São Paulo, domingo, 1 de março de 1998

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PMDB começa a definir se terá candidato

LUCIO VAZ
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília

As reuniões de diretórios estaduais do PMDB previstas para este início de semana servirão como prévias para a convenção nacional do próximo domingo, que vai decidir se o partido terá candidato próprio à Presidência da República ou se apoiará a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
No centro das atenções estão os encontros da Paraíba e de Santa Catarina, onde a indefinição é maior. Os dois Estados têm direito, respectivamente, a 46 e 37 votos, de um total de 696.
Também haverá reuniões nos Estados do Ceará, do Mato Grosso e do Espírito Santo.
A definição do partido pode ser decisiva para a eleição de 3 de outubro. Caso o PMDB se defina por um candidato próprio, aumenta a probabilidade de a eleição presidencial ser definida apenas com a realização de um segundo turno.
Os líderes das duas correntes prevêem uma semana de intensa pressão sobre os convencionais. Verbas federais, cargos públicos, compromissos pessoais e telefonemas dos candidatos diretamente interessados, FHC e o ex-presidente Itamar Franco, serão usados na busca de votos.
Na Paraíba, o senador Ronaldo Cunha Lima defende a candidatura própria, e o governador José Maranhão, o apoio a FHC. Os dois assumiram o compromisso de seguir a decisão do diretório, que se reúne na terça-feira.
Na última reunião dos governistas em Brasília, Cunha Lima apresentou uma justificativa do apoio à candidatura própria, segundo relato dos presentes. No seu governo, Itamar entregou a presidência da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) ao seu filho Cássio Cunha Lima.
Ajuda do Planalto
Santa Catarina toma uma decisão amanhã. O governador Paulo Afonso Viera havia assumido o compromisso de apoio a FHC juntamente com os outros sete governadores do PMDB, mas mudou de idéia na semana passada.
Ele afirmou que o partido deverá ter candidato próprio desde que viabilize uma candidatura forte. Considera Itamar um candidato "consistente", mas acredita que o ex-presidente precisa transmitir mais segurança aos convencionais peemedebistas.
"Eu preciso ter a convicção plena de que a candidatura dele é irreversível. Até agora não senti essa firmeza. Não podemos decidir entre Fernando Henrique e uma indefinição", disse o governador.
Paulo Afonso também aproveitou para cobrar mais atenção do governo federal com o seu governo. Para ele, o Planalto precisa dar-lhe, no mínimo, um tratamento idêntico ao que dispensa ao senador Esperidião Amin (PPB), seu adversário no Estado.
O governador lembrou que tem obras em andamento no Estado que contam com recursos do governo federal: "Está tudo bem encaminhado. Mas esperamos que o presidente dê a garantia de continuidade, considerando que estamos em ano eleitoral".
FHC ainda conta com a presença de dois peemedebistas no ministério -Eliseu Padilha (Transportes) e Iris Rezende (Justiça)- para tentar garantir um resultado favorável domingo que vem.
Na área parlamentar, o principal aliado de FHC é o presidente da Câmara, Michel Temer.
Manobra
O presidente nacional do PMDB, deputado Paes de Andrade (CE), vai aproveitar a reunião do diretório estadual hoje para agregar mais cinco nomes à delegação do Estado. Ele espera contar com 90% dos 32 votos do Ceará.
Paes afirma que estará apenas substituindo nomes que deixaram o partido. Um dirigente estadual afirmou, porém, que o preenchimento das vagas não pode ser feito a uma semana da realização da convenção nacional. Poderá haver recurso dos governistas contra a decisão do presidente do partido.
O presidente regional do Ceará, o ex-senador Mauro Benevides, está pressionado e evita entrar na disputa. Ele é assessor do Ministério da Justiça e preside um diretório amplamente favorável à candidatura própria.
Pressão governista
Os governistas pediram a FHC que converse com líderes que podem decidir a votação e tendem para a candidatura própria. Estão na lista dos governistas o governador Paulo Afonso e a deputada Rita Camata (ES).
O presidente do diretório do Rio de Janeiro, deputado Moreira Franco, é contra o assédio de FHC aos convencionais. "O presidente foi longe demais. Ele tem de deixar que nós do PMDB resolvamos os nossos problemas", afirmou.
Rita Camata tem três votos e pode influenciar mais três. Seu marido, o senador Gerson Camata, pré-candidato ao governo do Estado, defende o apoio a FHC. O diretório vai se reunir hoje.
No Mato Grosso, uma reunião amanhã deverá consolidar a tendência favorável à coligação do partido com FHC.



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