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JANIO DE FREITAS
Um a mais, nada mais
O desabamento na Barra da
Tijuca tornou pública uma
parte dos golpes e fraudulências que deram ao deputado
Sérgio Naya vida de bilionário
-e extinguiram não se sabe
quantas vidas e desgraçam milhares de outras. Entre os escombros que Sérgio Naya vai
deixando não emerge, porém, a
figura de um parlamentar incomum, que escandalize agora
os seus pares do Congresso como estarrece e revolta os comuns, sejam ou não vítimas
suas.
Sob diferentes disfarces de
nome, de partido, de Estado,
são muitos os sérgios nayas do
Congresso. Compõem o grande
contingente dos que não se elegem em razão de idéias, de
compromissos, de entusiasmo
com programas políticos, mas
para usar a condição de deputado. Como gazua. Como arma.
São só sérgios nayas os componentes do bando que vende
votos para aprovar reformas,
para aprovar a reeleição, para
engolir 1.300 medidas provisórias, para trair o seu e todos os
eleitorados. São os que recebem
empréstimos favorecidos nos
bancos oficiais, como Sérgio
Naya. E fazem ou intermedeiam negócios com o governo,
como Sérgio Naya. E, como
Sérgio Naya, contam com a
proteção do governo para falcatruas nas suas obrigações
com o INSS, com os impostos,
com as dívidas nos bancos, nas
caixas e nos fundos. E que recebem do governo as verbas orçamentárias, hoje como antes os
anões do Orçamento.
Não é propriamente por esses
expedientes que os sérgios nayas se fazem parlamentares.
Por trás de cada um deles há
sempre negócios, empresariais
ou não. Por algum modo, sempre se valendo da relação entre
o mandato parlamentar e o governo. É essa regra infalível
que invalida a contestação da
Presidência da República à notícia, dada por Ricardo Boechat, de sua ordem para que o
Banco do Brasil sustasse a cobrança judicial de uma dívida
de Sérgio Naya. Pagamento
(ou parte) da Presidência por
voto comprado no Congresso.
Se fosse um negócio com seguradora ou corretora, como
tem acontecido, a direção do
BB decidiria por sua conta. Em
se tratando do interesse de parlamentar, nada é feito nos terreiros governamentais, a favor
ou contra, sem a orientação da
Presidência da República. E
mais: diz-se que a dívida noticiada, de R$ 17 milhões na
agência Ipanema do BB, é uma
fração muito modesta da dívida total de Sérgio Naya favorecida pelo governo.
Os que não são sérgios nayas
compõem a menor porção do
Congresso. Impossibilitados,
por isso, de impedir que o caso
revoltante de Sérgio Naya não
seja apenas mais um na sucessão dos escândalos impunes do
Congresso.
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