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PMDB se cacifa para reaver hegemonia no Legislativo
Sarney e Temer entram na disputa amanhã como favoritos para comandar as duas Casas
Última vez em que a sigla chefiou Senado e Câmara ao mesmo tempo foi no biênio 1991-1992, com Mauro Benevides e Ibsen Pinheiro
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se a taxa de traição no Congresso não ultrapassar todos os
limites possíveis, o PMDB está
prestes a voltar a ser hegemônico no Poder Legislativo depois
de 16 anos. A legenda entra
amanhã na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado
como a favorita para ficar com
o comando das duas Casas.
O senador José Sarney
(PMDB-AP) e o deputado federal Michel Temer (PMDB-SP)
divulgaram listas de apoios na
sexta-feira que, pelo menos no
papel, garantem aos dois os
postos no Congresso.
A última vez que o PMDB comandou o Senado e a Câmara
ao mesmo tempo foi no biênio
1991-1992, com o senador Mauro Benevides (CE) e o deputado
Ibsen Pinheiro (RS). Benevides
hoje é deputado federal. Ibsen
foi cassado em 1994 na esteira
da CPI do Orçamento. Hoje ele
voltou a ser deputado.
O PMDB alega ter mais de 50
votos para Sarney e, pelo menos, 340 para Temer. Nas duas
eleições são necessários no mínimo 50% mais um dos apoios
para ser eleito. No Senado, com
81 cadeiras, consuma-se a vitória com 41 votos. Na Câmara,
que tem 513 deputados, são
precisos 257 votos. Segundo a
Secretaria Geral da Câmara, a
maioria deve ser calculada em
relação ao número de congressistas presentes no plenário.
"O nosso piso de 340 votos a
favor do Michel Temer é sólido,
mais do que concreto. É de ferro. Temos 15 partidos nos
apoiando oficialmente. São 424
deputados e já fizemos todos os
descontos possíveis. Menos de
340 é impossível", diz Eliseu
Padilha (PMDB-RS), citando os
apoios agrupados no que foi batizado no Congresso de blocão.
Segundo dados históricos da direção da Casa, nunca depois da
ditadura militar (1964-1985)
houve uma aliança tão ampla.
Padilha é um deputado especializado em medir a temperatura do plenário da Câmara. Ele
foi um dos comandantes da
operação vitoriosa em 1997 para aprovar a emenda da reeleição -que permitiu a Fernando
Henrique Cardoso disputar
mais um mandato ao Planalto.
No Senado, o contador de votos oficial é Renan Calheiros
(PMDB-AL). Ele está retornando à articulação política após
ter passado um período nos
bastidores por causa da acusação de ter usado dinheiro de
uma empreiteira para pagar a
pensão de uma filha. Renan negou as acusações, mas renunciou ao cargo de presidente do
Senado em dezembro de 2007.
Reconduzido ao cargo de líder do PMDB no Senado, Renan foi o grande articulador de
Sarney: "Não tem como ficarmos abaixo dos 50 votos. A conta mais próxima da realidade fica acima de 55 apoios", diz ele.
Inflação de apoios
As votações para eleger os
presidentes das duas Casas do
Congresso são secretas. É comum os partidos favoritos inflarem suas listas de apoios. Por
isso não há como fazer uma
previsão 100% livre de risco.
Houve um caso recente, em
2005, em que o candidato oficial ao cargo de presidente da
Câmara tinha quase tantos
apoios como os recebidos hoje
por Michel Temer. O deputado
Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) acabou derrotado por um
movimento silencioso e de difícil detecção chamado baixo clero, o grupo de congressistas de
pouca expressão. Venceu aquela disputa o então desconhecido do grande público Severino
Cavalcanti (PP-PE).
Agora, como em 2005, há
uma ação em curso visando a
surpreender o favorito. Três
candidatos se uniram para disputar a presidência da Câmara:
Aldo Rebelo (PC do B-SP), Ciro
Nogueira (PP-PI) e Osmar Serraglio (PMDB-PR). Juntos, eles
dizem ter mais de 257 votos, o
que garantiria um segundo turno. "Posso dizer com tranquilidade que haverá segundo turno. Os números divulgados pelo blocão não estão nem próximos da realidade", diz Ciro Nogueira, que anuncia 180 votos.
Aldo explica assim sua situação: "Minha campanha é no silêncio. Quase como usar uma
tática de guerrilha. E enquanto
o exército não aniquila os guerrilheiros, está perdendo".
Osmar Serraglio vai se decidir hoje à noite se mantém sua
candidatura. "Não quero deixar
o PMDB fora da Mesa Diretora
da Câmara. Se eu perceber que
o Temer vai perder e eu não tenho chances, posso considerar
a disputa da vice-presidência".
No Senado, o petista Tião
Viana (AC) recebeu um inusitado apoio oficial da direção do
PSDB. Na sexta, Viana dizia ter
39 votos, dois a menos que o
necessário para vencer.
No caso de os candidatos favoritos vencerem amanhã, não
é segredo que o PMDB continuará dividido. O grupo da Câmara não se entende com o do
Senado. Ainda assim, a sigla será uma das mais fortalecidas
para o jogo político de 2010.
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