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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Gastos devem crescer mais do que receita, aponta Orçamento 2007
Segundo projeto, governo federal fará redução do superávit primário, medida inédita desde 1999
Texto confirma tendência qualificada de insustentável pelo Tesouro: despesas aumentam em taxas superiores às das receitas
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O projeto de Orçamento para
2007 não dá sinais de que o governo Luiz Inácio Lula da Silva
pretenda reverter o afrouxamento da política fiscal promovido neste ano eleitoral. Pelo
contrário: os números apontam para mais folga nas contas.
Como de praxe, foi previsto
um reajuste do salário mínimo
equivalente à variação da inflação mais o aumento da renda
per capita, o que, em tese, elevaria o valor a R$ 375. Em 2005
e 2006, porém, Lula preferiu a
decisão política de conceder
reajustes superiores à previsão
orçamentária.
No texto enviado ontem ao
Congresso, confirma-se a tendência observada neste ano e
que já foi qualificada de insustentável pela própria Secretaria do Tesouro Nacional: as
despesas crescem em taxas superiores às das receitas, a despeito dos sucessivos aumentos
da carga tributária.
Não por acaso, os dados
apontam para uma redução do
superávit primário (a economia destinada a abater os juros
da dívida pública), inédita desde 1999, quando foi iniciado o
programa de ajuste fiscal. Na
prática, o governo federal fará
um superávit inferior à sua meta de 2,45% do PIB (Produto
Interno Bruto).
Documento distribuído ontem pelo Ministério do Planejamento mostra que, neste ano
e no próximo, a área econômica
usará uma brecha negociada
com o Fundo Monetário Internacional para contabilizar parte de seus investimentos como
superávit primário, chamada
PPI (Projeto Piloto de Investimentos). Pelas novas previsões
oficiais, o superávit efetivo deste ano será de 2,31% do PIB, e o
de 2007, de 2,25% do produto.
A meta só é cumprida com a
contabilização dos gastos com
o PPI, que sobem, de um ano
para o outro, de R$ 3 bilhões
para R$ 4,6 bilhões.
Embora não haja nada de irregular no uso do PPI para reduzir o superávit, a equipe econômica ainda não admitiu oficialmente a intenção de fazer
uso desse expediente. Em
2005, sem usar a brecha negociada com o FMI, o governo federal fez um superávit de
2,88% do PIB.
O governo responde pela
maior parte da meta nacional
de superávit primário, de
4,25% do PIB. As estatais federais entram com 0,7%, e os Estados e municípios, com 1,1%.
Com a queda no superávit
primário, faltarão R$ 70,7 bilhões para cobrir as despesas
federais com juros esperadas
para o próximo ano, um déficit
de 3,07% do PIB.
Mais despesas e impostos
Desde o início do ano, o governo tem rebatido acusações
de que promove "farra fiscal"
nas eleições com o argumento
de que a meta de superávit primário não corre risco. Omite-se, porém, que, com o crescimento constante das despesas,
o superávit só pode ser obtido
com mais carga tributária.
No Orçamento de 2007, sobem até mesmo as despesas
permanentes que o Planejamento e a Fazenda haviam prometido reduzir em 0,1 ponto
percentual do PIB. Aumentam
também, os investimentos, os
gastos com pessoal e o déficit
do INSS. O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) recorreu a uma formalidade para
justificar o descumprimento da
promessa de reduzir as despesas permanentes -segundo
ele, a regra, em tramitação no
Congresso, foi alterada pelos
parlamentares, dando margem
a dúvidas de interpretação.
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