São Paulo, domingo, 01 de maio de 2005

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RUMO A 2006

Hipótese fortaleceria o ministro, além de ser saída para disputa interna do PT entre João Paulo, Marta e Mercadante

Dirceu passa a cogitar governo de São Paulo

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Reflexo de desconforto no governo federal e da avaliação de que precisa de um "atalho" para manter viva a aspiração de um dia ser candidato a presidente da República, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, admitiu em conversas reservadas recentemente a possibilidade de disputar o governo de São Paulo em 2006.
Esse lance seria uma surpresa no xadrez eleitoral petista, pois há hoje três pré-candidatos: o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, a ex-prefeita da capital Marta Suplicy e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha.
A possível candidatura de Dirceu dependerá da eventual inviabilização de Mercadante, nome preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, por ora, apoiado publicamente pelo próprio ministro da Casa Civil. O problema é que Mercadante enfrenta forte contestação na máquina partidária petista, resultado de um acerto de bastidores entre Marta e João Paulo para que unam forças contra o líder do governo no Senado.
Atualmente, Mercadante é o preferido dos prefeitos das grandes cidades da região metropolitana de São Paulo. Marta tem a máquina da capital. E João Paulo é mais popular no interior.
Ou seja, há um quadro de relativo equilíbrio que pode levar um a neutralizar o outro. Numa eventual prévia, uma união entre Marta e João Paulo poderia até derrotar Mercadante, dizem membros da Executiva Nacional do PT que conhecem bem o partido.
Para bancar Mercadante, Lula teria de pressionar o PT paulista. Em 2004, tentou, sem sucesso, levar Marta a se aliar ao PMDB.
Em 1996, Mercadante viveu situação parecida quando quis ser candidato a prefeito de São Paulo. Dois anos antes, havia sido candidato a vice-presidente na chapa de Lula. Advertido por Lula de que deveria buscar um acordo com a ex-prefeita Luiza Erundina, Mercadante confiou demais no próprio cacife. Resultado: Erundina foi a candidata em 1996.
A interlocutores de muita intimidade, Dirceu deixou escapar o desejo de, se houver condição, aparecer mais à frente como nome de consenso para pôr fim à guerra travada entre Mercadante, Marta e João Paulo.
Político de maior peso no PT, Dirceu teria a simpatia de setores que hoje apóiam Marta e João Paulo. O próprio ex-presidente da Câmara é muito próximo a Dirceu, que trabalhou sem sucesso para que ele substituísse Aldo Rebelo (Coordenação Política) na reforma ministerial engavetada por Lula há mais de um mês.
Aliás, foi a decepção de Dirceu com o resultado da reforma ministerial, na qual fez articulações por ordem de Lula e acabou mais uma vez desautorizado, que o levou a cogitar a possibilidade de ser candidato a governador.
Nas reuniões reservadas em que debateu cenários da reforma ministerial, Lula pediu a Dirceu que não fosse candidato a deputado federal para se dedicar à coordenação de sua reeleição. Como o presidente não atendeu suas ponderações, chateou-se e falou até em "divórcio amigável" com Lula, retomando a idéia de concorrer, no mínimo, a federal em 2006.

Caso Waldomiro
Pesa a favor da possibilidade de Dirceu disputar o governo paulista o desejo de minimizar a marca negativa deixada em sua imagem pelo caso Waldomiro Diniz.
Em 2004, Waldomiro, homem da confiança de Dirceu, apareceu em gravação de vídeo feita em 2002, ano em que pediu propina a um empresário. A divulgação da fita se transformou na maior crise política do governo Lula e feriu Dirceu, como mostrou pesquisa encomendada pelo próprio ministro para avaliar o dano.
Foi nesse levantamento que Dirceu incluiu uma pergunta sobre a sucessão paulista na qual se colocava como candidato. Teve intenções de voto no patamar de 10%, semelhante ao de Marta. Mercadante marcou 14%. João Paulo, 7%.
Ou seja, não foi uma marca ruim, ainda mais se comparada a candidatos de outros partidos, que apareceram com intenção menor do que a de João Paulo. Os dirigentes petistas dificilmente negariam a Dirceu a oportunidade de tentar superar o caso Waldomiro em uma eleição majoritária na qual teria boa chance, já que Lula é o favorito a presidente e puxaria votos.

Política externa e 2010
Hoje, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, lidera a lista de presidenciáveis petistas de 2010 caso Lula se reeleja em 2006. Apesar de não gostar de críticas, Palocci sempre diz que aceita os petardos petistas porque não quer se indispor com a base do partido, muito mais simpática a Dirceu.
O governo paulista seria um atalho para o ministro da Casa Civil se manter vivo na disputa com o colega da Fazenda. Movimentos seus, como a boa interlocução com os EUA e as conversas com Condoleezza Rice, secretária de Estado americana, devem ser entendidos nesse contexto. Se Palocci pode ser o queridinho dos mercados, Dirceu é um político com muito mais trânsito na esquerda latino-americana. Como segurança nacional é o interesse número um dos EUA, ele ajudaria Washington a estabilizar o subcontinente, como faz Lula.


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