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ELEIÇÕES 2006/DANÇA DAS CADEIRAS
Ex-ministro elogia Lula, critica violação de sigilo e diz que todos os adversários do governo têm "um petista atravessado na goela"
Fora do governo, Ciro ataca PT e Palocci
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em entrevista convocada para
que fizesse um balanço de sua
gestão no Ministério da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB-CE) despejou ontem ataques diretos ao PT e indiretos ao ex-ministro Antonio Palocci Filho, que
deixou o governo sob a acusação
de ter articulado a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.
"Se algum poderoso invadiu
uma franquia democrática do
Francenildo, eu quero que pague
e pague caro, pela falta de escrúpulo e pela burrice com que se
comportou no episódio", disse
Ciro, pouco depois de ter defendido o "humilde personagem"
Francenildo e ter elogiado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
por demitir o "homem mais poderoso" do governo petista.
"O Palocci foi demitido. O homem mais poderoso, no jargão da
imprensa, foi demitido. Ou seja, o
presidente Lula, que porta a hegemonia moral do país no Executivo, não contemporizou. Quando
ele entendeu que havia uma
transgressão, ele agiu", afirmou.
Ciro disse não ser o "monstrengo" e "malucão" (imagem, segundo ele, criada pelos tucanos), fez
elogios a Lula e atacou a "demagogia" da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pelo ato anteontem em defesa do caseiro.
A crítica à seção paulista da
OAB ocorreu quando questionado se havia um clima de "golpe"
contra o governo. "Alguém ainda
fez isso [tentativa de golpe] em
um ato na OAB. Foi uma exploração demagógica de um humilde
personagem da vida social brasileira. Meia dúzia de burguesotes à
toa fizeram discursos pelo impeachment do presidente."
Antes disso, porém, criticou a
forma como o PT se apresentava
em relação à ética. "Aquele comportamento de monopolista da
ética, tem dez mil discursos meus
denunciando lá atrás. Pára com
isso, que papo é esse?"
Ao sugerir a possibilidade de falha humana quando alguém chega ao poder, Ciro citou o escritor e
filósofo francês Montesquieu
(1689-1755). "O homem é falho.
Mesmo um homem honesto,
mesmo bem intencionado, mesmo um homem virtuoso, ao alterar o poder, é falho, frágil, vulnerável, por coração, por omissão. É
o poder que tenta (...) Então não
temos que ter um susto com isso.
O PT não leu Montesquieu, e vivia
fazendo essa história, com o chicote moral da nação."
E prosseguiu: "E uma parte desse calor [denúncias] não é eleitoral. Aí é 80% eleitoral, 10% real e
10% vingança. Não tem um camarada desses aí que não tenha um
petista atravessado na goela."
Ontem, Ciro levou o ex-secretário-executivo Márcio Lacerda ao
local da entrevista. Ele fora exonerado do cargo no ano passado assim que seu nome apareceu como
um dos supostos beneficiários do
caixa dois petista. Inocentado pela Polícia Federal e pela CPI dos
Correios, Lacerda pode retornar à
pasta com a ascensão de Pedro
Brito ao cargo de ministro.
"Eu queria, neste ato, reparar
uma injustiça que por meses a fio
feriu uma pessoa e, mais do que
uma pessoa de fibra, uma família
honrada, digna, simples, que em
meio aos escândalos foi injustamente envolvido. Eu já sabia, desde o primeiro momento, da sua
inocência."
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