São Paulo, sexta-feira, 01 de julho de 2005

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"ESCÂNDALO DO MENSALÃO"/ BLINDAGEM

Presidente diz a ministros que não poupará petistas que tenham cometido irregularidades; reforma é anunciada para "logo"

Amigos que erraram vão "sambar", diz Lula

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao dizer ontem a pelo menos oito ministros que concluirá "logo" a reforma do primeiro escalão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desabafou ao comentar a crise política. "Se alguns dos nossos amigos fizeram algo errado, vão sambar. (...) Quem mijou fora do penico, tchau e bênção", disse o presidente, segundo relato de presentes à Folha, em alusão aos petistas acusados de participar do suposto "mensalão".
Os petistas na berlinda são o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o presidente do PT, José Genoino, o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e o secretário-geral da legenda, Silvio Pereira.
Apesar da negativa oficial, Lula já se declarou, nos bastidores, decepcionado com Dirceu e Delúbio. Acha que deu poder demais ao primeiro. E avalia que Delúbio possa ter cometido deslize ao buscar recursos para o PT. Lula disse que foi surpreendido pela notícia de que Delúbio e Marcos Valério, empresário acusado de operar o mensalão, são amigos.
No desabafo, Lula disse que o PT tem "25 anos de história" e que "é nossa a bandeira da luta contra a corrupção". Afirmou que podem ser feitas uma, duas ou três CPIs sobre as acusações de corrupção em seu governo, porque tem a "consciência tranqüila".

Palocci "entrega" o cargo
Numa reunião informal após a cerimônia em que divulgou medidas de combate à corrupção, Lula reuniu ministros para falar de mudanças no primeiro escalão e da crise política. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, chegou a colocar o cargo à disposição, dizendo que sabia falar em nome de todos. "Sabemos que o senhor tem dificuldades e queremos deixá-lo à vontade", disse. Foi mais um jogo de cena. Palocci fica, e cada vez mais forte.
Sobre a reforma, Lula disse que está finalizando entendimentos com o PMDB para fechá-la. Por conta disso, dificilmente fará um anúncio hoje, a não ser que opte por fatiar a reforma. O presidente tem dito que gostaria de anunciar todas as mudanças de uma vez.
A Folha apurou que devem sair os ministros Olívio Dutra (Cidades), Humberto Costa (Saúde), Romero Jucá (Previdência), Eunício Oliveira (Comunicações) e Ricardo Berzoini (Trabalho).
Aldo Rebelo deverá deixar a Coordenação Política por outra pasta -Trabalho ou Esportes. Neste último caso, Agnelo Queiróz, também do PC do B, retornaria à Câmara dos Deputados. O ministro Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) deve ficar com as atribuições de Aldo. Lula já conversou com Ciro Gomes, que disse que prefere continuar na Integração Nacional, pasta que o PMDB já não cobiça tanto. Ciro é opção para Previdência ou Saúde.
Lula disse aos ministros que não quer fazer uma reforma agora e outra em abril, quando expira o prazo de saída de cargo executivo para quem deseja disputar as eleições. Apesar disso, deverá abrir exceções. Devem ficar nos postos os ministros Paulo Bernardo (Planejamento), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Miguel Rosseto (Desenvolvimento Agrário).
Lula quer dar três pastas ao PMDB. A ala governista pede quatro para enfraquecer os oposicionistas. Por ora, a tendência é que Silas Rondeau (Eletronorte), ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP), vá para Minas e Energia. Na bancada de 23 senadores, o nome mais forte hoje para entrar no primeiro escalão é Hélio Costa (MG). O PMDB já disse a Lula que não quer mais a Previdência. O presidente analisa ainda dar um ministério ao PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE).


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