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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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CÚPULA DE EVIAN

G8

Discussão sobre juros e crescimento domina viagem de Lula e sua comitiva à Europa, para a reunião do G8

Palocci diz que objetivo é "esquartejar a inflação"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LAUSANNE

O objetivo do governo é "matar e esquartejar a inflação", não apenas reduzi-la.
A frase pertence ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e serve de explicação para o fato de o Banco Central não ter reduzido os juros na reunião do mês passado de seu Comitê de Política Monetária, o Copom, fato que ainda causa muito ruído entre empresários e nos jornais.
Tanto ruído que a conversa informal que Palocci se dispôs a ter ontem com os jornalistas brasileiros que cobrem a reunião do G8 (os sete países mais ricos do mundo e a Rússia) transformou-se em um debate sobre juros, crescimento e política econômica.
O ministro acha que "não há como gerar crescimento e enfrentar o problema da inflação ao mesmo tempo". Corolário inevitável dessa tese é que a alternativa aos juros altos (e superávit fiscal também elevado) seria "tolerar a inflação".
Palocci rejeita frontalmente a hipótese: "O Brasil já fez isso no passado. Pode até haver crescimento maior no curto prazo, mas leva a um desastre absolutamente certo no longo prazo".
O ministro diz que, projetando-se os índices inflacionários dos três últimos meses de 2002 e de janeiro de 2003, chegar-se-ia a uma inflação de quase 40% ao final do ano, o primeiro do governo Lula.
Por isso, "a fase inicial do governo tinha como objetivo impedir que a inflação saísse de controle." Objetivo cumprido? Mais ou menos. "A política monetária está funcionando, mas não na velocidade que a gente gostaria. Os preços ao consumidor caem muito lentamente."
Completa o ministro: "Vivemos um momento essencial do combate à inflação, em que ela começa realmente a cair, mas precisamos dar o tiro final".
A Folha observou que o ministro talvez estivesse simplificando as coisas ao insinuar que a alternativa para crescimento seria inexoravelmente uma inflação alta.
Palocci discorda. "Não se trata de inflação versus crescimento, mas de dar condições para o Brasil crescer sem inflação." Disse que a discussão sobre juros e crescimento ocorreu também no avião que levou o presidente e comitiva a Genebra (presentes os ministros Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Celso Amorim, Relações Exteriores, e Jacques Wagner, Trabalho, além de Palocci e do assessor diplomático de Lula, Marco Aurélio Garcia).
"Redução de juros é importante, mas não é suficiente. O crescimento tem que ser trabalhado e incentivado", afirma o ministro.
O que Palocci chama de "política de crescimento" inclui aumentar o financiamento público e privado; recuperar a infra-estrutura; e adotar políticas industriais acopladas a ciência e tecnologia.
O ministro falou ainda sobre políticas industriais que estão em discussão. "É melhor demorar um pouco [para adotar as políticas] e não errar na escolha."
O ministro fez o maior empenho em negar que a política de Lula seja igual à de Fernando Henrique Cardoso. A diferença estaria dada pelas "políticas de crescimento". Além disso, Palocci nega a FHC a paternidade de programas como o de metas de inflação e o superávit fiscal.
"Superávit fiscal tem que durar tantos anos quanto durar qualquer governo", afirma Palocci. Além disso, o ministro acredita que, no nível atual, o superávit fiscal não impede o crescimento.
Não é apenas no superávit fiscal que o ministro é ortodoxo. "Redução de juros com controle cambial e política para evitar a queda do dólar, tô fora." O ministro aproveitou para negar que o fato de o governo não estar rolando a totalidade da dívida em dólares significa "escolher o valor do dólar". "O governo não tem meta de câmbio", disse.

Lula lá
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem às 9h30 (4h30 em Brasília) a Genebra. No avião, o presidente discutiu o pronunciamento que fará hoje na reunião do G8. Segundo o porta-voz da Presidência, André Singer, o presidente vai defender a criação de um fundo contra a fome e para o financiamento de uma política de infra-estrutura para os países em desenvolvimento.
Lula viajou de helicóptero até Lausanne, onde está hospedado no hotel Beau Rivage.
O presidente teve encontros bilaterais com o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, do Senegal, Abdoulaye Wade, e com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz al Saud. O governo quer estreitar relações com esses países.
Lula participou ainda da cerimônia de boas-vindas do presidente da Suíça, Pascal Couchepin.


Colaborou Maria Luiza Abbott, enviada especial a Lausanne


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