São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2010

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ANÁLISE

Perdas e ganhos da desincompatibilização

LUIZ GUILHERME PIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Passada a Páscoa, José Serra e Dilma Rousseff se entregarão à campanha sem os constrangimentos e sem as benesses dos cargos que até ontem ocuparam. Não têm escolha, nem poderão voltar atrás e tentar reassumir as prerrogativas, embora ainda haja brechas para desfrutarem os bônus das funções. Entre as benesses que perderão está a de anunciar e inaugurar obras e programas. Além de gerar visibilidade, tais eventos (Rodoanel, PAC 2 etc.) criam simpatia com o público e agradam aos financiadores. Campanhas eleitorais são caras -as presidenciais, então, custam os olhos da cara-, e sem apoio financeiro não se disputa um cargo tão importante.
Grandes financiadores em geral esperam por futuras obras e programas que sustentem investimentos e retornos. Também perderão o apoio logístico do governo para suas agendas, viagens e fatos políticos. Seus partidos e aliados podem suprir, com recursos, os dois primeiro itens, mas a criação de fatos é mais subjetiva -assessoria de imprensa, marketing, carisma, senso de oportunidade e sorte costumam contar muito. Neste caso, talvez Dilma perca mais do que Serra, uma vez que sua vinculação a Lula parece fundamental para sua viabilidade e ela não poderá tê-lo a tiracolo (ou ele a ela) tão fartamente.
Mas se livrarão de constrangimentos também. Dilma se desincumbirá das tarefas atinentes à função: a gestão de temas como relações internacionais, agricultura, petróleo e saúde ficará para trás, dando à candidata desenvoltura para emitir e omitir opiniões.
E Serra se livrará, sobretudo, de eventos como a greve de professores do Estado, iniciada há quase um mês.
Certamente a imagem da Dilma gestora envolvida nos temas do governo é um ativo com o qual ela conta e do qual se afastará: no lugar, terá de construir sua figura política, ainda desconhecida. E Serra tem tentado se beneficiar dos conflitos com os grevistas -o ethos de autoridade durona ajuda nessa tarefa. A imagem que terá de construir Brasil afora, no entanto, é diferente.

LUIZ GUILHERME PIVA é diretor da LCA Consultores. Publicou "Ladrilhadores e Semeadores" (ed. 34) e "A Miséria da Economia e da Política" (Manole).



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