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Família de Jânio tenta repatriar "20 milhões"
Relatório da PF diz que doleiro foi procurado por parentes do ex-presidente para rastrear valor em moeda não especificada
Advogado da família, segundo quem valor não foi localizado, foi grampeado em conversas com doleiro investigado em operação
DA REPORTAGEM LOCAL
Relatório de inteligência da
Polícia Federal produzido durante a Operação Castelo de
Areia revela que a família do ex-presidente Jânio Quadros
(1917-1992) procurou ajuda na
tentativa de repatriar 20 milhões em moeda não especificada, supostamente dinheiro depositado na Suíça.
Logo no começo da investigação, segundo o relatório da
PF, o doleiro Kurt Paul Pickel,
um dos presos e apontado como principal articulador do esquema investigado pela operação, foi procurado por Marcos
Augusto Henares Vilarinho,
advogado contratado pela família do ex-presidente, para
tentar localizar a quantia.
O advogado diz que o acordo
com a família é legal e está registrado. Ele confirma que fez
um "contrato de risco" -caso
localizasse o valor, ficaria com
um percentual- e que procurou os serviços de "consultor"
de Kurt Paul Pickel.
Vilarinho afirma, no entanto,
que não conseguiu localizar o
dinheiro e que, por conta dos
elevados custos, todos decidiram não seguir adiante.
A Folha deixou recado ontem no celular de Jânio Quadros Neto, neto do ex-presidente da República, mas ele
não ligou de volta até o fechamento desta edição.
Durante as investigações, a
polícia monitorou telefonemas
de Vilarinho para Kurt. No relatório da polícia, segundo a
transcrição da conversa, Vilarinho diz que Jânio Neto vai até
seu escritório para "tratar do
negócio do avô dele".
Kurt trocou e-mails com um
suposto advogado na Suíça na
tentativa de localizar os recursos. "Tratam-se de fundos provavelmente substanciais (...)
Sua família está brigando há
muitos anos, razão pela qual
pesquisas sérias não foram realizadas por eles", escreveu a PF.
"O finado Jânio Quadros era
um homem inteligente, astuto
e sem dúvida escondeu muito
bem os fundos que possuía no
exterior. Duas conexões bancárias que ele tinha em Genebra
são conhecidas, mas é provável
que estes fundos estejam esperando em outro lugar."
Segundo Kurt, um "adoçante" seria oferecido em caso de
sucesso. O suíço solicita uma
procuração dos herdeiros.
Vilarinho afirmou à Folha
que a família resolveu procurar
o dinheiro no exterior, após a
existência dos valores ter sido
levantada por Dirce Maria "Tutu" Quadros, filha do ex-presidente, que teve com o pai uma
relação tumultuada e chegou a
ser internada por ele em uma
clínica psiquiátrica.
Em 2002, Dirce foi à Justiça
para obter acesso a supostas
contas bancárias que o pai
mantinha no exterior para inventário e partilha de bens. Seu
advogado pediu que a Justiça
brasileira tentasse esclarecer
na Suíça se existem ou não depósitos bancários em nome do
ex-presidente naquele país.
Jânio
Jânio Quadros utilizou-se da
imagem de combate à corrupção durante toda a sua carreira
política. Em 1953, foi eleito para prefeito de São Paulo.
Logo, a vassoura tornou-se
seu símbolo, com a promessa
de "varrer" a corrupção dos órgãos públicos. Ele assumiu a
prefeitura e um dos seus primeiros atos foi promover demissões em massa de funcionários, iniciando uma "cruzada
moralizadora".
Jânio tornou-se governador
de São Paulo em 1954 e venceu
a disputa presidencial de 1960,
renunciando ao cargo em agosto de 1961. Na carta de renúncia, escreveu: "Forças terríveis
levantam-se contra mim e me
intrigam ou difamam, até com a
desculpa da colaboração".
(FERNANDO BARROS DE MELLO)
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