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ELIO GASPARI
O doce golpismo da dra. Rice
A diplomacia americana
decidiu estimular a derrubada do presidente venezuelano
Hugo Chávez. Como estimulou os
golpes que derrubaram Salvador
Allende, no Chile (1973), e Jacobo
Arbenz, na Guatemala (1954). Da
mesma forma que, em 1961, o presidente John Kennedy equipou
uma força expedicionária contra
Cuba. O mesmo Kennedy que, em
julho de 1962, decidiu botar a carta do golpe militar no baralho de
sua política para o Brasil. Deu no
que deu.
Buscando um verniz teórico para uma articulação golpista, a secretária de Estado Condoleezza
Rice disse o seguinte em Brasília:
"Democracia não é só eleição.
[...] Democracia significa buscar
as oportunidades econômicas para tentar estender os benefícios. É
a promoção da boa governança,
de políticas contra a corrupção e
de serviços de saúde e educação
para as pessoas".
Democracia significa ter no governo pessoas eleitas pelo povo.
Na primeira metade do século
passado, o pai da doutora, o reverendo John Weshley Rice, não podia sentar nos bancos da frente
dos ônibus de Birmingham. Nessa
época, a liderança negra de seu
país denunciava o racismo, mas
Martin Luther King nunca disse
que seu país não era uma democracia.
Sempre que alguém diz que democracia é algo mais do que o voto, quer detonar a legitimidade de
um mandatário eleito, bater a
carteira da vontade popular. Nessa linha, ouça-se o seguinte:
"De que democracia estamos
falando? [...] De democracias [...]
que destroçaram o povo, tirando-lhe a soberania, levando-o a viver
na miséria? [...] Essas democracias [...] terminam sendo tiranias.
[...] As democracias precisam dar
um conteúdo popular, ético, de
justiça e igualdade".
É a voz do companheiro Chávez, coronel golpista de 1992, eleito presidente da Venezuela pelo
povo do lugar em 1998 e em 2000,
numa decisão confirmada por
um referendo em agosto passado.
Seu mandato tem a mesma origem e merece o mesmo respeito
que o de George Bush. A professora Rice estava na Casa Branca em
agosto de 2002, quando o governo
americano incentivou um golpe
de militares e plutocratas venezuelanos contra Chávez. Os golpistas decretaram a dissolução do
Congresso e Washington fez que
não viu. Enxotados, escafederam-se.
Quando a doutora qualifica a
democracia, atravessa a rua e vai
para a calçada onde está o coronel Chávez.
Ave Sachs, Jeffrey Bonaparte
O economista americano Jeffrey
Sachs chegou a Pindorama tendo
dito o seguinte: "Quero entender
melhor o Fome Zero".
Poderia ter feito isso antes de escrever seu último livro "The End of
Poverty" ("O Fim da Pobreza"),
que acaba de ser publicado nos Estados Unidos. Pretende ser um estudo abrangente da miséria mundial. Nele não há referência relevante ao Brasil, na pobreza ou na
riqueza do passado, do presente
ou do futuro.
O livro é bom. Ególatra, corajoso
e cruel, como nesse trecho sobre as
ekipekonômicas globais:
"O mundo rico domina a formação de economistas com PhD e esses PhDs dominam instituições internacionais como o FMI e o Banco Mundial. [...] Esses economistas
são brilhantes e motivados. Eu sei.
Treinei muitos deles. Mas as instituições onde eles trabalham pensam direito os problemas dos países onde eles operam? A resposta é
não. [...] De certa maneira, a economia do desenvolvimento de hoje se parece com a medicina do século 18, quando os doutores usavam sanguessugas para chupar o
sangue de seus pacientes".
"O Fim da Pobreza" é uma aula a
respeito da cabeça napoleônica
dos economistas de universidades
do andar de cima que se passam
por mestres-cuca para o andar de
baixo. Num capítulo de 19 páginas
sobre a assessoria que deu ao governo boliviano (deposto pela patuléia em 2003), Sachs refere-se 140
vezes ao professor Jeffrey Sachs.
Registro
O fogo da frigideira que
flambou um pedaço da ekipekonômica já estava aceso em
janeiro. Era fraquinho, para
evitar respingos.
Agenda real
A agenda de Lula da quarta-feira estava encorpada. Listava
12 itens. Normalmente o companheiro desincumbe-se de
três ou quatro compromissos
por dia.
Infelizmente, os 12 itens resultavam da anabolização de
dois acontecimentos. Lula visitou uma fazenda e uma usina
de biodiesel no Pará (gravando
para a campanha). As outras
oito atividades eram o que a
corte chama de "deslocamentos". Coisa assim: "Partida para
Belém/ chegada a Belém/ deslocamento para a fazenda/ chegada à fazenda..."
No dia em que um brasileiro
comodista que não levanta o
traseiro da cadeira levar um relatório como esse ao patrão, vai
se juntar ao 1,7 milhão de desempregados da Grande São
Paulo.
Severino Netto
Depois de estudar o discurso
que o deputado Severino Cavalcanti leu na Câmara, atacando os juros lunares de Lula, um
curioso concluiu o seguinte:
"Ou o Severino está escrevendo
os artigos do Delfim Netto ou o
Delfim escreveu um pedaço
desse discurso do Severino".
Lula 16
Baixou um espírito relativista nas cabeças das pessoas que
defendem a possibilidade, quase a certeza, de o papa Bento 16
fazer um pontificado com
idéias diferentes daquelas defendidas pelo cardeal Joseph
Ratzinger. Em bom português,
espera-se o milagre da lulificação do papa. Era uma coisa e,
no trono, virou outra.
Eremildo, o Idiota
Eremildo é um idiota e acha
que Lula tem sempre razão, inclusive quando descasca a classe média. Apesar dessa fidelidade mamífera ao companheiro, o idiota está irredutível. Vai
continuar tomando seu chopinho, "de preferência na sexta-feira", e no dia seguinte não levantará "o traseiro da cadeira
para ir ao banco mudar" (mudar o quê, o companheiro não
disse). Eremildo é idiota, mas
sabe que aos sábados os bancos
estão fechados.
Não é
Da série parece-mas-não-é,
colecionada por Andrea Matarazzo, prefeitinho do centro de
São Paulo: uma kombi meio
velha está parada no meio da
rua, longe da calçada. Demora
uns dois minutos e vai embora.
Estava enguiçada?
Não. Ela tem um fundo falso
e sua tripulação roubou a tampa de uma galeria de gás ou de
eletricidade.
Inesquecível
Apertado pelo senador Jorge
Bornhausen, que o chamou de
"ministro dos vampiros", o
companheiro Humberto Costa, ministro da Saúde, justificou com uma frase inesquecível sua passagem pelo cargo:
"Não estou aqui para ser desrespeitado. Da mesma forma
que os senadores são autoridade, eu também sou".
Se fosse um simples contribuinte do Imposto de Renda,
podia ser desrespeitado à vontade. E o doutor ainda pretende
disputar eleição.
Eletrocutado
A rapidez com que o PT fluminense eletrocutou a candidatura do ministro Ciro Gomes
ao governo do Estado ensina
que o professor Eugenio Gudin
tinha razão: "O Rio não é um
burgo podre".
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