apoiando oficialmente. São 424 deputados e já fizemos todos os descontos possíveis. Menos de 340 é impossível", diz Eliseu Padilha (PMDB-RS), citando os apoios agrupados no que foi batizado no Congresso de blocão. Segundo dados históricos da direção da Casa, nunca depois da ditadura militar (1964-1985) houve uma aliança tão ampla.
Padilha é um deputado especializado em medir a temperatura do plenário da Câmara. Ele foi um dos comandantes da operação vitoriosa em 1997 para aprovar a emenda da reeleição -que permitiu a Fernando Henrique Cardoso disputar mais um mandato ao Planalto.
No Senado, o contador de votos oficial é Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele está retornando à articulação política após ter passado um período nos bastidores por causa da acusação de ter usado dinheiro de uma empreiteira para pagar a pensão de uma filha. Renan negou as acusações, mas renunciou ao cargo de presidente do Senado em dezembro de 2007.
Reconduzido ao cargo de líder do PMDB no Senado, Renan foi o grande articulador de Sarney: "Não tem como ficarmos abaixo dos 50 votos. A conta mais próxima da realidade fica acima de 55 apoios", diz ele.

Inflação de apoios
As votações para eleger os presidentes das duas Casas do Congresso são secretas. É comum os partidos favoritos inflarem suas listas de apoios. Por isso não há como fazer uma previsão 100% livre de risco.
Houve um caso recente, em 2005, em que o candidato oficial ao cargo de presidente da Câmara tinha quase tantos apoios como os recebidos hoje por Michel Temer. O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) acabou derrotado por um movimento silencioso e de difícil detecção chamado baixo clero, o grupo de congressistas de pouca expressão. Venceu aquela disputa o então desconhecido do grande público Severino Cavalcanti (PP-PE).
Agora, como em 2005, há uma ação em curso visando a surpreender o favorito. Três candidatos se uniram para disputar a presidência da Câmara: Aldo Rebelo (PC do B-SP), Ciro Nogueira (PP-PI) e Osmar Serraglio (PMDB-PR). Juntos, eles dizem ter mais de 257 votos, o que garantiria um segundo turno. "Posso dizer com tranquilidade que haverá segundo turno. Os números divulgados pelo blocão não estão nem próximos da realidade", diz Ciro Nogueira, que anuncia 180 votos.
Aldo explica assim sua situação: "Minha campanha é no silêncio. Quase como usar uma tática de guerrilha. E enquanto o exército não aniquila os guerrilheiros, está perdendo".
Osmar Serraglio vai se decidir hoje à noite se mantém sua candidatura. "Não quero deixar o PMDB fora da Mesa Diretora da Câmara. Se eu perceber que o Temer vai perder e eu não tenho chances, posso considerar a disputa da vice-presidência".
No Senado, o petista Tião Viana (AC) recebeu um inusitado apoio oficial da direção do PSDB. Na sexta, Viana dizia ter 39 votos, dois a menos que o necessário para vencer.
No caso de os candidatos favoritos vencerem amanhã, não é segredo que o PMDB continuará dividido. O grupo da Câmara não se entende com o do Senado. Ainda assim, a sigla será uma das mais fortalecidas para o jogo político de 2010.


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