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Líder de sem-terra é assassinado no Paraná
Polícia Civil prende cinco suspeitos do crime; presidente de Sindicato dos Comerciários é apontado como o mandante
Reportagem não conseguiu falar com os detidos, que ainda não têm defensor; Sindicato dos Comerciários local não quis se manifestar
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM ORTIGUEIRA E TELÊMACO BORBA (PR)
O líder dos sem-terra Eli Dallemole, 42, foi assassinado na
noite de anteontem em sua casa, no assentamento Libertação Camponesa, em Ortigueira
(região central do Paraná), por
dois homens encapuzados.
A Polícia Civil do Paraná
prendeu ontem cinco suspeitos
de envolvimento com o crime,
entre eles o advogado e presidente do Sindicato dos Comerciários de Cornélio Procópio
(norte do Estado), Adilson Honório de Carvalho, 35, apontado como o mandante da morte.
A reportagem não conseguiu
falar com os suspeitos detidos.
Eles não haviam contratado advogado. O Sindicato dos Comerciários de Cornélio Procópio não quis se pronunciar sobre a prisão de seu presidente
nem informar um telefone de
contato com um advogado dele.
Dallemole, da direção do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no
Paraná, era a principal liderança do movimento na região
central do Estado. Ele foi morto com quatro disparos de revólver calibre 38. No momento
em que foi assassinado, Dallemole assistia televisão com a
mulher na sala de sua casa no
assentamento.
Oneir Souza de Matos, 34,
conhecido como "Zezinho", e
Valderi Aparecido Ortiz, 27, foram reconhecidos pela mulher
de Eli Dallemole como os autores do assassinato. Além deles,
foram presos Genivaldo Carlos
de Freitas, 32, o "Jango", e José
Moacir Cordeiro, 35. Os dois
teriam auxiliado os outros na
fuga do local do crime, segundo
o chefe da Divisão Policial de
Interior, Luiz Alberto Cartaxo.
De acordo com o delegado,
foi encontrada um fogueira na
fazenda Copramil, onde os acusados teriam montado o acampamento para efetuar o crime.
A fazenda Copramil é via de
acesso entre o município de Ortigueira e o assentamento Libertação Camponesa.
Segundo Cartaxo, a fazenda
serviu de base para os acusados
cometerem o crime e de rota de
fuga. A fazenda -em disputa
judicial e bloqueada pela Justiça- havia sido invadida pelo
MST em 2006. No último dia 8,
um grupo de homens armados
expulsaram os sem-terra.
Os cinco homens presos ontem tiveram prisão preventiva
decretada pela comarca de Ortigueira na tarde de sexta-feira,
acusados de formação de quadrilha, porte de arma, incêndio
criminoso e tentativa de homicídio pelo ataque aos sem-terra
em 8 de março.
Prisões
O secretário de Segurança
Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, que apresentou os presos à imprensa em
Telêmaco Borba (PR), negou
que a Polícia Civil tenha demorado para cumprir os mandados de prisão preventiva, o que
poderia ter evitado a morte do
sem-terra: "Os mandados de
prisão foram decretados na tarde de sexta-feira. Montamos o
esquema, com policiais de Curitiba, para prendê-los nesta
manhã. Não houve tempo".
Delazari afirmou que a rápida prisão dos acusados mostra
que o governo do Paraná não
vai admitir "que jagunços, pistoleiros matem pessoas engajadas em causas sociais".
O MST mobilizou militantes
de todo o Paraná para acompanhar o velório de Dallemole.
Na tarde de ontem, houve
uma passeata silenciosa pelo
centro de Ortigueira até a igreja
matriz da cidade, onde o corpo
foi velado até o início da noite.
Depois disso o corpo foi levado
para o assentamento Libertação Camponesa, distante 70
quilômetros do centro de Ortigueira.
O corpo do líder dos sem-terra será enterrado hoje em Tamarana, no norte do Paraná.
Colaborou MATHEUS PICHONELLI,
da Agência Folha
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