São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2008

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Líder de sem-terra é assassinado no Paraná

Polícia Civil prende cinco suspeitos do crime; presidente de Sindicato dos Comerciários é apontado como o mandante

Reportagem não conseguiu falar com os detidos, que ainda não têm defensor; Sindicato dos Comerciários local não quis se manifestar

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ORTIGUEIRA E TELÊMACO BORBA (PR)

O líder dos sem-terra Eli Dallemole, 42, foi assassinado na noite de anteontem em sua casa, no assentamento Libertação Camponesa, em Ortigueira (região central do Paraná), por dois homens encapuzados.
A Polícia Civil do Paraná prendeu ontem cinco suspeitos de envolvimento com o crime, entre eles o advogado e presidente do Sindicato dos Comerciários de Cornélio Procópio (norte do Estado), Adilson Honório de Carvalho, 35, apontado como o mandante da morte.
A reportagem não conseguiu falar com os suspeitos detidos. Eles não haviam contratado advogado. O Sindicato dos Comerciários de Cornélio Procópio não quis se pronunciar sobre a prisão de seu presidente nem informar um telefone de contato com um advogado dele.
Dallemole, da direção do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Paraná, era a principal liderança do movimento na região central do Estado. Ele foi morto com quatro disparos de revólver calibre 38. No momento em que foi assassinado, Dallemole assistia televisão com a mulher na sala de sua casa no assentamento.
Oneir Souza de Matos, 34, conhecido como "Zezinho", e Valderi Aparecido Ortiz, 27, foram reconhecidos pela mulher de Eli Dallemole como os autores do assassinato. Além deles, foram presos Genivaldo Carlos de Freitas, 32, o "Jango", e José Moacir Cordeiro, 35. Os dois teriam auxiliado os outros na fuga do local do crime, segundo o chefe da Divisão Policial de Interior, Luiz Alberto Cartaxo.
De acordo com o delegado, foi encontrada um fogueira na fazenda Copramil, onde os acusados teriam montado o acampamento para efetuar o crime. A fazenda Copramil é via de acesso entre o município de Ortigueira e o assentamento Libertação Camponesa.
Segundo Cartaxo, a fazenda serviu de base para os acusados cometerem o crime e de rota de fuga. A fazenda -em disputa judicial e bloqueada pela Justiça- havia sido invadida pelo MST em 2006. No último dia 8, um grupo de homens armados expulsaram os sem-terra.
Os cinco homens presos ontem tiveram prisão preventiva decretada pela comarca de Ortigueira na tarde de sexta-feira, acusados de formação de quadrilha, porte de arma, incêndio criminoso e tentativa de homicídio pelo ataque aos sem-terra em 8 de março.

Prisões
O secretário de Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, que apresentou os presos à imprensa em Telêmaco Borba (PR), negou que a Polícia Civil tenha demorado para cumprir os mandados de prisão preventiva, o que poderia ter evitado a morte do sem-terra: "Os mandados de prisão foram decretados na tarde de sexta-feira. Montamos o esquema, com policiais de Curitiba, para prendê-los nesta manhã. Não houve tempo".
Delazari afirmou que a rápida prisão dos acusados mostra que o governo do Paraná não vai admitir "que jagunços, pistoleiros matem pessoas engajadas em causas sociais". O MST mobilizou militantes de todo o Paraná para acompanhar o velório de Dallemole.
Na tarde de ontem, houve uma passeata silenciosa pelo centro de Ortigueira até a igreja matriz da cidade, onde o corpo foi velado até o início da noite. Depois disso o corpo foi levado para o assentamento Libertação Camponesa, distante 70 quilômetros do centro de Ortigueira.
O corpo do líder dos sem-terra será enterrado hoje em Tamarana, no norte do Paraná.


Colaborou MATHEUS PICHONELLI, da Agência Folha


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