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TÚNEL FANTASMA
Empresa irregular foi contratada por duas vezes pela CBPO
Procurador da Lavicen foi
condenado por estelionato
MARI TORTATO
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM
CURITIBA
RONALD FREITAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O contador Francisco Sacerdote, condenado pela Justiça do Paraná a dois anos e quatro meses
de prisão, é o proprietário informal da Lavicen Ltda. A empresa é
uma locadora fantasma de veículos pesados que prestou serviços à
empreiteira CBPO em pelo menos duas ocasiões: na construção
do túnel Ayrton Senna, em São
Paulo, na gestão do ex-prefeito
Paulo Maluf (1993-1997), em consórcio com a empreiteira Constran, e da rodovia Carvalho Pinto,
na gestão do ex-governador Luís
Antônio Fleury Filho (1991-1995).
Como procurador da Lavicen,
Sacerdote assinou o contrato de
aluguel de tratores e caminhões
firmado entre a empresa e a
CBPO para a construção da rodovia, em novembro de 1994, a 40
dias do fim do mandato de Fleury.
Oficialmente, os donos da locadora são Joel Gonçalves Pereira e o
sapateiro Lavino Kiil, conforme
reportagem da Folha do último
dia 17. Kiil nega que seja ou tenha
sido sócio da Lavicen.
Sacerdote foi investigado por
estelionato e falsificação em sete
inquéritos abertos pela Polícia Civil do Paraná. O primeiro, de
1974, resultou na prisão do contador em flagrante. Ele comprava
madeira a prazo e a revendia à vista por metade do preço de mercado. Seus credores nunca eram pagos. Sacerdote negociava em nome da Gramital Ltda, empresa
criada, segundo o depoente, em
1973, sem sede fixa.
A Gramital seria um restaurante
em Ponta Grossa (PR), mas foi
transformada numa prestadora
de serviços que plantava grama e
instalava drenos às margens de
rodovias. Ao depor, Sacerdote
disse que era o superintendente
da Gramital. Foi desmentido pelos sócios, que o apontaram como
fundador. A prisão gerou o processo que o condenou, em 1982.
Sacerdote fugiu para não cumprir a sentença. Perdeu todos os
recursos, mas a pena prescreveu
em 1997. Há dois anos, assumiu a
presidência do Lions Clube do
Champagnat, bairro de Curitiba.
Em março passado, foi substituído por um interventor, que tem
até o fim de julho para reestruturar o clube, sob pena de fechamento. A justificativa oficial para
o afastamento é que Sacerdote
não promovia o clube a contento.
Para a Receita Federal, o contador é contribuinte insuspeito. No
último dia 15, recebeu a devolução do Imposto de Renda pago a
mais no ano 2000. Fez parte da
primeira leva de contribuintes
ressarcidos pelo Leão. A família
Sacerdote é dona de um escritório
de contabilidade em Curitiba, registrado em nome dos filhos do
contador, João Francisco e Regiane Idalina. A ligação de Sacerdote
com a Lavicen deve lhe valer uma
convocação para falar à CPI da
Câmara Municipal de São Paulo,
que apura irregularidades no Tribunal de Contas paulistano.
O promotor Luís Salles do Nascimento, do Ministério Público
paulista, também quer ouvi-lo.
Nascimento denunciou Maluf e o
ex-secretário de Vias Públicas
Reynaldo de Barros por improbidade administrativa depois de investigar denúncias de superfaturamento do túnel Ayrton Senna.
As ações pedem a devolução de
R$ 105,89 milhões aos cofres da
prefeitura de São Paulo. A promotoria suspeita que haja relação
entre o superfaturamento e o depósito de pelo menos US$ 200 milhões em contas bancárias em nome de Maluf e de seus familiares
na ilha de Jersey, um paraíso fiscal
no canal da Mancha. Maluf nega a
existência das contas.
Outro lado
Sacerdote foi insistentemente
procurado pela Folha nas últimas
três semanas. Em todos as tentativas, a reportagem foi atendida por
seu filho, João Francisco. Ele negou os pedidos de entrevista com
seu pai e recusou-se a comentar a
folha corrida de Sacerdote e seu
envolvimento com a Lavicen.
A CBPO disse que a carta assinada pelo consórcio Constran-CBPO, publicada pela Folha em
19 de junho, servia como resposta
às novas suspeitas levantadas pela
reportagem. Na carta, a empreiteira diz que sempre tratou com o
"representante legal da Lavicen".
A assessoria de Fleury disse que
eventuais irregularidades são de
responsabilidade da empreiteira
que contratou a Lavicen.
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