São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Estatais rendem ganho extra de até R$ 13,2 mil a ministros

Integrantes do governo se valem dos conselhos das empresas para aumentar salários

Planalto diz que todos são obrigados a participar das reuniões para receber jetons e atuam em setores ligados às suas áreas de atuação

HUMBERTO MEDINA
VALDO CRUZ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Classificados de heróis pelo presidente Lula por aceitarem trabalhar no governo com baixos salários, ministros se valem dos conselhos de administração das estatais para melhorar sua remuneração mensal. O extra varia de R$ 800 a até R$ 13.172 por mês, como no caso dos conselheiros da cobiçada Itaipu Binacional.
A estratégia é usada não só para melhorar o rendimento de ministros de Estado mas também o de funcionários do segundo escalão, assessores especiais ligados diretamente a Lula e até por aliados dos tempos de sindicalistas do presidente.
Fora Itaipu, a média dos jetons é de R$ 2.000 mensais. O menor valor é pago pela Radiobrás, R$ 800. O maior, pela Petrobrás, R$ 4.354. Não há limite de participação em conselhos, mas sim de remuneração -no máximo duas.
Com isso, o baixo salário atacado por Lula de R$ 8.362,80 pode ficar entre R$ 14.300 e R$ 25.800 brutos se o ministro acumular seu salário com duas vagas de conselheiro. No primeiro caso, teria de estar no conselho da Petrobras e da Eletrobras (R$ 2.500). No segundo, de Itaipu e Petrobras.
Entre os ministros, Dilma Rousseff (Casa Civil), Silas Rondeau (Minas e Energia), Guido Mantega (Fazenda), Márcio Fortes (Cidades), Luiz Marinho (Previdência) e Paulo Bernardo (Planejamento) estão entre os que integram conselhos de administração de estatais e complementam seu salário de R$ 8.362,80, mais apartamento funcional ou auxílio moradia de R$ 1.800.
Rondeau ocupa cinco conselhos, mas é remunerado só em dois por conta do limite da legislação -Itaipu e Petrobras, fazendo seu salário chegar a R$ 25.800. Dilma atua no da Petrobras desde que era ministra de Minas e Energia. Mantega integra o do BNDES.
O governo justifica que todos são obrigados a participar das reuniões para receber os jetons e atuam em setores ligados à sua área de atuação ou de responsabilidade. Essa última regra, porém, não é totalmente seguida em outras esferas.
O sindicalista e bancário João Vaccari Neto, por exemplo, ocupa o assento do conselho de Itaipu Binacional e recebe R$ 13.172,00 brutos, cerca de R$ 9.000 líquidos, para participar das reuniões do conselho da hidrelétrica. Vaccari é filiado ao PT e à CUT (Central Única dos Trabalhadores) e segundo suplente do senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
Dois outros casos de conselheiros que atuam em estatais sem nenhuma ligação com seu trabalho de origem são assessores especiais da Presidência: Cezar Santos Alvarez no BNB (Banco do Nordeste do Brasil) e Mirian Belchior na Eletrobras.
O BNDES acolhe outros dois sindicalistas em seu conselho: um da CUT, seu ex-presidente João Felício, e outro da Força Sindical, João Pedro Moura. Por mês, recebem R$ 3.000. O banco informa que eles integram o conselho porque uma das principais fontes de recursos da instituição é o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).

Heróis
Lula chamou os ministros de heróis em cerimônia de posse de sua nova equipe. "Quando fico vendo ministros que ganhavam muito bem vindo ganhar R$ 7.000 ou R$ 8.000 eu falo: são heróis, porque tem gente da mais alta qualificação."
O salário dos ministros poderá subir dos atuais R$ 8.362,80, mais direito a moradia, para R$ 16.250 se for aprovado projeto em discussão no Congresso que corrige em 26,5% os salários dos parlamentares. Além desse reajuste, o projeto iguala o vencimento dos ministros aos dos deputados e senadores, que ganham hoje R$ 12.847, além de outras verbas de gabinete.
Os conselhos de administração são usados também nos ministérios econômicos e de infra-estrutura para atrair técnicos do setor privado ou evitar a perda de funcionários.


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