São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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Apesar de lei de cotas, falta de prioridade dos partidos compromete as campanhas de mulheres

Vida de candidata

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
LIA HAMA
DA REDAÇÃO

Apesar da lei de cotas, que estabelece um percentual mínimo de 30% de mulheres no total das candidaturas dos partidos, a falta de prioridade às candidatas acaba comprometendo as campanhas daquelas que arriscam tentar uma vaga nas Assembléias Legislativas ou na Câmara dos Deputados.
Como em 1998, os partidos estão longe de preencher as cotas, seja para as candidaturas à Câmara ou às Assembléias. As justificativas se repetem nos partidos: falta de interesse das mulheres. Do lado das mulheres: falta de apoio dos partidos às candidaturas.
Os perfis das candidatas são os mais diversos: de "laranjas" a militantes e patricinhas. Independentemente dos perfis, contudo, elas têm em comum a dificuldade para bancar suas campanhas, da produção de santinhos a viagens.
"É algo natural nos partidos: como eles são obrigados pela lei de cotas, buscam "laranjas", mas não ajudam na campanha delas e nem das candidatas com conteúdo", diz Almira Rodrigues, diretora do Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria), grupo que defende os direitos da mulher.
Com a falta de recursos, há quem divida comitês. É o caso da candidata a deputada estadual Deodata do Amaral, que utiliza o mesmo o espaço em Araraquara (SP) que o correligionário do PMDB e candidato a deputado federal Marcelo Barbieri.
"Estou tentando montar um comitê, mas está difícil", diz a candidata a deputada federal pelo PSDB no Mato Grosso do Sul, Maria Inez Bunning, 62. Os santinhos foram pagos por parentes, que também ajudam a distribuir nas ruas. "Viajar é impossível".
No caso de Cláudia Kerber, 40, que tenta a vaga de deputada estadual em São Paulo pelo PT, parte do material gráfico foi obtida com a ajuda de colegas como José Eduardo Cardozo, que concorre a deputado federal. Mas a maior parte da campanha é bancada com recursos próprios. "Me dá aflição ver outros candidatos cheios de faixas e estrutura", diz.

Emily's list
Nos EUA e em mais 20 países, segundo o livro "Mulheres na Política", da cientista política Lúcia Avelar, desde 1985 existe a organização Emily"s list, criada para arrecadar fundos para as campanhas femininas. O nome é abreviação de "dinheiro no começo é como fermento" (early money is like yeast).
Além da questão financeira, as mulheres enfrentam um problema adicional, diz Conceição Nascimento, secretária de mulheres do PT. "A mulher tem de conciliar a política com a vida doméstica. É mais fácil convencê-la a concorrer à vereadora do que à deputada estadual ou federal, que em geral envolvem a mudança de cidade."
Conceição defende o financiamento público de campanha. A opinião é compartilhada por Wilma Motta, presidente do secretariado das mulheres do PSDB. "Enquanto não houver financiamento público, as mulheres vão continuar tendo dificuldades para levar adiante suas campanhas."


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