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Penitenciárias do país abrigam 581 índios; MS lidera o ranking
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os últimos três relatórios do
Ministério da Justiça sobre a
população penitenciária do
país apontaram um contingente, em média, de 581 índios vivendo atrás das grades. Mato
Grosso do Sul tem a maior população carcerária indígena.
Em dezembro de 2007 -último relatório disponível- eram
133 índios presos no Estado, seguido por 88 no Rio Grande do
Sul, 49 em Roraima e a mesma
quantidade em Santa Catarina.
"Nós partimos do pressuposto, à medida que Estados informam que têm indígenas condenados, que se trata de um indígena aculturado. Está sintonizado com a civilização", disse o
diretor-geral do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), Maurício Kuehne.
"Mas, a preocupação com índios [presos] existe. Teve um
representante do Depen que
participou de um encontro, em
Mato Grosso do Sul, específico
para delimitar os problemas",
declarou Kuehne. O diretor se
referiu a um evento, do início
de maio, promovido pela ONG
CTI (Centro de Trabalho Indigenista), em Campo Grande
(MS), para discutir a situação
dos presos.
No caso de Mato Grosso do
Sul, a maioria dos índios está
detida por homicídios, cujas vítimas quase sempre são indígenas, e até tráfico de drogas.
Relatório do Cimi (Conselho
Indigenista Missionário) aponta que 53 índios foram assassinados em 2007 em Mato Grosso do Sul, contra 27 em 2006.
Na semana passada, a Justiça
Federal de Ji-Paraná (RO) enviou de volta o inquérito à Polícia Federal na qual 23 índios
cintas-largas foram indiciados
pelos assassinatos de 29 garimpeiros em 2004. O Ministério
Público Federal em Rondônia
quer um laudo antropológico
"para que se saiba se os índios
podem ser considerados imputáveis para a nossa legislação
penal. É considerado imputável aquela pessoa que tem
consciência para entender o caráter ilícito de sua conduta".
A dificuldade, porém, reside
em conseguir um antropólogo
que se disponha a fazer o laudo.
Consultada pela Folha sobre
a prisão de indígenas no país, a
procuradora da República Ela
Wiecko de Castilho, da Câmara
de Índios e Minorias, disse que
"um índio pode ser acusado de
crime nas mesmas situações
em que um não-índio".
Na avaliação da procuradora,
"antigamente era comum ouvir
o entendimento de que os índios ditos não "aculturados"
eram inimputáveis devido a
um desenvolvimento mental
incompleto. Essa afirmação é
etnocêntrica, preconceituosa e
sem amparo científico".
Segundo ela, "não há na lei
processual penal uma regra"
que imponha a obrigação de
um laudo antropológico. "O fato de um índio falar português,
usar celular e computador não
significa que deixe de pensar
como índio", afirma a procuradora da República.
(HUDSON CORRÊA)
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