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ANÁLISE
Perdas e ganhos da desincompatibilização
LUIZ GUILHERME PIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Passada a Páscoa, José Serra
e Dilma Rousseff se entregarão
à campanha sem os constrangimentos e sem as benesses dos
cargos que até ontem ocuparam. Não têm escolha, nem poderão voltar atrás e tentar reassumir as prerrogativas, embora
ainda haja brechas para desfrutarem os bônus das funções.
Entre as benesses que perderão está a de anunciar e inaugurar obras e programas. Além de
gerar visibilidade, tais eventos
(Rodoanel, PAC 2 etc.) criam
simpatia com o público e agradam aos financiadores. Campanhas eleitorais são caras -as
presidenciais, então, custam os
olhos da cara-, e sem apoio financeiro não se disputa um
cargo tão importante.
Grandes
financiadores em geral esperam por futuras obras e programas que sustentem investimentos e retornos.
Também perderão o apoio
logístico do governo para suas
agendas, viagens e fatos políticos. Seus partidos e aliados podem suprir, com recursos, os
dois primeiro itens, mas a criação de fatos é mais subjetiva
-assessoria de imprensa, marketing, carisma, senso de oportunidade e sorte costumam
contar muito. Neste caso, talvez Dilma perca mais do que
Serra, uma vez que sua vinculação a Lula parece fundamental
para sua viabilidade e ela não
poderá tê-lo a tiracolo (ou ele a
ela) tão fartamente.
Mas se livrarão de constrangimentos também. Dilma se
desincumbirá das tarefas atinentes à função: a gestão de temas como relações internacionais, agricultura, petróleo e
saúde ficará para trás, dando à
candidata desenvoltura para
emitir e omitir opiniões.
E Serra se livrará, sobretudo,
de eventos como a greve de
professores do Estado, iniciada
há quase um mês.
Certamente a imagem da Dilma gestora envolvida nos temas do governo é um ativo com
o qual ela conta e do qual se
afastará: no lugar, terá de construir sua figura política, ainda
desconhecida. E Serra tem tentado se beneficiar dos conflitos
com os grevistas -o ethos de
autoridade durona ajuda nessa
tarefa. A imagem que terá de
construir Brasil afora, no entanto, é diferente.
LUIZ GUILHERME PIVA é diretor da LCA Consultores. Publicou "Ladrilhadores e Semeadores" (ed. 34) e "A Miséria da Economia e da Política" (Manole).
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