|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Trecho de resolução, aprovado contra a vontade da cúpula do partido, prevê apuração, mas sem "caça às bruxas" e só após 2º turno
PT descarta punir petistas por mensalão
FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
No último dia de seu 13º Encontro Nacional, o PT aceitou fazer
uma apuração interna sobre os
erros que cometeu no escândalo
do mensalão, mas acabou colocando duas condições que a tornam praticamente inócua.
Não haverá investigação individualizada, ou seja, as lideranças
que montaram o esquema de financiamento ilegal de campanha
e as que dele se beneficiaram ficarão impunes. "Não faremos caça
às bruxas", disse o presidente do
partido, Ricardo Berzoini.
Ocorrerá uma apuração genérica sobre procedimentos adotados
pelo partido e que mesmo assim
só começa daqui a oito meses
-em dezembro, para não atrapalhar o calendário eleitoral.
Foi em parte uma derrota do
grupo mais ligado ao Palácio do
Planalto, formado por Berzoini e
pelos principais ministros do governo federal. Até o último momento eles queriam ignorar a crise política no encontro.
Por pressão de áreas minoritárias como Movimento PT e Democracia Socialista, no entanto,
um texto de consenso foi aprovado na manhã de ontem. "O 13º
Encontro considera que ainda
não se esgotou, no interior do
partido, o processo de discussão
sobre as origens da crise que vivemos em 2005 e apuração de responsabilidades", diz a resolução.
Mais à frente, o texto informa
que "o processo de averiguação
possui uma dimensão individual
e crítica; mas ao partido interessa,
sobremaneira, a dimensão coletiva e autocrítica, porque estamos
diante de um fenômeno de causa
e solução sistêmicas".
Ao final, o PT diz que considera
"fundamental evitar que este processo de apuração seja constrangido pela dinâmica eleitoral".
Traduzindo: apuração, só depois
do segundo turno da eleição.
"Nossa prioridade nesse ano é
reeleger o companheiro Lula",
disse o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar.
Desde que a crise estourou, em
junho do ano passado, o PT vem
demonstrando pouca disposição
em fazer um processo de depuração interna. Demorou quase cinco meses para expulsar o ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Já a proposta de enviar todos os
envolvidos para a comissão de ética interna acabou derrotada por
pressão do grupo do ex-ministro
José Dirceu (Casa Civil). Mesmo
uma versão mais moderada dessa
idéia, a formação de uma comissão de sindicância para apurar
responsabilidades, deu em nada,
sendo extinta antes mesmo de o
relatório ser votado.
De acordo com Berzoini, não é
verdade que nada tenha sido feito.
"Os parlamentares acusados foram objeto de um amplo processo
de investigação no Congresso.
Todos são pessoas de altíssima
responsabilidade e de grande honestidade. Se cometeram alguma
ilegalidade, a responsabilidade será perante a Justiça."
Para ele, o PT deve se concentrar em definir mecanismos preventivos para que a crise não se
repita. "Não queremos individualizar responsabilidades, mas tratar das questões estruturais que
podem melhorar a situação do
partido e garantir que não haja
novas crises pela frente."
Segundo a resolução aprovada,
três foram as "práticas políticas
inaceitáveis" que contribuíram
para a crise: centralização de decisões por alguns dirigentes, subestimação do papel dos movimentos sociais pelo partido e aliança
com políticos conservadores
-sem, no entanto, nominá-los.
A resolução foi festejada por alguns dos envolvidos diretamente
no escândalo. Entre os 40 indiciados por fazerem parte da "organização criminosa" do mensalão,
nas palavras do procurador-geral
da República Antonio Fernando
Souza, onze são petistas ou ex-petistas. "Não me sinto constrangido. Nunca tive tanta solidariedade concentrada", disse o deputado Professor Luizinho (SP).
Para José Mentor (SP), a resolução não apresenta nenhuma novidade. Os dois mensaleiros foram
absolvidos pela Câmara.
Texto Anterior: Outro lado: Tucanos negam operações ilegais com ex-policial Próximo Texto: Berzoini busca tesoureiro fora do PT Índice
|