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Analistas vêem mais chance de 2º turno
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
A síndrome dos déficits gêmeos -nas contas públicas e no
balanço de pagamentos- é o
maior risco à credibilidade do
Plano Real no exterior e ameaça
a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso ainda
no primeiro turno.
Essa é a opinião de estrategistas de bancos de investimentos
baseados em Nova York e Londres ouvidos pela Folha.
Para eles, o governo precisa
manter os juros reais nos atuais
níveis elevados para proteger a
moeda brasileira de novos períodos de volatilidade nos mercados internacionais.
Mas os juros altos agravam o
déficit público, atingem negativamente a atividade econômica,
desestimulam investimentos industriais, reduzem o poder
aquisitivo dos consumidores e
causam desemprego.
Assim, raciocinam esses especialistas, o ritmo da economia,
afetado pelo arrocho monetário
e pela frouxidão fiscal, pode colocar uma pedra no caminho de
FHC, que pretende vencer a
eleição logo no primeiro turno,
em 4 de outubro.
Segundo esses analistas, o segundo turno é o "pior cenário"
para a reeleição de FHC porque
a atividade econômica atingirá o
fundo do poço no auge da campanha eleitoral, no terceiro trimestre.
Medidas
Eduardo Cabrera, estrategista
para a América Latina do Merrill Lynch, de Nova York, diz
que a reeleição de FHC são "favas contadas", mas alerta que a
questão central para o governo
será decidir quais serão as medidas que vai tomar para minimizar as dificuldades econômicas
que ocorrerão durante o período mais tenso e mais importante do processo eleitoral.
"Não temos dúvida, no meio
financeiro de Nova York, de que
Fernando Henrique vai ser reeleito. Estamos mais preocupados com as eleições no Congresso do que com a presidencial.
Preocupa o que vai acontecer
com a sua coalizão na Câmara,
que é a chave para a segunda geração de reformas", diz Cabrera.
"O presidente sabe que seu
principal desafio é ampliar sua
coalizão na Câmara. Se não fizer
tudo o que puder para apoiar
seus candidatos, vai enfrentar
um calendário político estagnado em seu segundo mandato."
Para Cabrera, apenas uma
"catástrofe econômica", que, na
sua opinião, seria uma forte
desvalorização do real, poderia
dar fôlego eleitoral à oposição.
Sua opinião é compartilhada
por Neil Dougall, estrategista do
banco de investimentos Dresdner Kleinwort Benson, de Londres.
"A resposta firme do Brasil à
crise asiática acalmou os temores de um ataque especulativo
contra o real. E a confiança dos
investidores no Brasil cresceu
muito, recentemente, com o
progresso das reformas", diz.
Cabrera e Dougall acreditam
que, à medida que a crise asiática se transforme em dificuldades mais localizadas, o governo
brasileiro poderá reduzir os juros a um ritmo mais rápido do
que se previa há dois meses.
Com isso, o impacto dos juros
no pagamento da dívida pública
e na atividade econômica seria
menor a partir do meio do ano.
Os economistas também ressaltam que a arrecadação das
privatizações previstas para o
primeiro semestre deste ano e os
efeitos das reformas administrativa e da Previdência nas contas públicas são trunfos para o
governo inverter a curva declinante da atividade econômica
pouco antes das eleições.
"Estamos aumentando nossa
estimativa de crescimento econômico no Brasil, neste ano, de
zero para 1%, devido à melhora
da situação na Ásia, ao progresso nas reformas constitucionais
e à expectativa de uma queda
mais rápida da taxas de juros",
diz Dougall.
Peter West, estrategista do
banco de investimento BBV Latin Invest, de Londres, do grupo
espanhol Bilbao Vizcaya, também projeta uma taxa de crescimento de 1% neste ano. "Acredito no aquecimento da economia no segundo semestre."
Ele não vê obstáculos à reeleição de FHC. "O mercado financeiro de Londres acredita que
Fernando Henrique será reeleito, embora, obviamente, o atual
quadro recessivo não ajude. Isso
poderá levar a eleição para o segundo turno", afirma West.
Paulo Leme, estrategista do
banco de investimentos Goldman Sachs, de Nova York, diz
que a vulnerabilidade do Brasil a
choques da Ásia é cada vez menor, pois as maiores economias
asiáticas estão tomando as medidas necessárias para corrigir
desequilíbrios fiscais.
Lawrence Goodman, do Santander Investment, de Nova
York, diz que espera um primeiro trimestre difícil neste ano, refletindo os efeitos do arrocho
monetário.
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