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RUMO A 2006
Hipótese fortaleceria o ministro, além de ser saída para disputa interna do PT entre João Paulo, Marta e Mercadante
Dirceu passa a cogitar governo de São Paulo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Reflexo de desconforto no governo federal e da avaliação de
que precisa de um "atalho" para
manter viva a aspiração de um dia
ser candidato a presidente da República, o ministro da Casa Civil,
José Dirceu, admitiu em conversas reservadas recentemente a
possibilidade de disputar o governo de São Paulo em 2006.
Esse lance seria uma surpresa
no xadrez eleitoral petista, pois há
hoje três pré-candidatos: o líder
do governo no Senado, Aloizio
Mercadante, a ex-prefeita da capital Marta Suplicy e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha.
A possível candidatura de Dirceu dependerá da eventual inviabilização de Mercadante, nome
preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, por ora, apoiado publicamente pelo próprio ministro da Casa Civil. O problema é
que Mercadante enfrenta forte
contestação na máquina partidária petista, resultado de um acerto
de bastidores entre Marta e João
Paulo para que unam forças contra o líder do governo no Senado.
Atualmente, Mercadante é o
preferido dos prefeitos das grandes cidades da região metropolitana de São Paulo. Marta tem a
máquina da capital. E João Paulo
é mais popular no interior.
Ou seja, há um quadro de relativo equilíbrio que pode levar um a
neutralizar o outro. Numa eventual prévia, uma união entre Marta e João Paulo poderia até derrotar Mercadante, dizem membros
da Executiva Nacional do PT que
conhecem bem o partido.
Para bancar Mercadante, Lula
teria de pressionar o PT paulista.
Em 2004, tentou, sem sucesso, levar Marta a se aliar ao PMDB.
Em 1996, Mercadante viveu situação parecida quando quis ser
candidato a prefeito de São Paulo.
Dois anos antes, havia sido candidato a vice-presidente na chapa
de Lula. Advertido por Lula de
que deveria buscar um acordo
com a ex-prefeita Luiza Erundina,
Mercadante confiou demais no
próprio cacife. Resultado: Erundina foi a candidata em 1996.
A interlocutores de muita intimidade, Dirceu deixou escapar o
desejo de, se houver condição,
aparecer mais à frente como nome de consenso para pôr fim à
guerra travada entre Mercadante,
Marta e João Paulo.
Político de maior peso no PT,
Dirceu teria a simpatia de setores
que hoje apóiam Marta e João
Paulo. O próprio ex-presidente da
Câmara é muito próximo a Dirceu, que trabalhou sem sucesso
para que ele substituísse Aldo Rebelo (Coordenação Política) na
reforma ministerial engavetada
por Lula há mais de um mês.
Aliás, foi a decepção de Dirceu
com o resultado da reforma ministerial, na qual fez articulações
por ordem de Lula e acabou mais
uma vez desautorizado, que o levou a cogitar a possibilidade de
ser candidato a governador.
Nas reuniões reservadas em que
debateu cenários da reforma ministerial, Lula pediu a Dirceu que
não fosse candidato a deputado
federal para se dedicar à coordenação de sua reeleição. Como o
presidente não atendeu suas ponderações, chateou-se e falou até
em "divórcio amigável" com Lula, retomando a idéia de concorrer, no mínimo, a federal em 2006.
Caso Waldomiro
Pesa a favor da possibilidade de
Dirceu disputar o governo paulista o desejo de minimizar a marca
negativa deixada em sua imagem
pelo caso Waldomiro Diniz.
Em 2004, Waldomiro, homem
da confiança de Dirceu, apareceu
em gravação de vídeo feita em
2002, ano em que pediu propina a
um empresário. A divulgação da
fita se transformou na maior crise
política do governo Lula e feriu
Dirceu, como mostrou pesquisa
encomendada pelo próprio ministro para avaliar o dano.
Foi nesse levantamento que
Dirceu incluiu uma pergunta sobre a sucessão paulista na qual se
colocava como candidato. Teve
intenções de voto no patamar de
10%, semelhante ao de Marta.
Mercadante marcou 14%. João
Paulo, 7%.
Ou seja, não foi uma marca
ruim, ainda mais se comparada a
candidatos de outros partidos,
que apareceram com intenção
menor do que a de João Paulo. Os
dirigentes petistas dificilmente
negariam a Dirceu a oportunidade de tentar superar o caso Waldomiro em uma eleição majoritária na qual teria boa chance, já que
Lula é o favorito a presidente e puxaria votos.
Política externa e 2010
Hoje, o ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, lidera a lista de presidenciáveis petistas de
2010 caso Lula se reeleja em 2006.
Apesar de não gostar de críticas,
Palocci sempre diz que aceita os
petardos petistas porque não quer
se indispor com a base do partido,
muito mais simpática a Dirceu.
O governo paulista seria um
atalho para o ministro da Casa Civil se manter vivo na disputa com
o colega da Fazenda. Movimentos
seus, como a boa interlocução
com os EUA e as conversas com
Condoleezza Rice, secretária de
Estado americana, devem ser
entendidos nesse contexto. Se Palocci pode ser o queridinho dos
mercados, Dirceu é um político
com muito mais trânsito na esquerda latino-americana. Como
segurança nacional é o interesse
número um dos EUA, ele ajudaria
Washington a estabilizar o subcontinente, como faz Lula.
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