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São Paulo, sábado, 01 de março de 2003

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ESPÍRITO SANTO

Ex-presidente da Assembléia Legislativa teve prisão decretada pela Justiça, sob acusação de compra de votos

PF prende Gratz no interior de São Paulo

Joel Silva/Folha Imagem
O ex-deputado José Carlos Gratz é conduzido algemado por agentes da PF de Ribeirão Preto para fazer exame de corpo de delito


EVANDRO SPINELLI
DA FOLHA RIBEIRÃO

O ex-presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo José Carlos Gratz (PFL) foi preso ontem em Santa Rita do Passa Quatro (253 km ao norte de São Paulo) em uma operação conjunta das polícias Federal e Rodoviária Estadual. Gratz estava com prisão preventiva decretada desde anteontem pelo TRF (Tribunal Regional Federal) da 2ª Região, sob acusação de ter comprado votos na eleição para a presidência da Assembléia em 2000.
A prisão ocorreu quando o pefelista, acompanhado do deputado estadual Luiz Carlos Moreira (PMDB), parou em um posto de combustíveis da rodovia Anhanguera para almoçar, por volta das 11h30 de ontem. Eles estavam em um veículo Siena que fora alugado em Brasília.
O ex-deputado alegou que estava voltando de Brasília para o Espírito Santo de carro para evitar o assédio da imprensa no aeroporto de Vitória quando desembarcasse na cidade. Segundo a PF, a polícia estava monitorando seus passos, e, por isso, foi montada a operação para prendê-lo no caminho.
Gratz afirmou que iria se apresentar à Justiça hoje em Vitória. Anteontem, ele estava em Brasília, onde, segundo o próprio ex-deputado, reuniu-se com seu advogado, Nabor Bulhões.
O pedido de prisão de Gratz foi feito pelo Ministério Público Federal baseado em um levantamento feito pela Receita Federal, o qual identificou 26 cheques, de R$ 30 mil cada um, emitidos pelo empresário Carlos Guilherme Lima seis dias depois da votação.
Lima está preso desde dezembro sob a acusação de ser o responsável pelas finanças do crime organizado no Espírito Santo.
Moreira, um dos supostos beneficiados pela compra de votos, estava dirigindo o carro quando Gratz foi preso. Moreira prestou depoimento à PF de Ribeirão Preto e foi liberado logo em seguida. Ele disse à polícia que acompanhava Gratz por ser seu médico e amigo. O ex-presidente da Assembléia teria pedido a companhia de Moreira porque não estaria se sentindo bem de saúde.
Gratz é um dos principais alvos da missão especial de combate ao crime organizado que atua no Espírito Santo. Ele é acusado de envolvimento com a Scuderie Detetive Le Cocq -organização acusada de ser o braço armado do crime organizado no Estado-, de ser ex-banqueiro do jogo do bicho e de ser ex-proprietário de cassinos clandestinos.
Ele tinha um vôo marcado de Brasília para Vitória na noite de anteontem, mas desistiu da viagem após saber do mandado de prisão. "Eu estava indo para a minha cidade. Tomei conhecimento ontem [anteontem] à noite do mandado de prisão e, para evitar um constrangimento da imprensa, coisa que eu não pude evitar, peguei meu colega [Moreira]. Íamos de carro para a minha cidade para me apresentar amanhã, lá em Vitória", afirmou Gratz.
De acordo com o pefelista, sua mulher disse, por telefone, que havia "um batalhão de repórteres" na porta de sua casa, em Vitória. Por isso ele optou por viajar de carro para desviar a atenção.

Plano de fuga
Gratz negou que tivesse um plano de fuga do Brasil. "A Polícia Federal não suspeitava disso. Isso é uma conversa que nunca existiu." Também negou envolvimento com atividades criminosas e afirmou que quem o acusa tem de apresentar provas.
Para fundamentar a decisão contra Gratz o relator do processo no TRF, desembargador Ney Fonseca, alegou que "há indícios de que ele poderia fugir do país, conforme comprovam degravações de conversas telefônicas anexadas aos autos".
Diálogo entre ex-assessores de Gratz, gravado com autorização judicial em janeiro deste ano, revelou um possível esquema de fuga para o ex-deputado.
Gratz foi levado de Ribeirão Preto para Vitória em um avião da Polícia Federal. A aeronave decolou do aeroporto Leite Lopes, às 17h30. Antes, ele passou por um exame de corpo de delito.


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