São Paulo, quarta, 1 de julho de 1998

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Dúvida sobre futuro marca comemoração

GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília

O Plano Real completa hoje quatro anos de sucesso no controle da inflação, mas faz seu aniversário mais marcado por ameaças à estabilidade da moeda e dúvidas sobre seu futuro.
Como em 1994, o Real é o principal trunfo da candidatura presidencial de Fernando Henrique Cardoso, favorita na disputa eleitoral deste ano.
A diferença é que agora resta menos tempo para corrigir as fragilidades da economia brasileira. O mercado internacional já não é tão favorável, e, do lado doméstico, crescem as cobranças contra os efeitos colaterais do plano.
Em vez de prosseguir nos esforços para pôr ordem nas contas públicas, o governo dá ênfase em anunciar mais gastos.
Coincidência ou não, este ano eleitoral é o primeiro em que a equipe que vem tocando o Real não fixa metas de equilíbrio entre gastos e despesas do governo.
Outros ajustes importantes ficarão para depois das eleições. Serão necessárias reformas no sistema de impostos, na distribuição de gastos públicos, da legislação trabalhista e mais uma etapa da reforma da Previdência.
Também será preciso, com ou sem mudança da política de câmbio, equilibrar as exportações e as importações para tornar o país menos dependente do capital externo.
São todas medidas polêmicas, que deverão trazer desgaste a seus executores. Ainda que o próximo governo tenha apoio político para levá-las adiante (ou alternativas viáveis), resta a dúvida sobre quanto tempo haverá para pôr a economia nos eixos.
Há quatro anos, a conjuntura internacional encorajava a adoção do Plano Real.
Havia dinheiro de sobra no mercado para cobrir, ao mesmo tempo, o déficit do comércio exterior e os buracos na contabilidade do governo.
Até 1994, era a inflação que se encarregava disso. Bastava adiar os gastos públicos para reduzir seu valor, e o Banco Central desvalorizava a moeda para estimular as exportações e controlar as importações.
Como outros países latino-americanos, o Brasil trocou a inflação pela dependência de capital externo. Essa situação, porém, é necessariamente temporária.
Logo nos primeiros meses do Real, a crise do México mostrou o perigo de depender excessivamente de investimentos externos e lançou dúvidas sobre os programas de estabilização dos países subdesenvolvidos.
No ano passado, a crise financeira da Ásia pôs de novo o mercado internacional em alerta. Neste ano, já houve sustos com as turbulências na Rússia. Agora, teme-se a recessão japonesa e a possibilidade de alta de juros nos Estados Unidos.
O fato de o plano ainda estar em processo de consolidação não impede que os custos trazidos pelo real gerem reclamações crescentes na sociedade.
Controlada a inflação, o próximo item da agenda de qualquer política econômica é o crescimento. Neste ponto, o real tem deixado a desejar.
Pelo cronograma elaborado no início do governo FHC, a economia deveria crescer 5% neste ano. No entanto, uma taxa de 2% será motivo de comemoração.
A consequência mais visível do crescimento medíocre, resultado das fragilidades que não foram corrigidas, é o aumento do desemprego -que, por definição, significa que a economia está operando abaixo de seu potencial.



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