São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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JANIO DE FREITAS

Os colados

A informação mais relevante do novo Datafolha não é a maior subida de Ciro Gomes ou a queda de José Serra, nem a estabilização das posições, que isso já fora captado e confirmado por sucessivas pesquisas semanais do Ibope. O Datafolha veio bem a calhar, com sua sondagem na terça-feira, para avaliar o que chamam de "colar em Fernando Henrique e no governo". No final da semana passada, José Serra resolveu o seu ser ou não ser, e grudou por inteiro.
Houve, primeiro, o almoço com Pedro Malan, de quem Serra divergiu desde o início do governo, com asperezas mútuas. Estranha ocasião, consideradas as leis marqueteiras, para os sorrisos, vídeos e fotos da confraternização. O encontro foi feito quando mais uma vez a política de Pedro Malan começava a desandar, pelas causas e modos que faziam do crítico José Serra uma espécie de governista de oposição. Mesmo em colunas de indisfarçável serrismo, o almoço foi definido como ato de colagem.
No domingo foi aquele show de uso do palácio presidencial para propaganda eleitoral, com Fernando Henrique, Ruth Cardoso, José Serra e Rita Camata dirigindo-se ao eleitorado por intermédio da TV dominical e das primeiras páginas de segunda-feira. O "Globo", que já dera a manchete em que Serra cola em FHC, pôde fazer um jogo de palavras e dar a manchete "FH e d. Ruth colam em Serra".
Colar ou não colar, colar em parte ou descolar em parte, assim se debatiam as correntes sobre o mais conveniente para melhorar a viabilidade da candidatura Serra. Enfim abandonada a prática de grudar em parte, posto o xis na opção colar e acionados os clarins da mídia, veio o Datafolha. José Serra com menos quatro pontos, em relação ao Datafolha anterior.
Por certo os quatro pontos não se foram por causa da colagem total a Fernando Henrique e ao governo. Mas, tanto por eles, como pelo maior crescimento de Ciro Gomes, que abriu dez pontos de vantagem sobre o terceiro, ficou outra vez demonstrada a ineficácia, até agora, da teoria de que a salvação de José Serra está em colar no governo e em Fernando Henrique.
Nas circunstâncias em que foi adotada a proposta de colar por inteiro e diante das declarações ultragovernistas de Serra sobre a crise, o que está passando para o eleitorado é uma inversão grotesca: em vez de apoiado, Serra é que está dando solidariedade e apoio ao governo desnorteado.



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