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JANIO DE FREITAS
Os aliados
O inconveniente maior
da atitude do subprocurador-geral José Roberto Santoro, que agora aparece em fita
falando dos seus propósitos de
prejudicar ou derrubar o governo, é engrossar as pretensões de
restringir poderes e meios do Ministério Público e, em especial, da
Procuradoria Geral da República. O que José Dirceu, defensor
das restrições, chamou de "pôr os
pingos nos is" dos procuradores.
O que o país precisa é, porém,
exatamente o contrário: a Procuradoria mais forte e com poderes
investigatórios consolidados.
A melhor prova, nesse sentido,
está no fato mesmo de que até
um subprocurador-geral é surpreendido na prática do mais
novo hábito das ilegalidades brasileiras: o uso de gravação clandestina com fins ilícitos.
José Roberto Santoro não é estreante em casos escandalosos
que deveriam apresentar um
procurador da República em
condições menos contestáveis.
Sua notoriedade começa quando
teve nome e atividades ligadas a
José Serra, no Ministério da Saúde. Pouco depois estava envolvido na liquidação da candidatura
presidencial de Roseana Sarney,
o que abriu caminho ao entendimento do PSDB com o PFL para
a candidatura de Serra. Não se
conhecem provas, mas não são
poucos os que consideram haver
indícios suficientes para atribuir
ao subprocurador José Roberto
Santoro a operação da Polícia
Federal que apreendeu dinheiro
e documentos na empresa Lunus, de Jorge Murad, marido de
Roseana Sarney.
Esse episódio desdobrou-se em
outro, no âmbito ainda da ação
em nome da Procuradoria, que
realçou também a participação
de José Roberto Santoro. Foi a
transferência, para Goiás, da papelada apreendida no Maranhão, criando-se um caso exótico
com a Justiça, que precisou proibir a abertura e determinar seu
recolhimento ao destino apropriado. Entre as impropriedades
questionadas estava a participação de José Roberto Santoro.
A conversa agora revelada de
José Roberto Santoro, com seu
declarado propósito meramente
político, é a procura de convencer
o tal Carlos Cachoeira a entregar
a fita comprometedora de Waldomiro Diniz. Ao ser divulgada
essa fita, o senador Antero Paes e
Barros, do PSDB, disse que entregara a cópia recebida, com procedência não declarada, à Procuradoria da República para as
providências adequadas. Sua explicação foi aceita. Até terça-feira. Desde então, a nova conversa
gravada leva a uma outra hipótese, bem aceita: o senador do
PSDB, em vez de mandar a fita,
recebeu-a de um procurador,
que a teria recebido de Carlos
Cachoeira. Quem poderia ser?
Derrubada do governo e outras
afirmações constantes da conversa de Santoro e Cachoeira
são, é claro, exageros de presunção. Mas o propósito da perturbação política é real e confesso.
Logo, o que a gravação expõe e
explica é uma articulação de
parte do PSDB com um procurador da República para produzir
uma fermentação de fins políticos e partidários. O que parece
dar sentido ao aparente despropósito do jantar que Fernando
Henrique Cardoso ofereceu a dirigente do PSDB e, depois, cuidou de propagar que o fizera para recomendar contenção no
ataque ao governo. O famoso
"não me comprometam".
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