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TELECOMUNICAÇÕES
Nova legislação favoreceria redes nacionais de TV e aumentaria poder do Ministério das Comunicações
Projeto de lei dá superpoderes a ministro
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O anteprojeto da lei de serviços
de radiodifusão, colocado em
consulta pública pelo ministro
das Comunicações, Pimenta da
Veiga, no último dia 21, dá superpoderes ao ministério e favorece
as redes nacionais de televisão já
instaladas no país.
O projeto é mais favorável às redes nacionais de televisão do que
a versão preparada pelo Ministério das Comunicações em 1998,
segundo as orientações deixadas
pelo ex-ministro Sérgio Motta.
Essa versão foi engavetada pelo
atual ministro.
Segundo o pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da UnB (Universidade de
Brasília) Guilherme Canela Godói, o anteprojeto de Sérgio Motta
previa que as concessões de TV
em posse de um mesmo grupo
empresarial não poderiam abranger mais de 30% das residências
com aparelho de TV.
Estabelecia também limites para propriedade cruzada de meios
de comunicação. Por exemplo:
um grupo não poderia controlar,
na mesma localidade, uma emissora de TV aberta e uma TV a cabo, ou ainda, uma TV aberta e
uma TV paga com sistema de
transmissão por microondas.
A limitação à propriedade cruzada, que preservava os direitos
adquiridos, foi ignorada na versão atual.
O anteprojeto de Pimenta da
Veiga derruba o limite para o número de concessões de TV em poder de um mesmo acionista ou
empresa. O teto atual é de dez
emissoras (cinco em VHF e cinco
em UHF) em todo o país, com o
máximo de duas em um mesmo
Estado. O texto do anteprojeto
permite que um acionista tenha
até uma emissora por localidade,
sem limite estadual ou nacional.
Guilherme Canela aponta outro
dado no anteprojeto que, na avaliação dele, beneficia as grandes
redes de televisão: o poder das
chamadas cabeças-de-rede (geradoras da programação) sobre
suas afiliadas.
Segundo o pesquisador, a versão de Pimenta da Veiga suprimiu quatro artigos do projeto de
Sérgio Motta que limitavam o poder das cabeças-de-rede. Um deles dizia que os contratos não poderiam inibir as afiliadas de recusar programação que julgassem
inconvenientes à sua comunidade
local. Outro proibia a exclusividade de afiliação.
A versão que foi colocada em
consulta pública diz que a relação
entre a cabeça-de-rede e suas afiliadas deverá ser acordada entre
as partes. As redes nacionais de
televisão dizem que ainda estão
analisando o anteprojeto e que só
terão posição sobre ele a partir da
próxima semana. Record, SBT,
Bandeirantes e TV Cultura devem
apresentar uma posição conjunta,
independente da Abert (Associação Brasileira das Emissoras de
Rádio e Televisão). Record e SBT
não fazem parte da Abert, por divergências com a Globo.
As divergências, segundo executivos ouvidos pela Folha, devem-se a conflitos de interesse. O
SBT possui apenas televisão aberta. Bandeirantes e Record têm TV
e rádios, ao passo que a Globo tem
mídia impressa (jornais e revistas), rádios, TV aberta e empreendimentos em telecomunicações,
como acesso à internet em banda
larga, TV a cabo, TV paga por satélite e outros.
Ministério forte
O Ministério das Comunicações
ganha poder político e financeiro
no anteprojeto. Seu caixa será reforçado com 25% da arrecadação
das taxas do Fistel (Fundo de Fiscalização das Telecomunicações).
Segundo a assessoria de Pimenta
da Veiga, o percentual deve corresponder a uma receita anual
aproximada de R$ 100 milhões.
O fundo é controlado hoje pela
Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Mas é no campo político que o ministério sai
mais fortalecido. Ele passa a ter o
poder discricionário de dispensar
a aplicação de regulamentos
quando considerá-la ""injusta, indevidamente onerosa ou contrária ao interesse público". Advogados ouvidos pela Folha disseram
que o artigo abre espaço até para a
intervenção em licitações.
Um dos pontos que aumentam
o poder do ministério é o que dá a
ele o controle sobre as licitações
de rádio e TV, que, segundo o anteprojeto, passarão a seguir exclusivamente a nova lei da radiodifusão, sem ter que obedecer à lei de
licitações públicas.
Segundo o pesquisador da UnB,
o anteprojeto deixa 33 itens importantes pendentes de regulamentação futura, o que amplia
ainda mais o poder do ministério.
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