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SOMBRA NO PLANALTO
Empresário de bingos Carlos Martins, que depôs ao Ministério Público, nega que tenha divulgado nova fita do caso Waldomiro
Acusado queria ir a Dirceu, diz ex-amigo
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dos personagens centrais
do caso Waldomiro Diniz, o empresário de bingos Carlos Martins
disse ontem ter sido procurado há
cerca de 20 dias por Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que
atua no setor de loterias. Na ocasião, Cachoeira teria dito: "Eu
consigo falar com o Zé Dirceu. Eu
consigo chegar até o Zé Dirceu".
Pelo relato de Martins, Cachoeira se encontrou com ele em um
quarto do hotel Address, em
Goiânia (GO). Queria fazer um
contato com o ministro-chefe da
Casa Civil para tentar "clarear toda essa história".
Martins afirma que Cachoeira
"estava se sentindo prejudicado".
E mais: "A proposta era que nós
fôssemos, que eu fosse -eu iria e
ele arrumaria uma situação para
que a gente pudesse chegar até o
senhor José Dirceu".
A notoriedade de Martins no
caso Waldomiro se deve ao fato
de ele ter sido uma das duas testemunhas que deram depoimento
ao Ministério Público relatando
como eram os negócios de Cachoeira. A outra testemunha foi
Messias Ribeiro, que também
atuava com jogos ilegais, e que
hoje não fala com a mídia.
A Folha falou ontem de tarde
com Martins. Segundo ele, sua intenção é debelar um rumor propagado ontem em Brasília -o de
que ele teria sido portador de uma
fita de áudio entregue à Rede Globo, contendo parte do depoimento que Cachoeira prestou ao Ministério Público. A seguir, trechos
da entrevista de Carlos Martins:
Folha - O sr. foi procurado por
Carlos Cachoeira?
Carlos Martins - Fui. Faz uns 20
dias, mais ou menos. Ele me ligou
aproximadamente umas 14h para
me avisar de uma matéria que tinha saído no "Correio Braziliense". Disse que precisava conversar
comigo. A situação já estava meio
esquisita. Eu disse para ele que arrumaria um hotel. Ele veio por
volta das 18h.
Folha - O sr. já estava hospedado
no hotel?
Martins - Não. Eu fui para o hotel
e peguei um apartamento. Era o
hotel Address.
Folha - Por que esse hotel?
Martins - Porque o meu negócio
é lá também, na avenida República do Líbano.
Folha - Cachoeira chegou por volta das 18h. E daí?
Martins - Subiu para o quarto,
sozinho. Veio comentar o que estava acontecendo. Veio fazer uma
proposta para que eu o ajudasse.
Folha - Como assim?
Martins - Ele estava se sentido
prejudicado. A proposta era que
nós fôssemos, que eu fosse -eu
iria e ele arrumaria uma situação
para que a gente pudesse chegar
até o senhor José Dirceu para clarear toda essa história.
Folha - E o sr.?
Martins - Eu disse: "Você é louco!". Disse a ele que não tinha nada a ver com essa história, e ele vinha me pedir para ajudá-lo?
Folha - E ele?
Martins - Ele disse que eu era
uma pessoa que tinha credibilidade dentro dessa história toda. Eu
disse que só tinha sido convocado
a depor porque tinham colocado
meu nome lá. Daí ele falou que a
única maneira que ele tinha de
reorganizar a vida era essa.
Folha - Em que contexto exatamente ele citou o nome do ministro
José Dirceu?
Martins - Ele disse: "Eu consigo
falar com o Zé Dirceu. Eu consigo
chegar até o Zé Dirceu".
Folha - Ele chegou a dizer como se
daria tal contato?
Martins - Não. Eu não perguntei.
Para mim não interessava.
Folha - O sr. acha que quando Cachoeira o procurou ele já estava
pretendendo divulgar a conversa
gravada com o subprocurador?
Martins - Eu não sei até onde vai
o raciocínio desse Carlos Cachoeira. Mas ele já provou que
grava tudo, filma tudo.
Folha - Cachoeira diz não ter divulgado a fita de áudio. Quem o sr.
acha que poderia ter divulgado essa gravação?
Martins - Nem imagino quem
poderia ter feito isso.
Folha - Poderia ter sido ele próprio, Cachoeira?
Martins - Do jeito que ele é louco,
eu não duvido de mais nada que
ele possa fazer. Mas uma coisa
quero deixar claro: eu não tenho
nada com isso de divulgar essa fita
de áudio. Se alguém disser que fui
eu, vamos ter de fazer uma acareação e vão reconhecer que não
fui eu.
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