São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Só jornalistas e brasileiros notam passagem de Lula por Washington

Clima na capital dos EUA contrasta com paralisia de São Paulo na visita de Bush

DENYSE GODOY
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

Acostumada a receber chefes de Estado com freqüência, Washington mal se deu conta da presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no país ontem. A cidade comemorava neste final de semana as cerejeiras, que começam a florir.
Sábado, manhã de sol, temperatura perto dos 15 graus, alguns poucos turistas se aproximaram dos bloqueios que circundavam a Blair House -residência oficial para hóspedes dos presidentes dos EUA- e se surpreendiam ao saber que era o líder brasileiro quem estava lá desde a noite anterior. A notícia do encontro entre George W. Bush e Lula teve pouco destaque nos jornais locais.
A Blair House fica na avenida Pensilvânia -do outro lado da rua, a cerca de cem metros, está a Casa Branca. É formada por quatro pequenos prédios de três andares ("town houses").
O principal deles, onde Lula pernoitou, foi construído em 1824, para moradia de um médico e sua família. Em 1942, foi adquirido pelo governo americano. Uma bandeira brasileira ontem tremulava na fachada -bandeira na qual o losango amarelo aparecia desproporcionalmente pequeno..
Antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, as vias e praças ao redor eram abertas ao público. Agora, tudo está cercado por grades de ferro de um metro e meio de altura. Guardas do serviço secreto uniformizado e agentes à paisana faziam a vigilância.

Comitiva modesta
O esquema de segurança para a visita de Lula, porém, era bem simples. Revistas pessoais, detectores de metais, cães farejadores examinando bolsas e equipamentos. Tudo tranqüilo, organizado. Nem dá para comparar com o que aconteceu quando Bush viajou ao Brasil, no início do mês passado, quando a cidade de São Paulo parou para dar passagem à comitiva do americano.
A comitiva de Lula em Washington contava com apenas cinco veículos e poucos batedores. Não havia ambulância junto, porque os trajetos em terra eram curtos, e, em caso de emergência, seria fácil rumar para um hospital próximo.
Quando Bush passou por São Paulo com uma comitiva de 20 carros, outros 20 da polícia local os acompanharam. Cachorros farejadores, agentes do serviço secreto americano, revista detalhada a todos os que chegassem perto dos locais visitados por ele, cerca de 4.000 homens mobilizados. Com o fechamento de ruas, seus deslocamentos provocaram congestionamento no trânsito da capital paulista. Até o aeroporto internacional de Guarulhos foi fechado para o pouso do Air Force One, avião do presidente americano, o que causou atrasos nos vôos.

Fã de Lula
A estudante cearense Ana Paula Meireles, 24, perguntava-se se teria uma chance de abordar Lula. A um segurança, entregou uma carta de apoio ao presidente. "Aprecio o trabalho dele", explicou. "Apesar de todos os problemas que o país tem, reconheço a sua preocupação com os mais pobres."
Ela, quatro amigas universitárias em Washington que havia arrastado consigo para aquele passeio e oito jornalistas eram os únicos brasileiros esperando Lula sair da casa.
Os repórteres brasileiros aguardavam talvez a única chance para abordar o presidente e questioná-lo sobre a crise nos aeroportos (leia texto sobre as declarações do presidente ao respeito do tema em Cotidiano). Ao chegar a Washington, na sexta-feira à noite, Lula os havia frustrado.
Após mais quatro horas e meia de espera, o presidente finalmente apareceu. Respondeu a três perguntas e foi embora, rumo a Camp David. Nem mesmo Ana Paula, aos gritos, conseguiu chamar sua atenção.


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