São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

Empresário de bingos Carlos Martins, que depôs ao Ministério Público, nega que tenha divulgado nova fita do caso Waldomiro

Acusado queria ir a Dirceu, diz ex-amigo

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dos personagens centrais do caso Waldomiro Diniz, o empresário de bingos Carlos Martins disse ontem ter sido procurado há cerca de 20 dias por Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que atua no setor de loterias. Na ocasião, Cachoeira teria dito: "Eu consigo falar com o Zé Dirceu. Eu consigo chegar até o Zé Dirceu".
Pelo relato de Martins, Cachoeira se encontrou com ele em um quarto do hotel Address, em Goiânia (GO). Queria fazer um contato com o ministro-chefe da Casa Civil para tentar "clarear toda essa história".
Martins afirma que Cachoeira "estava se sentindo prejudicado". E mais: "A proposta era que nós fôssemos, que eu fosse -eu iria e ele arrumaria uma situação para que a gente pudesse chegar até o senhor José Dirceu".
A notoriedade de Martins no caso Waldomiro se deve ao fato de ele ter sido uma das duas testemunhas que deram depoimento ao Ministério Público relatando como eram os negócios de Cachoeira. A outra testemunha foi Messias Ribeiro, que também atuava com jogos ilegais, e que hoje não fala com a mídia.
A Folha falou ontem de tarde com Martins. Segundo ele, sua intenção é debelar um rumor propagado ontem em Brasília -o de que ele teria sido portador de uma fita de áudio entregue à Rede Globo, contendo parte do depoimento que Cachoeira prestou ao Ministério Público. A seguir, trechos da entrevista de Carlos Martins:

 

Folha - O sr. foi procurado por Carlos Cachoeira?
Carlos Martins -
Fui. Faz uns 20 dias, mais ou menos. Ele me ligou aproximadamente umas 14h para me avisar de uma matéria que tinha saído no "Correio Braziliense". Disse que precisava conversar comigo. A situação já estava meio esquisita. Eu disse para ele que arrumaria um hotel. Ele veio por volta das 18h.

Folha - O sr. já estava hospedado no hotel?
Martins -
Não. Eu fui para o hotel e peguei um apartamento. Era o hotel Address.

Folha - Por que esse hotel?
Martins -
Porque o meu negócio é lá também, na avenida República do Líbano.

Folha - Cachoeira chegou por volta das 18h. E daí?
Martins -
Subiu para o quarto, sozinho. Veio comentar o que estava acontecendo. Veio fazer uma proposta para que eu o ajudasse.

Folha - Como assim?
Martins -
Ele estava se sentido prejudicado. A proposta era que nós fôssemos, que eu fosse -eu iria e ele arrumaria uma situação para que a gente pudesse chegar até o senhor José Dirceu para clarear toda essa história.

Folha - E o sr.?
Martins -
Eu disse: "Você é louco!". Disse a ele que não tinha nada a ver com essa história, e ele vinha me pedir para ajudá-lo?

Folha - E ele?
Martins -
Ele disse que eu era uma pessoa que tinha credibilidade dentro dessa história toda. Eu disse que só tinha sido convocado a depor porque tinham colocado meu nome lá. Daí ele falou que a única maneira que ele tinha de reorganizar a vida era essa.

Folha - Em que contexto exatamente ele citou o nome do ministro José Dirceu?
Martins -
Ele disse: "Eu consigo falar com o Zé Dirceu. Eu consigo chegar até o Zé Dirceu".

Folha - Ele chegou a dizer como se daria tal contato?
Martins -
Não. Eu não perguntei. Para mim não interessava.

Folha - O sr. acha que quando Cachoeira o procurou ele já estava pretendendo divulgar a conversa gravada com o subprocurador?
Martins -
Eu não sei até onde vai o raciocínio desse Carlos Cachoeira. Mas ele já provou que grava tudo, filma tudo.

Folha - Cachoeira diz não ter divulgado a fita de áudio. Quem o sr. acha que poderia ter divulgado essa gravação?
Martins -
Nem imagino quem poderia ter feito isso.

Folha - Poderia ter sido ele próprio, Cachoeira?
Martins -
Do jeito que ele é louco, eu não duvido de mais nada que ele possa fazer. Mas uma coisa quero deixar claro: eu não tenho nada com isso de divulgar essa fita de áudio. Se alguém disser que fui eu, vamos ter de fazer uma acareação e vão reconhecer que não fui eu.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: CPI do Rio quer ouvir citados por ex-secretário
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.