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Funasa encerra convênios de R$ 190,5 mi
Fundação aponta descoberta de irregularidades financeiras em contratos; ONGs negam e vêem problemas com repasses
Acordos foram firmados
com 44 entidades para
assistência médica a índios;
Funasa não diz se verbas
foram todas repassadas
João Vieira - 25.mai.08/Folha Imagem
| Pintados para guerra, índios invadem sede da Funasa em Cuiabá para pedir repasse de verbas |
HUDSON CORRÊA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CÍNTIA ACAYABA
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) afirma que, "por
irregularidades financeiras e
técnicas", encerrou de 2004 a
2007 convênios no valor de R$
190,5 milhões com 44 entidades para assistência médica a
índios. ONGs ouvidas pela Folha negaram irregularidades e
apontaram problemas no repasse de verbas.
A Funasa não informou se as
entidades receberam integralmente os R$ 190,5 milhões. A
informação dependeria de dados de auditoria. A fundação
afirmou, contudo, que 90% dos
convênios foram encerrados na
data prevista para fim do contrato indicando repasse integral. Outros 10% acabaram rescindidos antes do fim, ou seja,
durante a vigência.
A FUB (Fundação Universidade de Brasília), que manteve
dois convênios com a Funasa
-em um deles no valor de R$
40,8 milhões, o maior entre as
44 ex-conveniadas-, afirmou
que os contratos estão sendo
auditados pela CGU (Controladoria Geral da União). A FUB
foi contratada para atuar na
terra indígena Ianomâmi em
Roraima e com índios em uma
área do Distrito Federal.
A Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio
Negro) iniciou o convênio em
julho de 2004 e recebeu cerca
de R$ 9 milhões para prestar
atendimento à saúde de 700 comunidades indígenas na região
do alto rio Negro (AM).
Conforme a Foirn, o convênio foi finalizado por dificuldades na relação com a Funasa.
"As parcelas dos repasses da
Funasa estavam sempre atrasadas", disse o índio wanamo
Carlos Ferraz, do setor administrativo da entidade, que nega irregularidade.
Presidente da Urihi, ONG
que atuou em ações de saúde na
terra indígena Ianomâmi,
Cláudio de Oliveira disse que
foi a entidade quem não quis
renovar o convênio com a Funasa, em 2004, por discordar
de mudanças na política de saúde indígena, as quais limitariam a ação das ONGs à contratação de pessoal, "caracterizando uma irregular triangulação
de pagamento de pessoal para o
exercício de atividades diretamente executadas pelo poder
público". Oliveira disse que a
Urihi sempre prestou contas do
dinheiro recebido e não cometeu irregularidades na administração dos recursos.
O CGTT (Conselho Geral da
Tribo Ticuna), que recebeu cerca de R$ 6 milhões da Funasa
para prestar serviços à saúde de
cerca de 49 mil índios das tribos do alto rio solimões (AM),
não teve o contrato renovado
em 2006. O encerramento
ocorreu, segundo a coordenação do conselho, porque a Funasa queria passar o atendimento da região para outra
ONG. "Tem muita manipulação do pessoal da Funasa para
passar o convênio para ONGs
ligadas a eles. Não tem nada de
desvio de dinheiro. Para mim
era briga entre brancos", disse o
índio ticuna Nino Fernandes,
coordenador da CGTT.
Escritório
Para manter atendimento
aos índios, a Funasa ainda tem
convênios com outras 49 entidades. As irregularidades, porém, continuam, apontam o
TCU (Tribunal de Contas da
União) e a própria Funasa.
Segundo auditoria do TCU
de abril, entidades que ainda
mantêm convênio com a Funasa gastaram mais com manutenção de escritório do que
com a saúde indígena.
A Secoya (Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami),
conforme o TCU, aplicou R$
2,99 milhões para cobrir despesas administrativas, gastando
apenas R$ 470 mil com saúde
indígena. A Secoya atua no
Amazonas e Roraima.
Segundo Sílvio Cavuscens,
coordenador da entidade, os
números do TCU estão errados, pois as despesas administrativas são "menos de 10% do
convênio".
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