São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Defesa quer controle militar do tráfego aéreo e mais caças

Ministro recua e se alinha à Aeronáutica, que tenta não perder comando para civis

Novo comandante defende retomada do projeto F-X, de compra de aviões de combate, e do Veículo Lançador de Satélites


LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Defesa, Waldir Pires, afirmou que o controle de tráfego aéreo civil deverá permanecer subordinado à Força Aérea. A declaração aconteceu após a posse do novo comandante da Aeronáutica, o brigadeiro-do-ar Juniti Saito, que por sua vez defendeu a retomada do projeto F-X, de aquisição de novos caças.
Segundo Pires, o controle de tráfego aéreo deve permanecer integrado ao sistema de Defesa Aérea, mas deu a entender que há propostas sob estudo para destacar a natureza civil do controle da aviação geral. Com o recuo, a Defesa se alinha à Aeronáutica, que rejeita a desmilitarização do setor, proposta pelo grupo de trabalho do governo em dezembro.
"O Brasil precisa ter uma aviação civil poderosa e importante, mas submetida ao controle do espaço aéreo da Aeronáutica", disse Pires.
"O sistema integrado é indispensável, senão teríamos uma repetição do que aconteceu no 11 de Setembro [problemas de comunicação entre controle e defesa aérea]", completou.
Segundo o comandante, o sistema brasileiro é "invejável" e "objeto de consulta de outros países, principalmente no pós-11 de Setembro".
"O Comando da Aeronáutica não pleiteia que a atividade de controle do espaço aéreo seja de sua exclusividade, mas não podemos fugir à nossa responsabilidade de manter a soberania nacional em um patamar condizente com a importância do Brasil", disse o brigadeiro.
Segundo ele, qualquer mudança nessa área precisa passar por uma "criteriosa análise técnica, financeira e operacional" do governo.
A desmilitarização é a principal reivindicação da operação padrão dos controladores, movimento que restringia o fluxo de aviões segundo regras de segurança e que foi o estopim da crise aérea em novembro. O governo considera que o situação já está sob controle e não há mais pressa ou prazos para definições sobre o assunto.
A estratégia da Aeronáutica, conforme revelou a Folha, é oferecer a migração dos sargentos controladores para cargos civis, com uma oferta de gratificação salarial e novo plano de carreira, sem a "desmilitarização".
Em seu discurso de posse, Saito destacou a necessidade de aparelhar a Força Aérea de acordo com a "estatura política-estratégica" do Brasil, mas não citou as compras de armamentos por países vizinhos, como a Venezuela.
"Estamos atentos às novas aeronaves no mercado internacional e, tão logo seja possível, resgataremos o processo de aquisição de novos caças para a defesa de nosso território, o conhecido projeto F-X", disse Saito, em referência à licitação cancelada em 2005 para compra de novos caças. Ele também disse que a FAB irá implantar novas unidades de vigilância na região amazônica.
Questionado sobre o F-X, Waldir Pires não foi específico, mas disse que o presidente Lula está empenhado em fortalecer as três Forças. Mas disse que o presidente pretende convocar em breve o Conselho de Defesa Nacional para discutir o fortalecimento militar dentro de uma visão global de um plano de Defesa Nacional.
"Vamos ter dentro de muito pouco tempo uma concepção de como adequar o projeto global de defesa. O presidente tem falado muito da necessidade de convocarmos o Conselho de Defesa, que terá uma compreensão global. Todas as Forças têm propostas legítimas, mas esse grau de prioridades estará vinculado a uma idéia de plano de defesa do Brasil."
O Conselho de Defesa Nacional é um órgão de consulta presidencial que reúne para discutir assuntos de soberania nacional e defesa do território. Ele tem 11 membros.
Entre suas prioridades, Saito também citou a retomada do Veículo Lançador de Satélites, o mesmo que explodiu na base de Alcântara em 2003, e melhorias nas condições de moradia, escola, saúde e reconhecimento para os militares -há muito o setor pede reajustes.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Vaivém
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.