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"ESCÂNDALO DO MENSALÃO"/ BLINDAGEM
Presidente diz a ministros que não poupará petistas que tenham cometido irregularidades; reforma é anunciada para "logo"
Amigos que erraram vão "sambar", diz Lula
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao dizer ontem a pelo menos oito ministros que concluirá "logo"
a reforma do primeiro escalão, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva desabafou ao comentar a crise
política. "Se alguns dos nossos
amigos fizeram algo errado, vão
sambar. (...) Quem mijou fora do
penico, tchau e bênção", disse o
presidente, segundo relato de presentes à Folha, em alusão aos petistas acusados de participar do
suposto "mensalão".
Os petistas na berlinda são o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o presidente do PT, José Genoino, o tesoureiro do partido,
Delúbio Soares, e o secretário-geral da legenda, Silvio Pereira.
Apesar da negativa oficial, Lula
já se declarou, nos bastidores, decepcionado com Dirceu e Delúbio. Acha que deu poder demais
ao primeiro. E avalia que Delúbio
possa ter cometido deslize ao buscar recursos para o PT. Lula disse
que foi surpreendido pela notícia
de que Delúbio e Marcos Valério,
empresário acusado de operar o
mensalão, são amigos.
No desabafo, Lula disse que o
PT tem "25 anos de história" e que
"é nossa a bandeira da luta contra
a corrupção". Afirmou que podem ser feitas uma, duas ou três
CPIs sobre as acusações de corrupção em seu governo, porque
tem a "consciência tranqüila".
Palocci "entrega" o cargo
Numa reunião informal após a
cerimônia em que divulgou medidas de combate à corrupção, Lula
reuniu ministros para falar de
mudanças no primeiro escalão e
da crise política. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho,
chegou a colocar o cargo à disposição, dizendo que sabia falar em
nome de todos. "Sabemos que o
senhor tem dificuldades e queremos deixá-lo à vontade", disse.
Foi mais um jogo de cena. Palocci
fica, e cada vez mais forte.
Sobre a reforma, Lula disse que
está finalizando entendimentos
com o PMDB para fechá-la. Por
conta disso, dificilmente fará um
anúncio hoje, a não ser que opte
por fatiar a reforma. O presidente
tem dito que gostaria de anunciar
todas as mudanças de uma vez.
A Folha apurou que devem sair
os ministros Olívio Dutra (Cidades), Humberto Costa (Saúde),
Romero Jucá (Previdência), Eunício Oliveira (Comunicações) e Ricardo Berzoini (Trabalho).
Aldo Rebelo deverá deixar a
Coordenação Política por outra
pasta -Trabalho ou Esportes.
Neste último caso, Agnelo Queiróz, também do PC do B, retornaria à Câmara dos Deputados. O
ministro Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) deve ficar com as
atribuições de Aldo. Lula já conversou com Ciro Gomes, que disse que prefere continuar na Integração Nacional, pasta que o
PMDB já não cobiça tanto. Ciro é
opção para Previdência ou Saúde.
Lula disse aos ministros que não
quer fazer uma reforma agora e
outra em abril, quando expira o
prazo de saída de cargo executivo
para quem deseja disputar as eleições. Apesar disso, deverá abrir
exceções. Devem ficar nos postos
os ministros Paulo Bernardo (Planejamento), Eduardo Campos
(Ciência e Tecnologia), Patrus
Ananias (Desenvolvimento Social) e Miguel Rosseto (Desenvolvimento Agrário).
Lula quer dar três pastas ao
PMDB. A ala governista pede
quatro para enfraquecer os oposicionistas. Por ora, a tendência é
que Silas Rondeau (Eletronorte),
ligado ao senador José Sarney
(PMDB-AP), vá para Minas e
Energia. Na bancada de 23 senadores, o nome mais forte hoje para entrar no primeiro escalão é
Hélio Costa (MG). O PMDB já
disse a Lula que não quer mais a
Previdência. O presidente analisa
ainda dar um ministério ao PP do
presidente da Câmara, Severino
Cavalcanti (PE).
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