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Documento revela ata de reunião do presidente Lyndon Johnson com seus assessores de segurança sobre o golpe no Brasil
EUA enviariam armas em 16 horas ao país
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Documento divulgado ontem
pela ONG The National Security
Archive revela que o então presidente dos EUA, Lyndon Johnson,
reuniu há exatos 40 anos seus
principais assessores de segurança para discutir os desdobramentos do golpe militar iniciado no
dia anterior no Brasil e avaliar a
necessidade de uma intervenção
norte-americana no país.
Entre as medidas relatadas ao
presidente pelo secretário da Defesa, Robert McNamara, estava o
envio aéreo de armas e munições,
que poderiam chegar ao Brasil
apenas 16 horas depois do aval de
Johnson (presidente dos EUA entre 63 e 69). Segundo ele, o carregamento estava sendo preparado
em Nova Jersey no momento em
que ocorria a reunião.
Além de Johnson e de McNamara, participaram também da
reunião o secretário de Estado,
Dean Rusk, o chefe do Estado-Maior conjunto, general Maxwell
Taylor, e o diretor da CIA (inteligência americana), John McCone.
O único assunto da reunião, segundo o memorando: "Brazil".
Em seu informe ao presidente
sobre a ajuda militar americana,
McNamara também relata o envio de uma força-tarefa por via
marítima (composta por um porta-aviões e outros sete navios militares), que chegaria à região de
Santos por volta do dia 11 de abril.
Sete linhas das medidas de
McNamara foram retiradas do
documento divulgado, pois continuam sob sigilo.
Preocupados com um possível
"vazamento" sobre a força-tarefa,
ficou decidido que "as perguntas
da imprensa relativas ao movimento da Marinha serão tratadas
como questões de rotina e que essa movimentação não será retratada como uma iniciativa de contingência que tenha qualquer relação com o Brasil".
Uma "nova Cuba"
Esses preparativos fazem parte
da operação que recebeu o nome
de "Brother Sam". Nenhuma das
ações foi levada adiante pelos
EUA, já que praticamente não
houve resistência ao golpe militar.
"A reunião revela a importância
que o Brasil tinha para os Estados
Unidos", disse à Folha o historiador Marco Villa. "Os EUA não
deixariam que o país virasse uma
nova Cuba."
Para Villa, no entanto, os Estados Unidos "superestimaram a
força militar que Goulart tinha".
McNamara também informou
na reunião que estava à disposição, no Atlântico sul, um petroleiro da Esso "carregado com gasolina para motor e avião". "Está indo em direção a Buenos Aires,
mas poderia chegar lá [no Brasil]
no dia 5 ou 6 de abril", afirma.
Essa informação revela a urgência com que os EUA trataram de
se preparar para ajudar os golpistas. Às 13 horas do dia 31 de março, o então embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, enviou um telegrama ao Departamento de Estado sobre o problema. Citando o representante da
Esso no Brasil, disse que não havia nenhum petroleiro à disposição no Atlântico sul.
O petroleiro da Esso serviria como uma ajuda emergencial, uma
vez que os EUA já haviam enviado três petroleiros vindos do Caribe, mas que não chegariam antes
do dia 10 de abril.
Notícias tranquilizadoras
O encontro começou com as
"boas" notícias enviadas por Gordon ao Departamento de Estado,
às 10h do mesmo dia, 1º de abril.
"A situação dos insurgentes parecia ser mais favorável do que estivera na noite anterior, especialmente em vista dos indicativos de
que o general [Amaury] Kruel está deslocando tropas do Segundo
Exército para a divisa de São Paulo", relatou um assessor da CIA,
identificado como coronel King.
O secretário Rusk completou o
relato afirmando que Gordon
"não defendia o apoio dos EUA
neste momento. Apenas os paulistas solicitaram tal ajuda, e o fizeram sem definição".
Para Rusk, seria um erro àquela
altura dos acontecimentos "entregar a João Goulart uma bandeira
antiianque".
No documento, não aparece nenhum comentário de Johnson sobre o Brasil -mas é possível que
esteja em um dos quatro trechos
não divulgados.
Gordon tem afirmado que nunca se planejou uma intervenção
militar direta no Brasil. De fato,
não se conhece nenhum documento cogitando o envio de tropas ao país.
Em depoimento ao Senado
americano, disse que o golpe "foi
100% brasileiro, e não 99,4%",
conforme relatou no seu livro "A
Segunda Chance do Brasil".
Arquivos na internet
O memorando da reunião e outros documentos podem ser acessados gratuitamente no site do
The National Security Archive
(www.nsarchive.org), que tem sede em Washington.
Segundo o pesquisador Peter
Kornbluh, responsável pela organização dos documentos sobre o
Brasil, ainda há pouco material
divulgado sobre o envolvimento
americano militar em 1964, quando se compara com os casos do
Chile e da Argentina.
"Diferentemente desses dois
países, não houve tanta pressão
política nos EUA para liberar os
documentos sobre o Brasil", disse
o pesquisador à Folha.
Para Kornbluh, ainda não foram divulgados documentos sobre operações sigilosas da CIA no
Brasil durante aquele período.
Villa, no entanto, diz que é mais
fácil obter documentos sobre a ditadura militar brasileira nos Estados Unidos do que aqui. "Enquanto sabemos quase tudo sobre
os EUA e o golpe, não sabemos
quase nada sobre o Brasil."
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