|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Só jornalistas e brasileiros notam
passagem de Lula por Washington
Clima na capital dos EUA contrasta com paralisia de São Paulo na visita de Bush
DENYSE GODOY
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
Acostumada a receber chefes
de Estado com freqüência,
Washington mal se deu conta
da presença do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no país ontem. A cidade comemorava
neste final de semana as cerejeiras, que começam a florir.
Sábado, manhã de sol, temperatura perto dos 15 graus, alguns poucos turistas se aproximaram dos bloqueios que circundavam a Blair House -residência oficial para hóspedes
dos presidentes dos EUA- e se
surpreendiam ao saber que era
o líder brasileiro quem estava lá
desde a noite anterior. A notícia do encontro entre George
W. Bush e Lula teve pouco destaque nos jornais locais.
A Blair House fica na avenida
Pensilvânia -do outro lado da
rua, a cerca de cem metros, está
a Casa Branca. É formada por
quatro pequenos prédios de
três andares ("town houses").
O principal deles, onde Lula
pernoitou, foi construído em
1824, para moradia de um médico e sua família. Em 1942, foi
adquirido pelo governo americano. Uma bandeira brasileira
ontem tremulava na fachada
-bandeira na qual o losango
amarelo aparecia desproporcionalmente pequeno..
Antes dos atentados de 11 de
setembro de 2001, as vias e praças ao redor eram abertas ao
público. Agora, tudo está cercado por grades de ferro de um
metro e meio de altura. Guardas do serviço secreto uniformizado e agentes à paisana faziam a vigilância.
Comitiva modesta
O esquema de segurança para a visita de Lula, porém, era
bem simples. Revistas pessoais,
detectores de metais, cães farejadores examinando bolsas e
equipamentos. Tudo tranqüilo,
organizado. Nem dá para comparar com o que aconteceu
quando Bush viajou ao Brasil,
no início do mês passado, quando a cidade de São Paulo parou
para dar passagem à comitiva
do americano.
A comitiva de Lula em Washington contava com apenas
cinco veículos e poucos batedores. Não havia ambulância junto, porque os trajetos em terra
eram curtos, e, em caso de
emergência, seria fácil rumar
para um hospital próximo.
Quando Bush passou por São
Paulo com uma comitiva de 20
carros, outros 20 da polícia local os acompanharam. Cachorros farejadores, agentes do serviço secreto americano, revista
detalhada a todos os que chegassem perto dos locais visitados por ele, cerca de 4.000 homens mobilizados. Com o fechamento de ruas, seus deslocamentos provocaram congestionamento no trânsito da capital paulista. Até o aeroporto
internacional de Guarulhos foi
fechado para o pouso do Air
Force One, avião do presidente
americano, o que causou atrasos nos vôos.
Fã de Lula
A estudante cearense Ana
Paula Meireles, 24, perguntava-se se teria uma chance de
abordar Lula. A um segurança,
entregou uma carta de apoio ao
presidente. "Aprecio o trabalho
dele", explicou. "Apesar de todos os problemas que o país
tem, reconheço a sua preocupação com os mais pobres."
Ela, quatro amigas universitárias em Washington que havia arrastado consigo para
aquele passeio e oito jornalistas
eram os únicos brasileiros esperando Lula sair da casa.
Os repórteres brasileiros
aguardavam talvez a única
chance para abordar o presidente e questioná-lo sobre a
crise nos aeroportos (leia texto
sobre as declarações do presidente ao respeito do tema em
Cotidiano). Ao chegar a Washington, na sexta-feira à noite,
Lula os havia frustrado.
Após mais quatro horas e
meia de espera, o presidente finalmente apareceu. Respondeu a três perguntas e foi embora, rumo a Camp David. Nem
mesmo Ana Paula, aos gritos,
conseguiu chamar sua atenção.
Texto Anterior: Folha vai ter novo ombudsman a partir da próxima quinta Próximo Texto: STF pode frear combate a crime financeiro Índice
|