São Paulo, domingo, 1 de março de 1998

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Analistas vêem mais chance de 2º turno

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

A síndrome dos déficits gêmeos -nas contas públicas e no balanço de pagamentos- é o maior risco à credibilidade do Plano Real no exterior e ameaça a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso ainda no primeiro turno.
Essa é a opinião de estrategistas de bancos de investimentos baseados em Nova York e Londres ouvidos pela Folha.
Para eles, o governo precisa manter os juros reais nos atuais níveis elevados para proteger a moeda brasileira de novos períodos de volatilidade nos mercados internacionais.
Mas os juros altos agravam o déficit público, atingem negativamente a atividade econômica, desestimulam investimentos industriais, reduzem o poder aquisitivo dos consumidores e causam desemprego.
Assim, raciocinam esses especialistas, o ritmo da economia, afetado pelo arrocho monetário e pela frouxidão fiscal, pode colocar uma pedra no caminho de FHC, que pretende vencer a eleição logo no primeiro turno, em 4 de outubro.
Segundo esses analistas, o segundo turno é o "pior cenário" para a reeleição de FHC porque a atividade econômica atingirá o fundo do poço no auge da campanha eleitoral, no terceiro trimestre.
Medidas
Eduardo Cabrera, estrategista para a América Latina do Merrill Lynch, de Nova York, diz que a reeleição de FHC são "favas contadas", mas alerta que a questão central para o governo será decidir quais serão as medidas que vai tomar para minimizar as dificuldades econômicas que ocorrerão durante o período mais tenso e mais importante do processo eleitoral.
"Não temos dúvida, no meio financeiro de Nova York, de que Fernando Henrique vai ser reeleito. Estamos mais preocupados com as eleições no Congresso do que com a presidencial. Preocupa o que vai acontecer com a sua coalizão na Câmara, que é a chave para a segunda geração de reformas", diz Cabrera.
"O presidente sabe que seu principal desafio é ampliar sua coalizão na Câmara. Se não fizer tudo o que puder para apoiar seus candidatos, vai enfrentar um calendário político estagnado em seu segundo mandato."
Para Cabrera, apenas uma "catástrofe econômica", que, na sua opinião, seria uma forte desvalorização do real, poderia dar fôlego eleitoral à oposição.
Sua opinião é compartilhada por Neil Dougall, estrategista do banco de investimentos Dresdner Kleinwort Benson, de Londres.
"A resposta firme do Brasil à crise asiática acalmou os temores de um ataque especulativo contra o real. E a confiança dos investidores no Brasil cresceu muito, recentemente, com o progresso das reformas", diz.
Cabrera e Dougall acreditam que, à medida que a crise asiática se transforme em dificuldades mais localizadas, o governo brasileiro poderá reduzir os juros a um ritmo mais rápido do que se previa há dois meses.
Com isso, o impacto dos juros no pagamento da dívida pública e na atividade econômica seria menor a partir do meio do ano.
Os economistas também ressaltam que a arrecadação das privatizações previstas para o primeiro semestre deste ano e os efeitos das reformas administrativa e da Previdência nas contas públicas são trunfos para o governo inverter a curva declinante da atividade econômica pouco antes das eleições.
"Estamos aumentando nossa estimativa de crescimento econômico no Brasil, neste ano, de zero para 1%, devido à melhora da situação na Ásia, ao progresso nas reformas constitucionais e à expectativa de uma queda mais rápida da taxas de juros", diz Dougall.
Peter West, estrategista do banco de investimento BBV Latin Invest, de Londres, do grupo espanhol Bilbao Vizcaya, também projeta uma taxa de crescimento de 1% neste ano. "Acredito no aquecimento da economia no segundo semestre."
Ele não vê obstáculos à reeleição de FHC. "O mercado financeiro de Londres acredita que Fernando Henrique será reeleito, embora, obviamente, o atual quadro recessivo não ajude. Isso poderá levar a eleição para o segundo turno", afirma West.
Paulo Leme, estrategista do banco de investimentos Goldman Sachs, de Nova York, diz que a vulnerabilidade do Brasil a choques da Ásia é cada vez menor, pois as maiores economias asiáticas estão tomando as medidas necessárias para corrigir desequilíbrios fiscais.
Lawrence Goodman, do Santander Investment, de Nova York, diz que espera um primeiro trimestre difícil neste ano, refletindo os efeitos do arrocho monetário.



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