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VIDA DE SOCIÓLOGO
Ex-presidente critica o fato de agenda comercial para a Alca ser a maior preocupação norte-americana na região
AL pode perder fé na democracia, diz FHC
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem em
Washington o fato de a agenda
comercial para a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ser a
maior preocupação dos Estados
Unidos em relação à América Latina hoje.
"O risco de os Estados Unidos
concentrarem sua visão apenas
no comércio é empurrar países
como o Brasil para o isolamento.
Já que somos vistos apenas como
mercado, podemos chegar à conclusão de que a integração não
nos interessa", disse.
A estratégia norte-americana,
diz FHC, pode se voltar contra os
próprios EUA. "Muitos latino-americanos estão perdendo a fé
no que a democracia pode trazer
de benefícios a seus países", diz.
FHC participou do lançamento
do relatório do Inter-American
Dialogue, centro de estudos dos
problemas das Américas, do qual
é co-presidente desde janeiro. O
documento traça um quadro bastante pessimista para a América
Latina e o Caribe. Para a Venezuela, por exemplo, prevê a hipótese
de um "conflito sangrento".
O relatório salienta que o crescimento medíocre e a pobreza na
região podem levar à "tentação"
de eleitores e governos adotarem
"modelos falidos do passado".
Para FHC, a atual configuração
dos mercados e da globalização,
liderada pelos EUA, diminuiu
sensivelmente a margem de governabilidade dos países latino-americanos. "Há hoje restrições
fiscais, dívidas enormes e seus pagamentos e, em cima de tudo isso,
uma liberdade de fluxo de capitais
sem nenhum organismo de controle em momentos de crise", disse. "Essas restrições são hoje uma
grande ameaça à democracia."
Como exemplo, citou os aumentos nas taxas de juros promovidos pelo governo Lula. "Ele tomou as medidas que tomou porque não tinha caminhos."
O relatório constata que a situação econômica e social da América Latina se deteriorou rapidamente em quase todos os países. E
afirma que o presidente norte-americano, George W. Bush, "não
está decisivamente engajado nos
desafios do Hemisfério".
FHC diz que as preocupações
norte-americanas deveriam se
concentrar no combate à pobreza,
no fortalecimento da democracia
e em abrir o acesso dos países
mais pobres ao mercado americano. "Precisamos de relações mais
igualitárias. A globalização está
sendo unilateral", afirma.
Preço
O ex-presidente diz também
que até nos EUA a democracia
corre risco. "O preço que o país
vai pagar por sua política interna
de combate ao terrorismo, com
restrições aos direitos civis, é uma
decisão muito problemática."
Comentando atos unilaterais
dos EUA, afirma que eles não "deveriam agir como se pregassem
uma coisa e fizessem outra".
Sobre a pressão norte-americana nas Nações Unidas por uma
guerra contra o Iraque, disse que
o desfecho do caso será um teste
para organismos internacionais
como a ONU. "É muito difícil falar em democracia quando um
país age sem respeitar as regras da
lei. Nós estamos correndo um risco nesse caso", disse.
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