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Renata Lo Prete
O fator Lembo
NUMA CAMPANHA
carente de atrativos, Cláudio Lembo faz sozinho a alegria
dos mancheteiros. Desde
a entrevista à Folha em
maio, na qual responsabilizou a insensibilidade da
"elite branca" pelo levante do crime organizado
em São Paulo, o governador não parou mais.
Na semana passada,
previu a derrota de Geraldo Alckmin no primeiro
turno presidencial. Anteontem, repreendeu
FHC por criticar Lula.
Quem procura Lembo à
cata de uma declaração
de impacto, em especial
contra os tucanos, não sai
de mãos abanando.
Lembo goza do privilégio de falar o que quer
sem risco de ouvir o que
não quer. Quando reclama do governo federal,
Lula e Márcio Thomaz
Bastos preferem contemporizar, de olho na preservação dessa fonte de
constrangimento para
Alckmin. Este, por sua
vez, tem de engolir seja o
que for, sob pena de potencializar o desgaste.
Há quem interprete a
metralhadora de Lembo
como reação típica de alguém que passou a vida
na condição de número
dois -de Olavo Setúbal
no Banco Itaú, de Marco
Maciel no PFL, de Alckmin no Palácio dos Bandeirantes- e de repente
se viu no centro da cena.
Sua atitude é oposta à
do também pefelista Gilberto Kassab, que herdou
de José Serra a prefeitura
da capital. Para além do
estilo de cada um, o contraste tem explicação
simples: Kassab persegue
um futuro na política, a
começar pela reeleição
em 2008, enquanto Lembo, aos 71 anos, dá sinais
de que não pretende concorrer a mais nada.
Seria ingênuo, porém,
considerá-lo o Chapeleiro Louco da aliança tucano-pefelista. Ainda que o
comando do PFL faça cara de preocupação, é evidente que Lembo vocaliza, além de seu contencioso pessoal com Alckmin, a contrariedade original do partido com essa
candidatura -não por
acaso, Serra é o tucano
mais poupado da língua
ferina do governador.
Lembo é um fenômeno
de mídia, não de público.
Os números do Datafolha
mostram que a avaliação
do governo paulista despencou em seu período.
Talvez esse seja um dos
componentes do estreitamento da vantagem de
Alckmin sobre Lula no
Estado, mas é improvável
que o palpite de Lembo
sobre o placar da eleição
tenha conseguido, sozinho, piorar de maneira
significativa um quadro
já bastante ruim.
O estrago se dá mais no
plano simbólico, a partir
de um raciocínio singelo:
o fato de Alckmin não ter
conseguido "fidelizar"
nem mesmo o vice para
quem deixou a cadeira de
governador lança dúvidas
sérias sobre sua capacidade de agregar quem
quer que seja.
Se o prognóstico de
Lembo se confirmar, o
PFL não veria problema
em devolver Alckmin a
Pindamonhangaba.
RENATA LO PRETE é editora do Painel
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