UOL

São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em Evian, presidente americano encontra pela primeira vez Jacques Chirac, o principal líder que se opôs à invasão do Iraque

França deve mostrar apoio aos EUA, diz Bush

CHARLES LAMBROSCHINI
DO "LE FIGARO"

Para o presidente norte-americano George Bush, "a Cúpula de Evian não será um encontro de confronto". "Conto com a chance de uma boa discussão com Jacques Chirac", afirmou Bush. "Será necessário, é claro, que eu trabalhe para convencer os franceses que duvidam da sinceridade norte-americana. Mas Chirac e os líderes da França devem trabalhar para convencer seus concidadãos, e mostrar que a França está pronta a cooperar com os EUA."
As declarações de Bush foram feitas a cinco jornais de cinco países que o presidente visitaria em sua nova viagem internacional -Polônia, Rússia, França, Egito e Arábia Saudita. "Le Figaro" representou a França na entrevista.
 

Pergunta - Os norte-americanos venceram sua guerra contra o Iraque. Mas, hoje, os iraquianos conhecem apenas o caos. Quanto tempo vai durar a ocupação do país pelos EUA e pelo Reino Unido?
George W. Bush -
O senhor fala como se a insegurança reinasse em toda parte. Não é verdade. A anarquia se limita a Bagdá e à região ao norte da capital. E progressos são visíveis a cada dia. Estamos conscientes das dificuldades do povo iraquiano, que espera a volta de uma vida normal.
Toda essa gente quer a segurança no cotidiano, quer comida na mesa, quer lâmpadas acesas, esgotos que funcionem. Quanto a todos esses assuntos, avançamos a cada dia. O povo iraquiano conheceu uma geração de escravidão sob o jugo de um torturador. Graças a nós, os iraquianos estão livres. Portanto, considero injusto o uso da palavra "ocupação". Os Estados Unidos e seus aliados foram à guerra para que os iraquianos pudessem instaurar o governo que preferissem, para que o petróleo iraquiano pudesse financiar a reconstrução do Iraque.
Tudo isso exige tempo. Vocês se lembram de que os norte-americanos só conseguiram concluir a redação de sua Constituição 13 anos depois da independência? Só permaneceremos pelo tempo necessário a que os iraquianos possam se autogovernar. Não temos a intenção de ser ocupantes.

Pergunta - A guerra deixou de lado a maior parte das instituições internacionais -Otan, ONU e União Européia. O que fazer para lhes devolver a eficácia?
Bush -
Prevejo papel robusto para a Otan no futuro. A aliança deve evidentemente se reformar. Para modernizar seus armamentos e se adaptar a missões que não tem mais nada a ver com sua vocação original, a de combater a ameaça soviética. A Otan deve continuar se concentrando na paz e na liberdade do mundo, como o demonstram sua presença no Afeganistão e seu apoio às atividades da Polônia no Iraque.
O mesmo vale para as Nações Unidas; devem ser capazes de responder às novas ameaças que teremos de enfrentar. É preciso, no entanto, que a ONU comece a aplicar suas resoluções. Eu o declarei na tribuna das Nações Unidas, no primeiro aniversário do ataque terrorista de 11 de Setembro. Para ser preciso, eu repeti pelo menos uma dúzia de vezes que a ONU tinha de respeitar suas próprias decisões. Não serve a ninguém fazer discursos caso estes não tenham efeito. Quando à Europa, repito: a quero unida, livre e amiga dos Estados Unidos.

Pergunta - O senhor levaria adiante reformas que conduzam à aceitação da Rússia na Otan e na Organização Mundial do Comércio?
Bush -
No que concerne à Otan, a solução chegará quando for a hora. Mas é preciso começar colocando em prática o quadro que concebemos. Essa fórmula marca um grande progresso e é testemunha das qualidades de liderança de Vladimir Putin. Apesar dos desacordos que tivemos quanto ao Iraque, podemos avançar. Devemos nos basear em nossas excelentes relações pessoais e criar uma relação estratégica que envolva todos os assuntos chave.
A entrada da Rússia na OMC depende, essencialmente, de decisões internas que o país tem de tomar para se conformar aos princípios da organização. Mas é do interesse dos EUA que a Rússia se integre a essa organização.

Pergunta - Quando de sua criação, mais de 30 anos atrás, o G7, depois ampliado com a inclusão da Rússia, tinha por objetivo coordenar as políticas econômicas dos países industrializados. Levando em conta o risco de deflação, haverá um plano de coordenação em Evian ou a solução será na base do cada um por si, com os EUA contando com a queda do dólar?
Bush -
Boa pergunta. É muito importante que tomemos o tempo necessário a discutir juntos as nossas respectivas economias. É essencial que o G7 relembre as razões que presidiram à sua criação. Nossos grandes objetivos serão difíceis de realizar se nossas economias não forem fortes.
Direi também aos meus parceiros que os Estados Unidos praticam uma política monetária e fiscal sã. Vou lhes repetir que nossa política é a de um dólar forte. Escutarei o que tiverem a me dizer sobre seus propósitos de reforma econômica. Será mais fácil a um desempregado norte-americano encontrar trabalho se nossos parceiros mais próximos tiverem economias vigorosas.

Pergunta - Numerosos líderes norte-americanos não param de repetir que a França deveria pagar o preço de sua oposição à intervenção norte-americana no Iraque. O senhor perdoou a França?
Bush -
Por ocasião desta viagem, decidi trabalhar com a França e com seus dirigentes. Mas permita-me oferecer uma resposta realista. O povo norte-americano ficou frustrado e decepcionado com a atitude francesa quanto ao Iraque. Meus concidadãos não compreenderam a decisão dos dirigentes franceses de contrariar sistematicamente os esforços norte-americanos e de nossos aliados para garantir a liberdade e a segurança do Iraque. No entanto, essa conduta negativa não influenciará em nada minha conduta quanto à França e a Europa.
Quero uma Europa unida, livre e pacífica. Quero uma Europa onde os países sejam livres para ser amigos dos Estados Unidos e participar das instituições da União Européia a um só tempo. Pode-se haver divergências entre aliados, mas aquilo que aproxima os Estados Unidos e a França, os Estados Unidos e a Europa, continua a ser infinitamente mais importante.
Nós compartilhamos dos mesmos objetivos quanto a todos os assuntos vitais. A propósito da segurança de nossas democracias, da paz do mundo e do comércio entre as nações, estamos em larga medida de acordo. A conferência de cúpula de Evian não será um encontro de confronto. Vai me oferecer uma chance de falar com os principais responsáveis políticos, quer estejam de acordo com os Estados Unidos, quer tenham divergências conosco.
A disputa entre Paris e Washington, no entanto, continua a ser fundamental. Conto com a chance de uma boa discussão com Jacques Chirac. Será necessário, é claro, que eu trabalhe para convencer os franceses que duvidam da sinceridade norte-americana. Mas Jacques Chirac e os líderes da França devem trabalhar para convencer seus concidadãos, e mostrar que a França está pronta a cooperar com os EUA.

Pergunta - O senhor não respondeu à minha primeira pergunta. Os Estados Unidos organizarão represálias contra a França?
Bush -
O senhor tenta fazer a mesma coisa que a imprensa norte-americana. Certamente respondi sua primeira pergunta. Mesmo que a resposta não o satisfaça, está gravada. Repito: terei prazer em discutir com Jacques Chirac. Vive la France!



Texto Anterior: Cúpula de Evian - G8: Palocci diz que objetivo é "esquartejar a inflação"
Próximo Texto: Frase
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.