São Paulo, quarta-feira, 01 de abril de 2009

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Família de Jânio tenta repatriar "20 milhões"

Relatório da PF diz que doleiro foi procurado por parentes do ex-presidente para rastrear valor em moeda não especificada


Advogado da família, segundo quem valor não foi localizado, foi grampeado em conversas com doleiro investigado em operação

DA REPORTAGEM LOCAL

Relatório de inteligência da Polícia Federal produzido durante a Operação Castelo de Areia revela que a família do ex-presidente Jânio Quadros (1917-1992) procurou ajuda na tentativa de repatriar 20 milhões em moeda não especificada, supostamente dinheiro depositado na Suíça.
Logo no começo da investigação, segundo o relatório da PF, o doleiro Kurt Paul Pickel, um dos presos e apontado como principal articulador do esquema investigado pela operação, foi procurado por Marcos Augusto Henares Vilarinho, advogado contratado pela família do ex-presidente, para tentar localizar a quantia.
O advogado diz que o acordo com a família é legal e está registrado. Ele confirma que fez um "contrato de risco" -caso localizasse o valor, ficaria com um percentual- e que procurou os serviços de "consultor" de Kurt Paul Pickel.
Vilarinho afirma, no entanto, que não conseguiu localizar o dinheiro e que, por conta dos elevados custos, todos decidiram não seguir adiante.
A Folha deixou recado ontem no celular de Jânio Quadros Neto, neto do ex-presidente da República, mas ele não ligou de volta até o fechamento desta edição.
Durante as investigações, a polícia monitorou telefonemas de Vilarinho para Kurt. No relatório da polícia, segundo a transcrição da conversa, Vilarinho diz que Jânio Neto vai até seu escritório para "tratar do negócio do avô dele".
Kurt trocou e-mails com um suposto advogado na Suíça na tentativa de localizar os recursos. "Tratam-se de fundos provavelmente substanciais (...) Sua família está brigando há muitos anos, razão pela qual pesquisas sérias não foram realizadas por eles", escreveu a PF.
"O finado Jânio Quadros era um homem inteligente, astuto e sem dúvida escondeu muito bem os fundos que possuía no exterior. Duas conexões bancárias que ele tinha em Genebra são conhecidas, mas é provável que estes fundos estejam esperando em outro lugar."
Segundo Kurt, um "adoçante" seria oferecido em caso de sucesso. O suíço solicita uma procuração dos herdeiros.
Vilarinho afirmou à Folha que a família resolveu procurar o dinheiro no exterior, após a existência dos valores ter sido levantada por Dirce Maria "Tutu" Quadros, filha do ex-presidente, que teve com o pai uma relação tumultuada e chegou a ser internada por ele em uma clínica psiquiátrica.
Em 2002, Dirce foi à Justiça para obter acesso a supostas contas bancárias que o pai mantinha no exterior para inventário e partilha de bens. Seu advogado pediu que a Justiça brasileira tentasse esclarecer na Suíça se existem ou não depósitos bancários em nome do ex-presidente naquele país.

Jânio
Jânio Quadros utilizou-se da imagem de combate à corrupção durante toda a sua carreira política. Em 1953, foi eleito para prefeito de São Paulo.
Logo, a vassoura tornou-se seu símbolo, com a promessa de "varrer" a corrupção dos órgãos públicos. Ele assumiu a prefeitura e um dos seus primeiros atos foi promover demissões em massa de funcionários, iniciando uma "cruzada moralizadora".
Jânio tornou-se governador de São Paulo em 1954 e venceu a disputa presidencial de 1960, renunciando ao cargo em agosto de 1961. Na carta de renúncia, escreveu: "Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou difamam, até com a desculpa da colaboração".
(FERNANDO BARROS DE MELLO)


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