São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Gastos devem crescer mais do que receita, aponta Orçamento 2007

Segundo projeto, governo federal fará redução do superávit primário, medida inédita desde 1999

Texto confirma tendência qualificada de insustentável pelo Tesouro: despesas aumentam em taxas superiores às das receitas


GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O projeto de Orçamento para 2007 não dá sinais de que o governo Luiz Inácio Lula da Silva pretenda reverter o afrouxamento da política fiscal promovido neste ano eleitoral. Pelo contrário: os números apontam para mais folga nas contas.
Como de praxe, foi previsto um reajuste do salário mínimo equivalente à variação da inflação mais o aumento da renda per capita, o que, em tese, elevaria o valor a R$ 375. Em 2005 e 2006, porém, Lula preferiu a decisão política de conceder reajustes superiores à previsão orçamentária.
No texto enviado ontem ao Congresso, confirma-se a tendência observada neste ano e que já foi qualificada de insustentável pela própria Secretaria do Tesouro Nacional: as despesas crescem em taxas superiores às das receitas, a despeito dos sucessivos aumentos da carga tributária.
Não por acaso, os dados apontam para uma redução do superávit primário (a economia destinada a abater os juros da dívida pública), inédita desde 1999, quando foi iniciado o programa de ajuste fiscal. Na prática, o governo federal fará um superávit inferior à sua meta de 2,45% do PIB (Produto Interno Bruto).
Documento distribuído ontem pelo Ministério do Planejamento mostra que, neste ano e no próximo, a área econômica usará uma brecha negociada com o Fundo Monetário Internacional para contabilizar parte de seus investimentos como superávit primário, chamada PPI (Projeto Piloto de Investimentos). Pelas novas previsões oficiais, o superávit efetivo deste ano será de 2,31% do PIB, e o de 2007, de 2,25% do produto. A meta só é cumprida com a contabilização dos gastos com o PPI, que sobem, de um ano para o outro, de R$ 3 bilhões para R$ 4,6 bilhões.
Embora não haja nada de irregular no uso do PPI para reduzir o superávit, a equipe econômica ainda não admitiu oficialmente a intenção de fazer uso desse expediente. Em 2005, sem usar a brecha negociada com o FMI, o governo federal fez um superávit de 2,88% do PIB.
O governo responde pela maior parte da meta nacional de superávit primário, de 4,25% do PIB. As estatais federais entram com 0,7%, e os Estados e municípios, com 1,1%.
Com a queda no superávit primário, faltarão R$ 70,7 bilhões para cobrir as despesas federais com juros esperadas para o próximo ano, um déficit de 3,07% do PIB.

Mais despesas e impostos
Desde o início do ano, o governo tem rebatido acusações de que promove "farra fiscal" nas eleições com o argumento de que a meta de superávit primário não corre risco. Omite-se, porém, que, com o crescimento constante das despesas, o superávit só pode ser obtido com mais carga tributária.
No Orçamento de 2007, sobem até mesmo as despesas permanentes que o Planejamento e a Fazenda haviam prometido reduzir em 0,1 ponto percentual do PIB. Aumentam também, os investimentos, os gastos com pessoal e o déficit do INSS. O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) recorreu a uma formalidade para justificar o descumprimento da promessa de reduzir as despesas permanentes -segundo ele, a regra, em tramitação no Congresso, foi alterada pelos parlamentares, dando margem a dúvidas de interpretação.


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